
E a pedido de várias famílias...
Alexander Skarsgard
yum.
Um blog pós-moderno e pós-feminista, ou breves reflexões frutos de um mau-feitio.



Andava já há algum tempo a equacionar um texto sobre a maneira como nós as mulheres somos vistas pelos homens, mas foi um artigo como este http://http//www.rooshv.com/the-1-10-scale (havia outro ainda mais detalhado, mas foi retirado por ter provocado uma grande polémica nos Estados Unidos devido ao seu conteúdo um tudo-nada sexista) que serviu de catalisador. Só quando vi a escala preto no branco é que me capacitei de que a vida era mesmo assim e que, consciente ou inconscientemente, todos os homens trazem na cabeça uma escalazinha porque somos avaliadas e desejadas ou rejeitadas como potenciais parceiras sexuais.
já que sentir é primeiro
quem presta alguma atenção
à sintaxe das coisas
nunca há-de beijar-te por inteiro;
por inteiro ensandecer
enquanto a Primavera está no mundo
o meu sangue aprova,
e beijos são melhor fado
que sabedoria
senhora eu juro por toda a flor. Não chores
- o melhor movimento do meu cérebro vale menos que
o teu palpitar de pálpebras que diz
somos um para o outro: então
ri, reclinada nos meus braços
que a vida não é um parágrafo
E a morte julgo nenhum parêntesis
e.e.cummings
A minha amiga S. diz que nós estamos na idade ideal. Aos trintas, e em termos de homens, tanto dá irmos dez anos para a frente como dez anos para trás que não faz diferença nenhuma. Eu compreendo-lhe perfeitamente o ponto de vista, apesar de considerar que este ponto de vista nos mete em alguns sarilhos, mas já explico.
Não é que eu ande activamente à procura de motivos para dizer que os homens são exactamente aquilo que sempre acreditei que eram, de modo nenhum. Sou uma criatura optimista e acredito, no geral, na humanidade. Há boas pessoas, há más pessoas, há de tudo. Claro que depois acontece algo que me elimina o bom humor e o optimismo e sou obrigada a voltar à minha ideia original: os homens, no geral, não valem o chão que pisam.
Não há muita gente que perceba porque motivo é este um dos filmes da minha vida. No geral não o refiro, guardando para mim a preferência. Já sou mal compreendida que chegue por aí para não alimentar mais bocas de como sou esquisita. Mas na realidade este Crying game ecoa mesmo com qualquer coisa de muito intimo, de muito pessoal, ecoa com aquilo que acredito sobre a vida e a natureza do amor. 

Sempre acreditei que belo, que o bom se devia medir não pelo que os outros dizem, por listas e regras mas pelo que gostamos as coisas, pela capacidade que estas têm de nos tocar. Para mim, e de acordo com esta lógica, é-me muito difícil classificar este filme, pelo motivo que estava um caco emocional lá pelo fim.
A minha mana Su, provando-me que as grandes mentes pensam de forma semelhante e que há pessoas que, inconscientemente, sabem sempre do que aquelas de quem gostam precisam, forneceu-me o título para este texto sob a forma da sugestão musical da Paloma Faith (a propósito, adorei o retro dela, adorei, adorei,adorei, pronto). Queria escrever, desde que vi esta foto fabulosa da Gabourey Sidibe na capa da revista V, a propósito de como a beleza e a verdade poucas vezes se encontrem.
Na aristocracia do virar do século XIX só um nome era murmurado com reverência: Charles Worth. A casa Worth, que começou na segunda metade do século XIX em Paris é geralmente considerada a primeira casa de moda como as conhecemos hoje, com passagens de modelos e liderada por um homem. Mas não é o facto de ser o primeiro homem a ter uma casa de moda com grandes dimensões que o distingue, mas a sua forma de pensar e trabalhar. Reza a lenda que uma mulher entrava na casa Worth e dizia o que precisava ou queria, por exemplo, um vestido de passeio, um vestido de baile (a aristocracia nessa altura tinha códigos de vestuário muito rígidos, chegando a usar seis ou sete toilettes diferentes num dia). A partir daí, o costureiro analisava a cliente, o seu estilo, o seu corpo, o seu estilo pessoal e criava para ela aquilo que a favorecesse e, infalivelmente, as mulheres amavam de paixão os vestidos que conseguiam, eram, dizem muitos relatos, os mais confortáveis, mais maravilhosos vestidos que tinham já alguma vez comprado. 
Cresci a ouvir Roberto Carlos. Havia espalhadas lá por casa e pela casa dos meus avós uma data de cassetes e uns poucos de discos, a consequência natural de serem casas de muitas mulheres, e todas novinhas, nos vintes, já que as minhas tias têm cerca de dois anos entre cada uma, como se fosse um relojinho.
Entre aquilo que sabemos e aquilo que sentimos há mais coisas, como dizia Hamlet, que abarca a nossa vã filosofia. Entre aquilo que somos e aquilo que nos apercebemos há desfiladeiros de incertezas e ambiguidades não facilmente resolúveis, embrulhadas nos nossos estômagos, a ferir a nossa autoestima. Conhecem aquela velha pergunta do se uma árvore cai na floresta e ninguém está lá para ver faz ruído ou não? Nós as mulheres temos uma pergunta bizantina- e contudo tão chata de lidar- dessas: se não nos desejam continuamos a ser desejáveis? Não sei.