Ok, vai lá buscar a coroa de espinhos, já te estás a crucificar mesmo... Esta frase era usada, há muito tempo atrás nos conselhos de guerra, quando uma de nós começava a ter muita, muita pena de si mesma. Não que haja nada errado em termos um bocadinho de pena de nós, afinal, se não damos colinho a nós próprios ninguém dá. Passar pela vida a sentir-se eternamente injustiçada, uma vítima de um destino cruel, isso é que é um bocadinho demasia.
Nós, as mulheres, temos uma certa tendência para, como dizer delicadamente, nos vitimizarmos. Não é que não sejamos vítimas (e uma espreitadela às estatísticas de mulheres assassinadas em casos de violência doméstica, ou de violações e agressões sexuais mostra-o bem), mas também arredondamos um bocado o ramalhete para nos sentirmos umas desgraçadas. É uma questão de estética da dor, como no caso do Menina e Moça do Bernardim Ribeiro, como se sofrer e sermos umas desgraçadas nos transportasse para um, nível superior de existência e fizesse de nós seres especiais. Poi bem, não faz.
Nada de positivo jamais saiu de terem pena de nós, ou nós pena de nós mesmos. Porque a pena é uma indulgência, uma desculpa para não seguir em frente, uma espécie de cobertor, que com espinhos ou não nos agasalha e protege desse grande mundo perigoso lá fora. Mas pensem comigo: de que adianta maldizer o destino e sentir-nos o alvo de uma conspiração para nos tramar ao nível cósmico? Resolve-nos os problemas? Não. Aprendemos alguma coisa com a tragédia? Não. Conseguimos seguir em frente? Não. Pois por isso o melhor é evitar a piscina quentinha de auto-comiseração e seguir em frente. Trust me, been there, done that, got the t-shirt to prove it.
Se é verdade que os homens são uns ordinários (no geral, e salvaguardadas as excepções que devem ser salvaguardadas, e desconfio, são poucas e raras), isso não significa que o peso das desgraças e dos sofrimentos por que passamos recaia exclusivamente neles. Não poderiamos ter previsto? Não tinhamos a responsabilidade de aceitar as coisas mais que pelo seu valor facial em vez de nos deixarmos enredar em conversas e mentiras? O amor, ao contrário do que possa parecer à primeira vista, exige uma dose considerável de inteligência e sangue frio, de racionalidade. É bom amarmos de olhos fechados, mas é ainda melhor constatar quer esse amor resiste a uns olhos abertos e atentos, não? E depois, se a coisa não resistiu a uma dose de realidade, se acabou, por que raios quereriamos nós pena de quem seja? E então deles, pena para quê? Nem um camião carregado de pena, remorsos e boas intenções vai resolver seja o que for (e para isto é que tenho mesmo a t-shirt para provar).
De modos que o melhor é despregarem-se da cruz e seguir por essa vida fora. Ficarão surpreendidas com o grande e interessante que vida pode ser...
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