sábado, janeiro 09, 2010

The pursuit of happiness


Meti-me numa zaragata na universidade acerca deste assunto, isto circa 1995, e já nessa altura levei com a boca de um colega que, sem argumentos, me disse que nenhum homem aturaria uma feminista como eu. Discutia-se a hipótese do alargar a adopção a mulheres e homens solteiros e a casais gay e eu defendia a tese que sim senhor, devia ser permitido porque afinal, as crianças precisam é de quem goste delas e lhes dê colo, independentemente das preferências sexuais que esse dador de colo tenha. Agora, talvez uns quinze anos mais tarde, supostamente numa altura supostamente mais civilizada e esclarecida que os anos 90 neste cantinho à beira-mar plantado, dei por mim a ter a mesma discussão com mais ou menos os mesmos resultados. O tema era, como devem ter deduzido, casamento gay e possibilidade de adopção por parte destes casais.
Exaltei-me, confesso, desiludi-me também, por ver que gente que gosto pode ter ideias de que, por exemplo, a homossexualidade é uma doença mental ou que as crianças ficam irremediavelmente traumatizadas por terem dois pais ou duas mães. Como se não houvesse coisas piores que acontecem às crianças no seio de casais heterossexuais, como se não houvesse centenas,milhares de crianças a precisar de colo nas instituições, como se todos os casais heterossexuais se unissem por amor puro e sagrado e as relações funcionassem sem qualquer tipo de problema. Mas com o decorrer da conversa fiquei ainda mais triste por perceber que este preconceito era apenas parte de um maior, mas impronunciado: que o amor e a felicidade é só para os novos, os bonitos, os estilosos e os magros.
Temos, na nossa cultura, uma ideia geral daquilo que um casal deve ser, a média estatística, o arquétipo: ele é mais alto e mais velho, ela baixa, mais frágil, mais nova, espera que ele a guie e a proteja. São os dois jovens e tonificados, os seus corpos perfeitos fazem um casal como a cama do filho urso não é demasiado duro, nem mole, simplesmente perfeito. Tudo o que reside fora deste arquétipo está errado e não tem direito à existência.
Há lojas em que mal entro e onde raramente compro seja o que for, nem que seja presente, porque não reconhecem a minha existência, lojas como a Zara, ou a Mango, que fazem o 44 com sorte e já a chamar badochas imperdoáveis às que ousam usar esse número. As que o ultrapassam, então, devem é ir vestir-se à secção de campismo ou de cortinados. Como podem imaginar, essa atitude irrita-me profundamente, pelo que não gasto lá nem um dos meus esforçados cêntimos. Com gente que não me reconhece o direito à felicidade também não perco o meu tempo. É que sabem, com o meu peso, a minha altura, não encaixo no estereótipo, e verem-me, digamos, com um homem mais baixo ou mais magro de mão dada só provoca comentários marginalmente menos jocosos que os que provoca um casal gay. é triste, é errado, mas é mesmo assim.
De modos que me bati a minha vida inteira, que me continuo a bater pelo direito de todas as pessoas da procura da felicidade. Independentemente da sua cor, raça, feitio ou orientação sexual Se isso fez, faz ainda, com que ouça bocas parvas é irrelevante. Devemos erguer a voz e não ficar calados quando menosprezam as nossas opiniões.
Já lhes disse que estou orgulhosa este governo por ter aprovado esta lei? Estou mesmo. Mas nisto e só nisto, sim?

8 comentários:

Paulo Saraiva. disse...

Passionaria
Sabes a minha opinião....
Nada de exaltações!

jacklyn disse...

Parabéns pelo blog, muito bom!
Concordo em tudo, a preocupação fundamental têm de ser as crianças e não se os "pais" encaixam no estereótipo, que como todos, só servem para descriminar e diminuir todos os fiquem fora dele. E sim, não nos calemos, nunca!
Beijinhos

Anónimo disse...

A caravana passa e os caes ladram. Enquanto houver passionarios que levantem a voz, a coisas vao- devarinho, mas vao.
Beijo

Su

elisa disse...

Eu defendo com unhas e dentes tudo o que aqui escreveste, e se for preciso exaltar-se, exaltemo-nos porque acredito no nosso direito à indignação perante a intolerância.
E temos direito a indignar-nos quando temos perante nós pessoas que não reconsideram a sua opinião por preconceito ou simples comodismo social.
Beijons de bom ano novo:)

Anónimo disse...

Subscrevo e assino por baixo!Bjos, continua a escrever e a defender aquilo em que acreditas! Bjos, NÔ

Passionária disse...

Bomdia: nem sempre conseguimos ficar de sangue-frio. E de qualquer forma, tenho um mau-feitio terrível, não sabias? Pergunta a qualquer um, lol ;)

jacklyn: Obrigada pela visita. De facto, aquilo que mais me aborrece é o tornarem o amor que estes casais têm para dar a uma criança numa coisa suja e perigosa. Eu acredito que há todo tipo de famílias para além da nuclear, e que o facto de serem diferentes não as torna inferiores, ou a evitar.

Su, miga, e já se chegou tão longe... Tu sabes como sempre fui desbocada a falar daquilo em que acredito. Beijocas, calculo que já estejas na civilização, não?

Elisa: o termo é perfeito, é mesmo isso, comodismo social, nnunca tinha pensado nisso mas isso descreve exactamente a atitude mental de muita gente que conheço, que não muda de ideias por comodismo social. E como me disseram já, em conselhos de amigo(a) ao longo destes anos, "não os defendas tanto que ainda pensam que és lésbica, e vê só que mal que parece". Ufa, como se fosse impensável alguém minimamente hetero ver outros pontos de vista.

Nô, miga, que bom tanto apoio por parte das minhas amigas, eu sabia que por algum motivo me dava com vocês ;)

Anónimo disse...

Amiga, civilizacao aqui e um castelo de cartas pronto a ruir sob o peso de ums miseros flocos de neve. Valha-nos o doce de tomate que esta de tras de orelha.

Su

Anónimo disse...

Minha cara amiga é certo e sabido que vivemos num mundo carregado de preconceitos e falsas vergonhas. As pessoa querem ser felizes mas incomoda-as grandemente a felicidade dos outros. É como se a infelicidade de cada um fosse incompativel com a felicidade alheia. Não são capazes de ver a felicidade dos outros com bons olhos e colocam defeitos em tudo o que foge aos seus padrões. O que é diferente incomoda e quando se abrem portas para a aceitação da diferença surge a maldicência como último reduto da tacanhez e da mediocridade.

Até logo!