No último filme do meu realizador favorito, Wong Kar Wei, My Blueberry Nights (em português tem o nome, se não estou em erro, de o sabor do amor) , encontrei uma teoria muito interessante nisto de relações, a teoria da tarte de mirtilos. E olhem que é uma teoria sábia e útil. Eu já explico.
Ora acontece que uma das personagens trabalha num café. Nesse café havia uma variedade enorme de tartes e bolos. Ora, chegado o fim do dia, tartes como a de chocolate e de pêssego há já muito tinham desaparecido. Outras estavam a meio, ou sobravam uma ou duas fatias. A de mirtilo continuava intacta. Porquê? E aí sim, reside o centro da teoria, porque não calhava. Não se devia atribuir a culpa à tarte, em si perfeitamente aceitável e bem confeccionada. Calhava era não ter aparecido ninguém a quem pudesse apetecer. Elizabeth , a protagonista do filme, pergunta então ao dono do café porque a continuava a fazer, dia após dia, se não se vendia. E ele respondeu que um dia poderia acontecer alguém querer. E pronto.
Aplicar o conhecimento de tartes às pessoas, que aliás, era o que eles estavam a fazer de forma clara, não é nada difícil. Como a nossa sabedoria popular diz que há uma clara diferença entre cair em graça e ser engraçado, também a há em ser amável e ser amado. E muitas horas de frustração e depressão cabem nessa diferença, oh se cabem. Aquilo que se pode , deve fazer, como à tarte de mirtilos, é aguentar estoicamente e sem amarguras, sem perder a esperança. Não é a vida, tal como a apetência por bolos, aleatória e cheia de acasos?
Digamos que, na vida, são uma tarte de chocolate: bom aspecto, muita saída. Deve dar-lhes isso uma sensação de auto-importância? Nem por isso. Há resmas de gente alérgica a chocolate. Experimentem pôr uma numa comunidade de diabéticos e alérgicos para ver a saída que têm. O bom aspecto , nos bolos como nas pessoas é uma questão de sorte e artifício. Umas natas batidas, como uma maquilhagem ardilosa esconde muitos defeitos. Agora se forem uma tarte de mirtilos, que é massa por fora, sem grande graça, dependem de um recheio saboroso e interessante. E, claro, de gosto pessoal.
Há pessoas de que se gosta logo. Outras, como as tartes de mirtilo, são gostos adquiridos. É preciso sair do habitual para se gostar. Experimentar e conhecer, crescer nas nossas papilas gustativas e nos nossos corações. Nem sempre o fazem, mas quando o fazem, acaba por valer a pena. Digo eu, que sempre gostei de mirtilos, em tarte ou fora dela.
De modos que os dramas que vivemos muitas vezes com a rejeição devem ser vistos da perspectiva da arte: não há nada errado connosco. Não apareceu é ainda aquela pessoa que não pode viver sem mirtilos.
Ora acontece que uma das personagens trabalha num café. Nesse café havia uma variedade enorme de tartes e bolos. Ora, chegado o fim do dia, tartes como a de chocolate e de pêssego há já muito tinham desaparecido. Outras estavam a meio, ou sobravam uma ou duas fatias. A de mirtilo continuava intacta. Porquê? E aí sim, reside o centro da teoria, porque não calhava. Não se devia atribuir a culpa à tarte, em si perfeitamente aceitável e bem confeccionada. Calhava era não ter aparecido ninguém a quem pudesse apetecer. Elizabeth , a protagonista do filme, pergunta então ao dono do café porque a continuava a fazer, dia após dia, se não se vendia. E ele respondeu que um dia poderia acontecer alguém querer. E pronto.
Aplicar o conhecimento de tartes às pessoas, que aliás, era o que eles estavam a fazer de forma clara, não é nada difícil. Como a nossa sabedoria popular diz que há uma clara diferença entre cair em graça e ser engraçado, também a há em ser amável e ser amado. E muitas horas de frustração e depressão cabem nessa diferença, oh se cabem. Aquilo que se pode , deve fazer, como à tarte de mirtilos, é aguentar estoicamente e sem amarguras, sem perder a esperança. Não é a vida, tal como a apetência por bolos, aleatória e cheia de acasos?
Digamos que, na vida, são uma tarte de chocolate: bom aspecto, muita saída. Deve dar-lhes isso uma sensação de auto-importância? Nem por isso. Há resmas de gente alérgica a chocolate. Experimentem pôr uma numa comunidade de diabéticos e alérgicos para ver a saída que têm. O bom aspecto , nos bolos como nas pessoas é uma questão de sorte e artifício. Umas natas batidas, como uma maquilhagem ardilosa esconde muitos defeitos. Agora se forem uma tarte de mirtilos, que é massa por fora, sem grande graça, dependem de um recheio saboroso e interessante. E, claro, de gosto pessoal.
Há pessoas de que se gosta logo. Outras, como as tartes de mirtilo, são gostos adquiridos. É preciso sair do habitual para se gostar. Experimentar e conhecer, crescer nas nossas papilas gustativas e nos nossos corações. Nem sempre o fazem, mas quando o fazem, acaba por valer a pena. Digo eu, que sempre gostei de mirtilos, em tarte ou fora dela.
De modos que os dramas que vivemos muitas vezes com a rejeição devem ser vistos da perspectiva da arte: não há nada errado connosco. Não apareceu é ainda aquela pessoa que não pode viver sem mirtilos.
6 comentários:
Também sempre gostei de mirtilos.Aliás acho que estou mais para tarte de mírtilos do que de chocolate;)
Beijinhos
hum... fiquei a pensar nisto... e tinha que o dizer: acho que me fost tarte de chocolate, não? Não me lembro de me teres demorado muito...
Sempre
Su
Sim, pois foi,mas a amizade é muito diferente do amor. Não inferior, isso nunca, aliás a amizade é muito próxima dele, ás vezes até mais compensadora, mas lá que é diferente, é. E se em termos de amizades sou (graças a deus) tarte de chocolate, nos outros assuntos, bem, tu conheces a história de ginjeira. É de tarte de mirtilo para baixo, talvez de ruibarbo que é ainda mais estranho que mirtilos...
Tu para mim és mais uma daquelas sobremesas de côco, que por vezes esgotavam... Lembras-te? Bjos, N
Eu podia lá esquecer-me da sobremesa de côco, Nô? Good times, my friend... Beijinhos à família
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