segunda-feira, abril 19, 2010

Mr. Right Now



Quando a minha professora de Filosofia, Maria Manuel falou acerca das etapas de desenvolvimento das crianças e referiu e o último era atingido em diferentes graus, e às vezes quase nem o era é que se cimentou em mim a certeza de que o mundo era definitivamente injusto. Quer dizer, já outras coisas, como o facto de os meninos poderem fazer chichi de pé e as meninas não me tinha feito desconfiar, mas esta era a primeira prova concreta que o mundo não tinha sido feito para ser igual. Era biologicamente injusto, cognitivamente injusto, anatomicamente injusto. Nem sequer era uma questão de mentalidades e de sociedade que, com o tempo, pudessem ser alteradas. Não, era injusto até ao nível microscópico, até à célula e à informação constante no seu núcleo e sobre a qual não tínhamos controlo.
Este pensamento deprimente só foi confirmado por outros conhecimentos. A geografia ensinou-me que até para nascer havia a regra de ouro do imobiliário: location, location, location. 5o km para a frente ou para trás e já a coisa corria mal. A matemática esinou-me a maldição a estatística: todas as estatísticas estão basicamente contra a gente, sobretudo as da população. Somos seis biliões de almas no terceiro calhau a contar do sol e no geral, podemos esperar que as coisas correm mal. A literatura e a história foram outro balde de água fria: as relações humanas são frágeis e vazias e a vida humana não dura mais que um segundo ( obrigadinha por essa, Vergílio Ferreira).
Todo este manancial de informação acerca das injustiças da vida veio confirmar duas coisas: não só, como diz a lei de Murphy, o que pode correr mal, corre, como ser feliz é basicamente uma possibilidade remota.
Na infância vendem-nos histórias com finais felizes, na adolescência, e depois mais ainda na vida adulta levamos com o balde de água fria da realidade: life sucks. Claro que há excepções, mas neste contexto temos de encarar a verdade: em seis biliões (e picos) de alminhas, como vamos nós encontrar o Mr. Right?
Esta coisa do Sr. Certo sempre me despertou algum cepticismo: mesmo que exista, como é que isto funciona? Vamos que o nosso Sr. Certo vive, por exemplo, numa remota aldeia da Noruega, da Tanzânia, da Nova Zelândia, do Peru. Conspirará o cosmos para nos juntar? Haverá a garantia cósmica de que está na nossa área geográfica e cultural? Fará parte das regras cósmicas ser da nossa cultura, ou da nossa cor, ou do nosso estrato social ou qualquer outra característica que achemos absolutamente indispensável para amar? Não sei se estão a ver que num universo tão injusto me parece que a vida vir com garantias é utopia, e regras dessas tão estritas ainda o são mais.
Neste contexto uma rapariga tem de se perguntar: valerá a pena esperar por ele? Será o Senhor perfeito como a linha do horizonte, uma utopia? Não será melhor olhar à nossa volta e ver o que há, aceitando o facto de o mundo ser essencialmente feito de compromissos e impossibilidades estatísticas? Os meus sentimentos são ambíguos em relação a isto.
Tento conduzir a minha vida de forma realista e pragmática. Aquilo que, no geral, me torna naquilo a que a minha mãe me chama de Nossa Senhora dos Aflitos é esta minha tendência de olhar para a vida sem grandes floreados, mantendo-me (muitas vezes, mas não todas, e quando falho é de forma espectacular) racional e analítica. Por esse motivo aceito e compreendo que esta coisa do Sr. Certo é uma conspiração de Hollywood para vender mais bilhetes ( senão comparem a base de fãs do Bergman com a das comédias românticas da Meg Ryan e depois digam-me qualquer coisinha). Mas optar pelo Sr. Já que aí estás, serves, ou pelo Sr. Para quem é bacalhau basta, ou pelo Sr. Tudo menos ficar sozinha parece-me uma perspectiva deprimente. Dizia o Pessoa que sem o sonho nada mais somos que cadáveres adiados que procriam. Deveremos abdicar do sonho do Mr. Perfect? Pois não sei.
Aquilo que me parece, da minha experiência, é que NIM. A única vez que tive uma relação baseada nesse pragmatismo, de que a vida é injusta e estamos todos abraçados contra a morte ( obrigada por essa, Alexandre O'Neill) a coisa foi um bocado catastrófica. A malta admirava-se e respeitava-se mutuamente, mas faltava ali qualquer ingrediente essencial para fazer o casal mais que a soma simples das partes. Também é verdade que era muito nova e impressionável e por isso os resultados dessa experiência podem não ser cientificamente válidos. Isto para já não falar que cada caso é um caso.
Assim sendo, o que fazer a este respeito de esperar o Sr. Perfeito ou olhar melhor para o Sr. Estou por aqui agora? Manter o espírito aberto, suponho.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ora bem...
Postulado número um: há uma única coisa na certa na vida- que é a morte.
Postulado número dois:a ciência provou- tudo é relativo e tudo se modifica. Não há permanência absoluta.
Premissa: esquece as regras, esquece o Mr Right porque só existe o Mr Right Now. Com um cadinho de sorte, pode ser que isso se prolongue por muitos e bons.
E no entanto, lembra«te que a Lei de Murphy esté bem de saúde e mora mesmo ao lado.


A tua

Su

Passionária disse...

Estou de férias amiga, eu estou de férias e sem data para regresso...