sexta-feira, setembro 26, 2008

segunda-feira, setembro 22, 2008

A teoria da tarte de mirtilos


No último filme do meu realizador favorito, Wong Kar Wei, My Blueberry Nights (em português tem o nome, se não estou em erro, de o sabor do amor) , encontrei uma teoria muito interessante nisto de relações, a teoria da tarte de mirtilos. E olhem que é uma teoria sábia e útil. Eu já explico.
Ora acontece que uma das personagens trabalha num café. Nesse café havia uma variedade enorme de tartes e bolos. Ora, chegado o fim do dia, tartes como a de chocolate e de pêssego há já muito tinham desaparecido. Outras estavam a meio, ou sobravam uma ou duas fatias. A de mirtilo continuava intacta. Porquê? E aí sim, reside o centro da teoria, porque não calhava. Não se devia atribuir a culpa à tarte, em si perfeitamente aceitável e bem confeccionada. Calhava era não ter aparecido ninguém a quem pudesse apetecer. Elizabeth , a protagonista do filme, pergunta então ao dono do café porque a continuava a fazer, dia após dia, se não se vendia. E ele respondeu que um dia poderia acontecer alguém querer. E pronto.
Aplicar o conhecimento de tartes às pessoas, que aliás, era o que eles estavam a fazer de forma clara, não é nada difícil. Como a nossa sabedoria popular diz que há uma clara diferença entre cair em graça e ser engraçado, também a há em ser amável e ser amado. E muitas horas de frustração e depressão cabem nessa diferença, oh se cabem. Aquilo que se pode , deve fazer, como à tarte de mirtilos, é aguentar estoicamente e sem amarguras, sem perder a esperança. Não é a vida, tal como a apetência por bolos, aleatória e cheia de acasos?
Digamos que, na vida, são uma tarte de chocolate: bom aspecto, muita saída. Deve dar-lhes isso uma sensação de auto-importância? Nem por isso. Há resmas de gente alérgica a chocolate. Experimentem pôr uma numa comunidade de diabéticos e alérgicos para ver a saída que têm. O bom aspecto , nos bolos como nas pessoas é uma questão de sorte e artifício. Umas natas batidas, como uma maquilhagem ardilosa esconde muitos defeitos. Agora se forem uma tarte de mirtilos, que é massa por fora, sem grande graça, dependem de um recheio saboroso e interessante. E, claro, de gosto pessoal.
Há pessoas de que se gosta logo. Outras, como as tartes de mirtilo, são gostos adquiridos. É preciso sair do habitual para se gostar. Experimentar e conhecer, crescer nas nossas papilas gustativas e nos nossos corações. Nem sempre o fazem, mas quando o fazem, acaba por valer a pena. Digo eu, que sempre gostei de mirtilos, em tarte ou fora dela.
De modos que os dramas que vivemos muitas vezes com a rejeição devem ser vistos da perspectiva da arte: não há nada errado connosco. Não apareceu é ainda aquela pessoa que não pode viver sem mirtilos.

quinta-feira, setembro 18, 2008

A estatística silenciosa




Após aquela obscenidade da morte em directo no BES, os noticiários estão cheios de crimes violentos: assaltos aqui, carjacking ali, tiros, sangue e facadas. Os políticos apanham-lhe a onda e começam a clamar por tudo e mais alguma coisa, que emigrantes para cá, penas pesadas para lá, controlo de armas por além. Não estão errados, mas são omissos. E, de acordo com o credo católico, que estes pilares de direita dizem ser, a omissão é igualmente um pecado. Sabem qual é a criminalidade que mais mortos, de longe, causou este ano? A violência doméstica. Claro que isso não dá votos, ou tantos votos como pegar na bandeira da criminalidade. Jogar com os medos das pessoas resulta sempre num ou outro voto, jogar com consciências pesadas não.
A Espanha, nossa vizinha, há muito tempo já que luta com este problema. Estatisticamente, o número de mulheres assassinadas por violência doméstica é superior ao nosso, mas também a população é mais numerosa. Feitas as devidas proporcionalidades, acabamos por ter números muito semelhantes. A questão é que, onde os nossos vizinhos agem, com campanhas de consciencialização constantes e programas específicos, nós preferimos calar. Resulta politicamente mais proveitoso bater noutros ceguinhos, como os professores, essa súcia de malfeitores, os funcionários públicos, esses facínoras, ou as pessoas que vêm de bairros problemáticos, que por feliz coincidência são de nacionalidade ou etnia diferente da nossa: a culpa tem de ser de alguém em específico, não da nossa cultura, a mais perfeitinha de todas, ou, Deus não permita, nós mesmos.
Não dá para traçar uma demografia específica da violência doméstica. Como a doença, ou a morte, ataca todos os estratos sociais, todos os escalões demográficos, todas as regiões. A violência doméstica não afecta apenas gente de certa idade, ou pobre e ignorante. Dois casos que conheci de perto reportavam-se a mulheres de classe média-alta, não podendo ser atribuída qualquer culpa à falta de cultura, à ignorância ou à pobreza. Uma destas mulheres era uma aluna brilhante na Universidade, apanhava do namorado que lhe controlava todos os passos. A segunda era esposa de um médico e financeiramente independente por mérito próprio. As ausências dela eram justificadas por um misterioso problema de saúde, cujas crises a iam mantendo em casa às semanas de cada vez. Ninguém desconfiava, ninguém fazia nada, era um problema invisível.
Se a sociedade evoluiu em muitas coisas, outras há em que o não fez, ou não tanto quanto deveria. Na nossa cultura é um problema do foro privado e muito poucas vezes alguém de fora diz seja o que for, deixando para a vítima a coragem de denunciar, ou o ónus de calar até onde lhe for possível. Muitas vezes este silêncio paga-se com a vida, com o abuso igualmente dos filhos da relação, e com um ciclo de violência sem fim: crianças abusadas são muitas vezes adultos abusadores. Nisto, como em tudo, as crianças aprendem pelo exemplo. As gerações anteriores de mulheres esperavam, mais ou menos, a violência. Era comum, aceitado socialmente, quase a norma. A nossa geração, e as outras que nos seguem, calam-se igualmente.
Não consigo perceber como se pode ficar numa relação assim. Dizem-me que por amor, mas nenhuma forma de amor que eu conceba aceita ou consegue justificar violência sobre nós ou as crianças. Mas suspeito que a teia dos abusadores seja tão paralisante como a das seitas religiosas, e muito semelhante na actuação. Depois daquele sentimento de carinho e protecção, às vezes um pouco excessivo, vem o corte de relações com o exterior, amigos e parentes, e a mulher fica presa, isolada dentro dessa relação infernal. Não têm (ou acham que não têm) a quem recorrer, quem as ouça ou ofereça soluções. E a verdade é que, apesar de leis cheias de boas intenções, este país não tem estruturas suficientes para dar apoio nestes casos. Poucas vagas em lares de acolhimento, poucas capacidades para dar formação e independência económica às mulheres para poderem seguir em frente, viverem sem o agressor.
É minha convicção que a violência, seja de que tipo for, se ataca melhor pela prevenção que pela punição. O que é é que a prevenção não faz vista, não dá votos nem palmadinhas nas costas dos cidadãos preocupados. E de todas as estatísticas possíveis, há as que dão jeito, e se mostram, e as que se calam. Como esta.

terça-feira, setembro 16, 2008

Risque o que não interessa


O facto de Mika ter feito uma música a propósito das Big Girls, afirmando serem estas lindas é...
a) Entusiasmante e positivo, fazendo ver que a malta também tem direito à vida.
b) Corajoso, nenhum outro artista teve jamais a ousadia de referir, deixar entrever ou sequer aludir de passagem a big girls.
c) Indiferente, por uma música que as enaltece, há milhões a ignorá-las ou, activamente a defender as virtudes de se parecer uma barbie.
d) Deprimente. O Mika é gay, e, portanto, não tem interesse directo no assunto, logo podemos ver a música como uma paródia à malta, ou uma tentativa de colinho, que o temos generoso, para compensar possíveis descompensações da sua figura materna.

quinta-feira, setembro 11, 2008

So what?

Para ilustrar o ponto que queria fazer no post anterior, esta música fantástica da Pink. Prestem atenção à letra, e ao homem razoavelmente giro com madeixas a meio do video... Sim, é mesmo o Carey Heart, o ex-marido dela. Oh, a ironia...


Ok, vai lá buscar a coroa de espinhos ...


Ok, vai lá buscar a coroa de espinhos, já te estás a crucificar mesmo... Esta frase era usada, há muito tempo atrás nos conselhos de guerra, quando uma de nós começava a ter muita, muita pena de si mesma. Não que haja nada errado em termos um bocadinho de pena de nós, afinal, se não damos colinho a nós próprios ninguém dá. Passar pela vida a sentir-se eternamente injustiçada, uma vítima de um destino cruel, isso é que é um bocadinho demasia.
Nós, as mulheres, temos uma certa tendência para, como dizer delicadamente, nos vitimizarmos. Não é que não sejamos vítimas (e uma espreitadela às estatísticas de mulheres assassinadas em casos de violência doméstica, ou de violações e agressões sexuais mostra-o bem), mas também arredondamos um bocado o ramalhete para nos sentirmos umas desgraçadas. É uma questão de estética da dor, como no caso do Menina e Moça do Bernardim Ribeiro, como se sofrer e sermos umas desgraçadas nos transportasse para um, nível superior de existência e fizesse de nós seres especiais. Poi bem, não faz.
Nada de positivo jamais saiu de terem pena de nós, ou nós pena de nós mesmos. Porque a pena é uma indulgência, uma desculpa para não seguir em frente, uma espécie de cobertor, que com espinhos ou não nos agasalha e protege desse grande mundo perigoso lá fora. Mas pensem comigo: de que adianta maldizer o destino e sentir-nos o alvo de uma conspiração para nos tramar ao nível cósmico? Resolve-nos os problemas? Não. Aprendemos alguma coisa com a tragédia? Não. Conseguimos seguir em frente? Não. Pois por isso o melhor é evitar a piscina quentinha de auto-comiseração e seguir em frente. Trust me, been there, done that, got the t-shirt to prove it.
Se é verdade que os homens são uns ordinários (no geral, e salvaguardadas as excepções que devem ser salvaguardadas, e desconfio, são poucas e raras), isso não significa que o peso das desgraças e dos sofrimentos por que passamos recaia exclusivamente neles. Não poderiamos ter previsto? Não tinhamos a responsabilidade de aceitar as coisas mais que pelo seu valor facial em vez de nos deixarmos enredar em conversas e mentiras? O amor, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, exige uma dose considerável de inteligência e sangue frio, de racionalidade. É bom amarmos de olhos fechados, mas é ainda melhor constatar quer esse amor resiste a uns olhos abertos e atentos, não? E depois, se a coisa não resistiu a uma dose de realidade, se acabou, por que raios quereriamos nós pena de quem seja? E então deles, pena para quê? Nem um camião carregado de pena, remorsos e boas intenções vai resolver seja o que for (e para isto é que tenho mesmo a t-shirt para provar).
De modos que o melhor é despregarem-se da cruz e seguir por essa vida fora. Ficarão surpreendidas com o grande e interessante que vida pode ser...

segunda-feira, setembro 08, 2008

Bridezillas



Só há duas coisas capazes de transformar uma mulher -ou um grupo delas – em seres pipilantes e inanes em menos de dez segundos: bebés e casamentos. Que os bebés o façam é normal e perfeitamente razoável: afinal ter bebés é um imperativo evolutivo, uma questão de sobrevivência da espécie, e as mulheres precisam de uma resposta hormonal que as distraia daquilo que o acto de dar à luz implica (doze ou catorze horas de dores giras, anos de noites sem dormir). E depois, os bebés são simplesmente giros. Que os casamentos o façam é, a meu ver, mais inexplicável.
Agora que a época alta dos casamentos, que vai de Maio a Setembro, está no fim, muito caterer, muita florista, muito padre por esse país fora está a suspirar de alivio. É que os casamentos não se limitam a transformar as mulheres em seres pipilantes e inanes. Os casamentos têm a tendência de transformar as mulheres em seres assustadores de quem é melhor fugir sem fazer movimentos bruscos, bridezillas capazes de engolir caterers e floristas, gerentes de boutiques de noivas e pasteleiros que se atrevem a não lhes dar aquilo que querem no seu dia. E as coisas que estas noivas bridezilla querem são muitas e variadas. Aparentemente, quando se organiza um casamento, para dar sorte, tem de se aterrorizar, coagir e de forma geral levar às lágrimas de frustração impotente o maior número de profissionais do ramo, amigos e parentes (às vezes mesmo o futuro cônjuge). Se tal não acontecer calamidades de proporções épicas poderão acontecer e desestabilizar a ordem natural das coisas, lançando constelações inteiras para os abismos de buracos negros, ou obrigando uma noiva a conformar-se com fita cru, ou pior, champanhe, para o ramo, em vez do marfim que realmente desejava.
Nunca desejei especialmente um casamento grande, ou planeei, desde pequena, como seria o grande dia. Suponho que crescer a ir a casamento após casamento das minhas seis tias me tenha tirado o deslumbramento da coisa, sobretudo tendo eu sido a menina das alianças da maioria delas. Tanto tule e gaze, seda e sapatos brancos apertados conseguiram tirar a magia de vestidos volumosos, e concluir que, simplesmente, isso não era para mim. Como não são para mim as dietas miseráveis para caber num vestido demasiado pequeno que mostra impiedosamente todos os defeitos, os acessos de choro para escolher convites, sapatos e esquemas de decoração da sala. Ou as horas de dor de cabeça para sentar todos aqueles parentes de quem não gostamos e que não se dão bem uns com os outros, só porque parece mal não os convidar. Ou a escolha do fotógrafo e as poses e as limpezas de pele e todas as pequenas coisinhas que enchem as noivas de stress e as transformam em seres francamente pouco amigáveis. Francamente, quem se importará se os laços nas cadeiras sejam bordeaux em vez de vinho escuro, qual a diferença? Quem se importa se a tia Gertrudes e a Tia Maximina, que não se falam há vinte e cinco anos por causa de um desentendimento sobre o ponto correcto do doce de abóbora, ficam sentadas na mesma mesa e se pegam à pancada? Vistas bem as coisas, pode ser que animem a peça ligeiramente inferior que os casamentos são e da qual os noivos são apenas os figurantes secundários. A sério, nunca repararam que, depois de tantos nervos e despesa, os noivos são os que menos se divertem? Ah pois.
Sou uma romântica. Muito romântica. Mas suponho que a minha noção de romantismo choca com esta visão tradicional, e um bocado tonta, da festa de casamento. Um casamento é uma promessa. Uma promessa de ficar, de estar com o outro, no bom e no mau. Para promessas não é preciso uma roupa diferente que nunca mais vamos usar, duzentas pessoas que não nos dizem nada. As promessas fazem-se com o coração, a mente, a consciência. Fazem-se com a razão, e se se tem flores ou não na mão, se um carro caro nos leva e traz ou se vamos a pé é irrelevante. O casamento não tem mais garantias de ser feliz se o fotógrafo for bom ou o banquete tiver marisco e uma excelente tábua de queijos. Não é preciso padre, ou papel, nem sequer testemunhas. Porque o que mantém as pessoas juntas é o amor, e o desejo, e a vontade, e a determinação, mais nada, nem ninguém.

sábado, setembro 06, 2008

Fon Fon e os arquétipos culturais


Nada mais seria de esperar de um grupo inovador e quebrador de tabus, como os Deolinda definitivamente são, que inovar ao nível de arquétipos culturais. A contrapor com as cantigas do bandido ao ritmo hip hop dos Doninha (de quem, de resto, gosto, apesar de objectar um tantito a algumas das suas letras), vêm os Deolinda pôr as coisas em pratos limpos: isto do amor é daquelas coisas que acontecem, transpondo barreiras de politica e culturalmente correcto. As pessoas gostam, simplesmente umas das outras.
Desta história de amor, de paixão assolapada por um músico numa banda, e não, não estamos a falar do glamour sex&drugs&rockn'roll de uma banda qualquer, mas banda de música das de fardas iguais, trompetes e oboés e aberturas de Bethoven assassinadas, toda uma mensagem e esperança e liberdade emana. Uma verdadeira lufada de ar fresco no panorama desta sociedade pós-moderna.
Somos todos uns snobes, não, não objectem, somos mesmo. Somos incrivelmente snobes a propósito a roupa que vestimos, dos carros que conduzimos, dos nossos amigos e dos dinheiros que temos ou não temos, dos sítios que frequentamos, e muito, mas muito mesmo, da música que ouvimos. Ser-se jovem implica romper com os hábitos dos nossos pais, com os gostos dos nossos pais, e isso é verdade sobretudo a propósito de música. Se as adolescentes de hoje não objectam a usar as leggings vintage da adolescência das mãezinhas delas, podem acreditar que objectam a ouvir as músicas que lhes encheram os ouvidos (voltem, A-HA, estão aperdoados). Então se falarmos de músicas anteriores a isso, como o fado, ou a música clássica, a reacção é de puro asco. A Mariza e a Ana Moura resgataram um pouco o fado para ouvintes contemporâneos (apesar de Amália ser ainda, por mais hereje que isso pareça, a epítome do uncool), nem o inegável sex appeal dos Il Divo consegue fazer com que gostar de música clássica seja aceitável. E mesmo que não gostemos de música clássica (que gosto), o namorar com um elemento de uma banda filarmónica torna-nos geeks por associação. De modos que este Fon Fon é uma lufada de ar fresco: quem somos nós para pôr limites ao amor?
Isto do amor eve ser como o sol, e nascer para todos. Camaradas uncool, unamo-nos numa só esperança: o fonfon é que conta, e não os nossos hobbies, ou gostos ou whatever. E os arquétipos culturais que vão ver a banda passar ;)


Olha a banda filarmónica,
A tocar na minha rua.
Vai na banda o meu amor
A soprar a sua tuba.
Ele já tocou trombone,
Clarinete e ferrinhos
Só lhe falta o meu nome
Suspirado aos meus ouvidos.

Toda a gente fon-fon-fon-fon
Só desdizem o que eu digo:
"Que a tuba fon-fon-fon-fon
Tem tão pouco romantismo"
Mas ele toca fon-fon-fon-fon
E o meu coração rendido
Só responde fon-fon-fon-fon
Com ternura e carinho.

Os meus pais já me disseram
"ó filha não sejas louca!
Que as variações de Goldberg
P'lo Glenn Gould é que são boas!"
Mas a música erudita
Não faz grande efeito em mim:
Do CCB gosto da vista,
Da Gulbenkian, o jardim.

Toda a gente fon-fon-fon-fon
Só desdizem o que eu digo:
"Que a tuba fon-fon-fon-fon
Tem tão pouco romantismo"
Mas ele toca fon-fon-fon-fon
E cá dentro soam sinos!
No meu peito fon-fon-fon-fon
A tuba é que me dá ritmo.

Gozam as minhas amigas
Com o meu gosto musical
Que a cena é "electroacustica"
E a moda a "experimental"...
E nem me falem do rock
Dos samplers e dicotecas,
Não entendo o hip-hop,
E o que é top é uma seca!

Toda a gente fon-fon-fon-fon
Só desdizem o que eu digo:
"Que a tuba fon-fon-fon-fon
Tem tão pouco romantismo"
Mas ele toca fon-fon-fon-fon
E, às vezes, não me domino.
Mando todos fon-fon-fon-fon
Que ele vai é ficar comigo!

Mas ele só toca a tuba
E quando a tuba não toca,
Dizem que ele continua
Quem em vez de beijar ele sopra

Toda a gente fon-fon-fon-fon
Só desdizem o que eu digo:
"Que a tuba fon-fon-fon-fon
Tem tão pouco romantismo"
Mas ele toca fon-fon-fon-fon
E é a fanfarra que eu sigo.
Se o amor é fon-fon-fon-fon
Que se lixe o romantismo!


quarta-feira, setembro 03, 2008

Considerações sobre activismo


Isto de activismo é uma coisa interessante. Se em pequenos não temos activismos, quando crescemos, escolhemo-los. Por moda, por trauma, por convicção, escolhemo-los. E é um estudo interessante ver quem defende o quê, que causa nos faz levantar do sofá e gritar palavras de ordem. Porque o nosso activismo, como todas as nossas outras escolhas, conta a nossa história, fala de quem somos.
Quando era adolescente, e não sei bem como, desenvolvi uma consciência política, o meu activismo era sobretudo centrado nos direitos humanos. É que, percebem, sou uma pessoa gregária. Uma colega de trabalho é apaixonada por animais, dedicando muito do seu tempo e dinheiro num refúgio para cães abandonados. Diz muitas vezes que lhes prefere a companhia à companhia de pessoas. Eu, que nunca tive um osso tímido no corpo, escolhi a área das pessoas. O que não foi exactamente uma escolha, antes o abraçar das ideias que me pareciam certas. Mas suponho que todas as convicções, políticas, ideológicas ou de activismo são assim.
Alguém uma vez me disse que aos dezasseis é idiota não se ser idealista, e é idiota ser idealista aos trinta. E se bem que detesto frases lapidares e tenha fustigado devidamente o desgraçado por se atrever a implicar que era mole de espírito, a verdade é que o meu activismo mudou, e me dediquei a um tema mais restrito dentro do tema dos direitos humanos, os direitos das mulheres. E a ser, no geral, um bocado cabra. E cada um é seus caminhos. Ser muito idealista está muito bem, mas e as coisas que nos picam e nos moem todos os dias? Aquela minha amiga da universidade que tinha um namorado que nem sequer a deixava escolher o que beber no café e lhe batia? E aquela que ficou jogada numa depressão negríssima porque um idiota qualquer mentiu desnecessariamente? E, sobretudo, os que me fizeram acreditar, como o parvito do comentário aí de baixo que deveria ficar em casa porque não mereço andar na rua, porque NÃO VALE A PENA? De modos que não é esforço perceber que me tenha voltado para o feminismo. Ou pelo menos uma parte de mim, a parte cabra. A que mostro aqui. O activismo não é uma coisa interessante?