quarta-feira, setembro 03, 2008

Considerações sobre activismo


Isto de activismo é uma coisa interessante. Se em pequenos não temos activismos, quando crescemos, escolhemo-los. Por moda, por trauma, por convicção, escolhemo-los. E é um estudo interessante ver quem defende o quê, que causa nos faz levantar do sofá e gritar palavras de ordem. Porque o nosso activismo, como todas as nossas outras escolhas, conta a nossa história, fala de quem somos.
Quando era adolescente, e não sei bem como, desenvolvi uma consciência política, o meu activismo era sobretudo centrado nos direitos humanos. É que, percebem, sou uma pessoa gregária. Uma colega de trabalho é apaixonada por animais, dedicando muito do seu tempo e dinheiro num refúgio para cães abandonados. Diz muitas vezes que lhes prefere a companhia à companhia de pessoas. Eu, que nunca tive um osso tímido no corpo, escolhi a área das pessoas. O que não foi exactamente uma escolha, antes o abraçar das ideias que me pareciam certas. Mas suponho que todas as convicções, políticas, ideológicas ou de activismo são assim.
Alguém uma vez me disse que aos dezasseis é idiota não se ser idealista, e é idiota ser idealista aos trinta. E se bem que detesto frases lapidares e tenha fustigado devidamente o desgraçado por se atrever a implicar que era mole de espírito, a verdade é que o meu activismo mudou, e me dediquei a um tema mais restrito dentro do tema dos direitos humanos, os direitos das mulheres. E a ser, no geral, um bocado cabra. E cada um é seus caminhos. Ser muito idealista está muito bem, mas e as coisas que nos picam e nos moem todos os dias? Aquela minha amiga da universidade que tinha um namorado que nem sequer a deixava escolher o que beber no café e lhe batia? E aquela que ficou jogada numa depressão negríssima porque um idiota qualquer mentiu desnecessariamente? E, sobretudo, os que me fizeram acreditar, como o parvito do comentário aí de baixo que deveria ficar em casa porque não mereço andar na rua, porque NÃO VALE A PENA? De modos que não é esforço perceber que me tenha voltado para o feminismo. Ou pelo menos uma parte de mim, a parte cabra. A que mostro aqui. O activismo não é uma coisa interessante?

Sem comentários: