segunda-feira, março 08, 2010

Do you want the truth or something beautiful?

A minha mana Su, provando-me que as grandes mentes pensam de forma semelhante e que há pessoas que, inconscientemente, sabem sempre do que aquelas de quem gostam precisam, forneceu-me o título para este texto sob a forma da sugestão musical da Paloma Faith (a propósito, adorei o retro dela, adorei, adorei,adorei, pronto). Queria escrever, desde que vi esta foto fabulosa da Gabourey Sidibe na capa da revista V, a propósito de como a beleza e a verdade poucas vezes se encontrem.
No site de onde retirei a foto havia dezenas e dezenas de comentários negativos sobre ela, muitas de homens, que achavam que alguém daquele tamanho devia estar longe, muito longe dos seus olhinhos sensíveis com calibrador 36, mas outras de mulheres furiosas mais com a perspectiva da foto que propriamente com o alvo do retrato. Segundo muitas o ângulo devia ter sido outro, um que disfarçasse o pescoço e o alongasse. É que uma das regras não-escritas da condição feminina é simples: é nossa obrigação parecermos o mais giras possível, mesmo recorrendo a truques de câmara e ângulos favorecedores.
Que o pescoço seja como é mostrado como efectivamente é mostrado é irrelevante. A verdade é de somenos importância nestas coisas da beleza. Contam mais coisas como determinação cega em ser-se gira. A beleza é, a maior arte vezes, e tal como uma boa fotografia, uma questão de luzes e persectiva, enquadramento e ângulo. A beleza não sai, igualmente, de dentro de nós, mas de caixas de tinta ara cabelo, boiões de creme, tubos de maquilhagem e rituais bizarros que frequentemente englobam pormos mascaras de cores estranhas e com ingredientes pouco ortodoxos na cara. Fica giro o resultado final, mas por mais verossímel que este seja, este não é propriamente a verdade do que somos.
Não depreendam, no entanto, por mais que sempre, mas sempre defenda a verdade, que sou radical nisto de beleza vs a verdade. Afinal, isso implicaria, por exemplo, deixar as nossas sobrancelhas à sua natural condição de monosobrancelha, look que, muito francamente, dispenso. É só que, no mundo actual, em que nada de nós é inalterável, a verdade é muito difícil de vislumbrar. A verdade de quem somos está enterrada em montes de embalagens de extensões, montanhas de unhas postiças, mares de silicone, desfildeiros de auto-bronzeador, oceanos de tinta para o cabelo. E há uma diferença muito grande entre uma mentirinha inofensiva, como a de arranjar as sobrancelhas (de modo a parecer ter duas e não um arco do triunfo na testa) e uma peta de tamanho gigantesco como a da Heidi Montag, uma starlett americana que, aos 23 anos fez dez operações plásticas de uma só vez, isto a somar às duas já feitas antes desta idade, uma ao nariz e outra aos seios.
Voltando à Gabourey Sidibe e à relação entre verdade e beleza. Esta rapariga parece, por oposição à citada acima, muito mais próxima da verdade. Também está mais afastada dos padrões de beleza, mas não se podem fazer omeletes sem quebrar ovos. Claro que se nos perguntarem se preferimos ser bonitas ou ser agradáveis à vista, a nossa feia interior é que vai à vida. E esta dicotomia depressa se esvazia de significado. Não poderíamos nós, juntar à perspectiva e ângulo nos quais somos belos um terceiro parâmetro, o da confiança? Porque acreditem, a confiança permite-nos ser mais verdadeiras connosco próprias e dispensar muitas destas coisas (todas não, lembrem-se da monosobrancelha, que só ficava bem à Frida Khalo), mas a maior parte sim. E assim a verdade e a beleza terão um lindo encontro, como na foto da Gabourey Sidibe, que está fabulosa.



1 comentário:

Anónimo disse...

Torna-se indispensavel citar o Jack Nicholson no "A few good men". "You want the truth? You can't handle the truth!"

Jinhos


Su