terça-feira, março 09, 2010

Glitter in the air

Sempre acreditei que belo, que o bom se devia medir não pelo que os outros dizem, por listas e regras mas pelo que gostamos as coisas, pela capacidade que estas têm de nos tocar. Para mim, e de acordo com esta lógica, é-me muito difícil classificar este filme, pelo motivo que estava um caco emocional lá pelo fim.
Dizer que gostei é um tanto ou quanto redutor, no sentido que basicamente teve o mesmo impacto emocional que um murro no estômago, um abanarem-nos pelos ombros até chocalhar. Se considerarmos que, geralmente, sou um tantinho nada cabra, um filme tocar-me para lá da armadura é um feito e tanto.
Escrevi aqui há tempos, que, com o tempo, perdíamos os olhos abertos de maravilhamento perante o amor. Não sei se estou certa. Acho que, por mais que vivamos, por mais sábios, mais adultos, mais cínicos que sejamos, nunca deixaremos de ser vulneráveis ao impacto do amor em nós, sempre novo, sempre capaz de nos dar nós no estômago, de nos atar a língua, de nos reduzir a uma papa informe de nervos e ânsia e esperança e insegurança e vontade.
Nunca, por mais que tempos e desgostos passem, conseguimos deixar de desejar que uma hora dure e dure para sempre, esticando todas as leis da física até ao infinito, não deixamos nunca de tropeçar e mergulhar de cabeça na intimidade partilhada de risos e silêncios e gestos e olhares onde existimos inteiros, melhores que nós mesmos sozinhos na nossa concha de sabedoria. Haverá sempre, antes de ser noite, aquele momento em que é crepúsculo e a luz é dourada e o amor vive, apesar de sabermos como dói, para sempre, uma fénix dourada, renascida das cinzas e para lá do medo.

6 comentários:

Anónimo disse...

"Escrevi aqui há tempos, que, com o tempo, perdíamos os olhos abertos de maravilhamento perante o amor. Não sei se estou certa. Acho que, por mais que vivamos, (...) nunca deixaremos de ser vulneráveis ao impacto do amor em nós (...)"
Resposta cínica: isso só depende da maneira como te contam a mesma história. Ou, mudam as moscas mas o monte é sempre o mesmo.

(Channeling my inner bitch)
Jinhos
Su

Passionária disse...

No fear, Su, tive a serendipity de ter perdido o medo. Seja qual for a resposta à permissa que coloqueim já não tenho medo dela. Sobreviverei a qualquer cenário.

i.
(A canalizar aGloria Gaynor que há em mim)

Jinhos, sempre.

Patricia Almeida Alves disse...

Ama como se não houvesse amanhã! Não deixes nada para depois... não cries muitas expectativas sobre o futuro...
Deixa-te levar pela "onda" deste sentimento tão contraditório, mas tão puro e belo...
E acima de tudo, aprende a amar-te e a perdoar-te a ti mesma!
Acredita que tudo, mesmo a dor de um amor perdido, será mais fácil de entender... e de sobreviver...
São esses pequenos senãos do tal "amor" que nos dão força para continuar a acreditar que a nossa vez vai chegar...
Sim, já me senti assim... e superei... como tu sabes!
Hoje, amo e sei que sou amada... mas nem sempre foi assim...apenas deixei o tempo tomar conta de mim... e esperei... já viste o que encontrei!? Loool
Love & kisses,
P*

TIN disse...

Ois,
Uma sucessão de acasos e de incertezas do par manteve-os afastados, mas não divergentes, por dez anos: não foi em Viena nem em Nova Iorque mas na cidade mais cutsy do mundo que re-imergimos na sua vida a dois, com uma intimidade que chega a incomodar.

Mesmo que na TV de hoje vendam a realidade como bem precioso, o valor maior do Before Sunset está, além do realismo, na honestidade revelada pelos dois, uma honestidade que só temos com quem amamos e com quem achamos que temos de nos justificar dos nossos erros mas que é o preço da retribuição.

O filme também me incomodou - tem o poder emocional do Closer mas num ambiente completamente diverso, onde eles nunca se beijam, mal se tocam e pouco se conhecem. Mas eles viveram, afinal, nove anos para aqueles noventa minutos.

Afinal, o amor é mesmo um lugar estranho - este filme é, porém, a garantia de que há um prémio se nos fizermos à estrada e as incertezas e acasos da vida não nos desviarem.

*s TIN

Anónimo disse...

We're off to see the wizard, the wonderful wizard of Oz...
A estrada é de tijolos amerelos que é para todos a verem bem. O que falta é coragem para a seguir. Mas o que era mesmo que o Tin Man ia pedir ao feiticeiro? Não era um coração?
O amor não é nada estranho. É claro e simples como a água. Só é necessário coragem para seguir o raio da estrada. Ninguém- mesmo ninguém- vive de 90 minutos em Paris a cada dez anos. Isso é só um spin giro e romantico para personagens de filmes que acabam com os créditos finais do filme. As oportunidades criam-se, procuram-se, exigem-se. Tudo mais é cobardia.
We're off to see the wizard, the wonderful wizard of Oz...

elisa disse...

Foi o primeiro filme que fui ver ao cinema sozinha.
E murro no estômago foi exactamente o que senti. Ainda que tenha a lágrima fácil, não me lembro de ter sentido tanta identificação com um filme: Lembrei-me de mim e do filme nove anos antes e de reconhecer o cinismo dos meus trinta anos em antes do anoitecer.