quarta-feira, maio 30, 2007

A síndrome não venhas tarde



Discutindo estas coisas de homens e mulheres, chamaram-me a atenção para um assunto interessante: por que motivo se punha tanto ênfase nos homens que são traídos, havendo uma miríade de expressões para isso e quase nenhuma para as mulheres. Teria de ser, como me disseram, uma prova de que as mulheres eram menos fiéis que os homens, tendo nós, como se sabe esta tendência para sermos falsas e dissimuladas, lol. Logicamente, este é um argumento falacioso.
O motivo para esta ausência de expressões pejorativas para mulheres traídas é muito simples: faz tanta parte do território que já ninguém repara. Não se esqueçam que, historicamente, um homem podia (não, devia) lavar a sua honra de homem traído com sangue, ou devolver a esposa traidora a casa dos pais como mercadoria defeituosa, enquanto uma mulher deveria esperar que o homem tivesse as aventuras porque era, simplesmente, uma coisa que os homens faziam, como desfazer a barba. Aliás, o dever de uma boa esposa, para além de lhes criar os filhos, limpar a casa e servir refeições quentes a horas era deixar o homem à solta para fazer o que queria, não fazendo perguntas. Se se lembram da cantiga não venhas tarde, a coisa está perfeitamente explicada:
"Não venhas tarde,
Dizes-me tu com carinho,
Sem nunca fazer alarde,
Do que me pedes baixinho.
Não venhas tarde,
E eu peço a Deus que no fim,
Teu coração ainda guarde,
Um pouco de amor por mim.

Tu sabes bem,
Que eu vou para outra mulher,
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer.
Tu estás sentindo,
Que te minto e sou cobarde,
mas sabes dizer sorrindo,
meu amor , não venhas tarde.

Não venhas tarde,
Dizes-me sem azedume,
Quando o teu coração arde,
Na fogueira do ciúme.
Não venhas tarde,
Dizes-me tu da janela,
E eu venho sempre mais tarde,
Porque não sei fugir dela.

Tu sabes bem,
Que eu vou para outra mulher,
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer.
Sem alegria,
Eu confesso tenho medo,
Que tu me digas um dia,
Meu amor, não venhas cedo.

Por ironia,
Pois nunca sei onde vais,
Que eu chegue cedo algum dia,
E que seja, tarde de mais."

Ou seja, ele trai a esposa com outra que acha irresistível e ela, como boa esposa, espera por ele, e sem se queixar. Vistas bem as coisas, ele é que é a vítima, o desgraçadinho que não consegue resistir aos seus instintos e tem, porque tem, de andar com outra(s), colocando em risco a relação com a mulher que ama, o que lhe causa ciúmes à possibilidade dela arranjar outro. A sorte é que ela não se queixa (porque ele está só a ser o que os homens são) e espera por ele, noite após noite. Com sorte, quando ele chegar,cansado de reboladelas vigorosas no feno com a amante, ela tem-lhe o lanchinho preparado, os chinelos e o banho pronto, como é a sua obrigação.
Admitindo que esta canção é antiga, e que a sociedade portuguesa mudou muitíssimo nas últimas décadas, não se iludam que esta atitude mudou especialmente, porque não mudou. Há uns anos, na cidade em que vivia, havia uma expressão muito típica, chamada namoro de bicicleta. Em que consistia? O namorado estava com a namorada todos os dias, até, digamos a sua meia-noite, uma, e depois ia levá-la (pôr a bicicleta a casa). Liberto que estava dos impedimentos da "oficial", e cumprido o dever de bom namorado, o dito sentia-se no direito de ir por esses bares e discotecas "divertir-se", ou seja, encontrar outras mulheres com quem tinha casos passageiros. Como cumpria com o seu dever de namorado, mesmo saindo noite após noite com outras, se ela o traísse ele seria, e muito bem, a parte ofendida.
A cultura masculina vive muito dessa descupabilização dos homens, pois não fazem mais nada seguir o seu instinto. A ideia ancestral de que o dever de um homem é is por aí "disseminar" a sua semente e garantir as gerações futuras desculpa-os da responsabilidade de fidelidade. O conceito só é uma coisa séria e obrigatória nas mulheres. Dizerem que, coitados, não são de ferro desculpabiliza-os dos votos que assumiram. Aliás, homem que seja fiel, que, tendo hipótese de traír e não trai, é considerado pelos amigos como um banana frouxo que não merece a sorte que tem. Á pergunta porque é que os homens traem as mulheres a resposta é simples: porque podem.
Quando uma mulher trai um homem ( há excepções, mas não muitas), já está com um pé fora da relação. Mais que casos inconsequentes, procura substituto. Os homens não encontram qualquer dificuldade em separar as águas, podendo estar profunda e devotamente apaixonados por uma mulher e, mesmo assim, traí-la com todo o seu círculo de amigas e parentes, caso tenham oportunidade para isso.
A culpa de os homens serem os traidores mentirosos que são, e a traição masculina ser menos grave que a feminina é, lamento dizê-lo, nossa. Os homens não traem as mulheres sozinhos, precisam de colaboradoras. Apesar de eles poderem ser mentirosos e falsos, escolhendo esconder esposas e namoradas, muitas de nós sabem que a pessoa com quem saem é comprometida e mesmo assim deixam-se andar. A culpa é da nossa mentalidade que dita que ter um homem, mesmo que seja de outra, é preferível a não ter nenhum, como se fossemos menos mulheres por estarmos sozinhas à espera da pessoa ideal em vez de andar com um qualquer só para evitar as noites solitárias. É nossa também por admitirmos e perdoarmos tantas vezes as quebras de voto deles, e perdoar traições uma e outra vez. Se a senhora do Não venhas tarde o esperasse com um taco de basebol, ou, menos violentamente, com as malas à porta e as fechaduras mudadas, eles pensariam duas vezes em fazer asneira. Talvez não se emendassem todos, mas pelo menos tinham muito mais cuidado para se deixar apanhar. E é nossa também por não fazermos como eles, tentando resgatar o que fica em vez de reverter a síndrome do não venhas tarde e pagar no mesmo troco.
Conhecem a anedota do recém casado que se vira para a esposa no fim da lua-de-mel e diz:
-Olha, agora que acabou a lua de mel, vou establecer regras: à segunda-feira à noite, é dia de cinema com os amigos e não fico em casa. Às terças e quintas à noite, ginásio. À quarta , bola com os amigos. À sexta, póquer. E sábado vou com eles para os copos. Compreendido?
Ela olha para ele com ar pensativo e passados trinta segundos responde:
-Ok, eu também quero impôr uma regra, posso?
O marido, contente por não haver objecções às suas exigências diz que sim.
-É assim- diz ela- nesta casa há sexo todos os dias. Quem está, está. Quem não está, estivesse.
Ah leoa!

terça-feira, maio 29, 2007

A dinâmica de casal


Todos sabemos o que está por detrás dos princípios (atracção, luxúria, amizade, amor, coisas em comum, opostos) e o que está por detrás dos fins (traições, mentiras, fim do amor, incompatibilidades). Tudo o que está no meio é o mais profundo e insondável mistério. Se o que faz juntar casais já nos faz espécie, o que os faz permanecer juntos anos e anos ainda faz mais. Como todas as relações são a dois e não sociedades por quotas, só os dois sabem. Aliás, às vezes, nem eles. Por exemplo,o que faz a Miss Piggy e o Cocas permanecer juntos, sendo ela a diva larger than life e ele o sapo hiperhiperactivo? Ninguém percebe, e no entanto estao juntos há mais de trinta anos, um exemplo sem precedentes no mundo da marretagem.
Fora de brincadeiras, a dinâmica de casal é tão difícil de perceber como de evitar, ou não fossemos nós cheios de defeitos, manias e excentricidades que têm de conjugar com as de outro de forma manejável. Os meus vizinhos de cima, por exemplo, adoram discutir, ou melhor, não sei se adoram, mas discutem bastante, de portas batidas e coisas partidas às três da manhã. E no entanto vivem juntos, que eu saiba, há dez felizes anos e sem intenção nenhuma de interromper. A mim, pessoalmente, uma relação assim levava-me à loucura, mas para eles, muito provavelmente, dia em que não discutam é um dia desgraçado. Como diz um conhecido meu, notório pela mulher dominadora com que casou, se ela não ralha comigo ou está doente ou já não gosta de mim e sinto-me negligenciado. Em qualquer dos casos a ausência do ralhete já é sinal de alarme.
Mas isto é apenas um dos muitos possíveis aspectos incompreensíveis da dinâmica de casal. Há aqueles casais em que se vestem a combinar e terminam as frases um do outro a ponto de parecer partilharem o mesmo cérebro e personalidade ( o que é giro de ver mas ligeiramente irritante) , há aqueles que concordam em discordar, aqueles que parecem não ter nada a ver uns com os outros e se adoram, etc. etc. etc.
As relações são uma espécie de prolongamento das pessoas que as constroem, coisas vivas, dinâmicas e mutáveis, com ciclos de vida, como os seres humanos. Não são um controlo de acções em que um gosta mais que o outro, ou um manda mais que o outro. São, por definição e vocação, alteráveis e voláteis.
Para quem está de fora a ver correr o marfim, uma dinâmica de casal pode ir do divertido ao constrangedor, sendo que, uma vez sugados para dentro do circulo de intimidade dos dois, somos testemunhas e reféns ao mesmo tempo. Podemo-nos sentir constrangidos e com a ideia de que estamos a assistir a algo que não devemos, mas podemos ver o círculo de intimidade dos dois que forma um elo, tão constrangedor como comovente. De qualquer maneira, é deixar passar, porque se o amor for forte, e valer a pena, permanece, por mais estranha que seja a dinâmica de casal. Olhem a Miss Piggy e o Cocas. Olhem o que diz a Julia roberts ao Bradd Pitt na Mexicana:
"Samantha: I have to ask you a question. It's a good one so think about it. If two people love each other, but they just can't seem to get it together, when do you get to that point of enough is enough?
Jerry: Never. "
Precisamente.

terça-feira, maio 22, 2007

A moda explicada aos homens



Se não forem metrossexuais ou qualquer outro desvio cultural que os faça importar-se, os homens têm poucas considerações a ter em conta ao vestir-se. Olham à sua volta e pensam uma coisa na linha do está frio ou calor? A roupa está limpa? Serve? Então, siga. E ficam-se por aí.
Uma mulher, ao vestir-se nunca tem, nem se pode dar ao luxo de ter, só essas considerações. Para além da adequação à temperatura e ao asseio geral, muitas outras questões urge ter em conta. Dizer a uma mulher que a roupa que veste é apenas uma forma de protecção contra os elementos é o mesmo que dizer que a segunda guerra mundial foi uma pequena troca de argumentos entre mães no parque acreca de qual dos filhos teve dentinhos mais cedo.
A roupa, para nós, tem de obedecer aos mais diversos critérios. Primeiro, e antes de tudo, tem de ficar bem. E este ficar bem vai muito para lá do meramente servir no sentido de ser do nosso número. Vai ter de servir, como a artilharia, para defender os nossos pontos fracos, camuflá-los tanto quanto possível, pondo em evidência os nossos pontos fortes. E se leram o artigo do chazinho, sabem que para nós há sempre pelo menos uma boa dúzia de pontos fracos. Depois, vai ter de se adequar ao contexto, e não é só frio/ calor/chuva/vento. Vai ter de estar de acordo com coisas como, por exemplo, o sítio onde vamos, o nosso estado de espírito e o que pretendemos fazer nesse dia, a nossa idade (mental e física)... Num contexto de romance, por exemplo, escolher a roupa é uma coisa a ser encarada com a seriedade de uma campanha militar. Que imagem queremos transmitir? Acessível, natural e despreocupada, com os jeans e o top? Inocente e calma, com a camisa floral e a saia? Deusa sexy, com a saia e o top mais decotado? Rainha de gelo, com o fato preto? Desportiva e activa, com as calças de malha e o top de algodão? Conservadora, com a camisola sem decote e as calças clássicas? Profissional e competente, com o tailleur sóbrio? E isto sem falar dos acessórios. Sapatos altos ou baixos? Colares ou alfinetes? Malas de ombro ou de mão, grandes ou pequenas? Mais a maquilhagem e o cabelo. Tudo se conjuga num todo, pensado com precisão para um fim específico. E isto fazêmo-lo já de uma forma automática, sem demasiadas considerações filosóficas. Anos de treino levam-nos a fazer este cálculo mental de forma quase imediata. As coisas são simplesmente assim. E assim explicamos o ficar tão solenemente chateadas quando são sabemos onde vamos. Estraga-nos o esquema.
Mesmo que a roupa obedeça a todos os critérios acima, tem ainda de obedecer a mais um, talvez o mais importante: está ou não na moda? A moda, meus caros homens, é como o ar, está por todo lado e ninguém lhe escapa. As mulheres muito menos. Foi inventada por e para nós, para ocupar a nossa mente no tempo que, historicamente, não nos podiamos dedicar a muito mais, e ainda hoje nos absorve. Poucas de nós são anti-moda, e tal como na filosofia, rejeitá-la é já um fashion statement. Mesmo aquelas de nós que estão muitíssimo ocupadas com trabalho e filhos e marido e casa reparam, mesmo aquelas de nós que têm pouco dinheiro tentam obedecer-lhe. É inevitável. E mesmo que vocês, homens, não reparem, as outras reparam com certeza. E se há mais alguém para além das outras mulheres para nos fazer sentir mal-vestidas e fora de moda, eu de certeza não conheço. A não ser os gay virados para a moda, mas esses também são da equipa, claro.
A moda é uma forma de hierarquia entre as mulheres. Não se deixem ir na conversa que nos vestimos para nós mesmas (as que o fazem são raríssimas), ou para vocês, os homens que estão, ou gostaríamos que estivessem, nas nossas vidas. Isso é bluff. Nós vestimo-nos para as outras, e se não activamente para nos impôr como icones de moda, à defesa para não parecermos desleixadas e antiquadas por comparação. Há aquelas que, entre nós, estão sempre bem e que nos servem de modelos, aquelas que são idealmente magras e uniformemente elegantes (e, muito frequentemente, universalmente odiadas) e há aquelas de nós que tentam manter-se mais ou menos a par, ou pelo menos não se sentir totalmente desadequadas matronas sem graça.
Dizem que as mulheres verdadeiramente elegantes (não necessariamente magras nem novas) têm um estilo clássico e pessoal, vestindo o que lhes fica bem e pouco mais, sem ir em modas efémeras. Nós, as comuns mortais, vamos vagando entre onda e onda da moda tentando não nos afogar em tendências que são demasiado caras / extravagantes/juvenis/pouco adequadas ao nosso corpo, tentando ficar mais ou menos actuais. É praticamente uma luta inglória, pois poucas de nós têm tempo ou, mais importante, orçamento para um guarda roupa novo a cada seis meses, mas isso não nos impede de tentar. Noblesse oblige. Por isso, meus caros, a próxima vez que lhes apetecer desesperar por causa do tempo que nós demoramos a experimentar roupa numa loja, lembrem-se da tarefa hercúlea que temos pela frente. E tenham um pouquinho mais de paciência, sim?

terça-feira, maio 15, 2007

Eye Candy


Vinnie Jones

Histórias de fadas para meninas más



Até fico contente que o sapato não sirva, disse uma irmã feia da Cinderela para a outra, escolher namoradas pelo número de sapato que elas usam é terrivelmente superficial...

sexta-feira, maio 11, 2007

O chazinho milagroso



Durante uma manhã inteira, o tema de conversa das minhas colegas de trabalho foram dietas. Uma delas tinha acabado de descobrir uns comprimidos milagrosos e um chá que parecia a resposta para todos os seus problemas. As outras ouviam atentamente, faziam perguntas, trocavam ideias e nomes de comprimidos, discutiam com afinco a sua distribuição de gordura pelo corpo, o trânsito intestinal, a retenção de líquidos. Eu, que estava no cubículo ao lado, ouvi e calei. Não tinha nada para acrescentar à conversa, nem mesmo interesse bem educado, apesar de, por força das circunstâncias, me ver obrigada a ouvir.
Ser mulher é uma seca, dá trabalho e é frequentemente frustrante, deprimente. Como soldados numa guerra temos de estar sempre alerta ao próximo inimigo, seja ele a celulite, a ruga ou a ponta espigada. É uma tarefa que exige atenção constante, nunca está pronto nem completo. Mal se retocam as raízes, faz-se a depilação, a limpeza de pele, arranjam-se mãos e pés, faz-se a massagem, hidrata-se o corpo e a cara, aplica-se creme específico para o contorno dos olhos, da boca, para o pescoço, os cotovelos, reafirmante para os seios, anti-celulite para a barriga, o rabo e as coxas, para as pernas cansadas, para os pés doridos, tem de se recomeçar tudo de novo. Isto para já não falar nos nossos problemas específicos: pele vermelha, pele demasiado pálida, borbulhas, pontos negros, acne, caspa, pele seca, pele mista, pele oleosa, cabelo seco e quebradiço, cabelo rebelde, sem brilho, que frisa com a humidade, com caracóis indefinidos, com quebras, com remoinhos... ufa. E isto é só o principio, porque depois há os defeitos estruturais que lamentamos todos os dias mas não podemos fazer muita coisa para alterar: pernas curtas, tronco curto, cintura pouco definida, braços demasiado magros ou gordos, pescoço curto ou ancas largas, rabo demasiado saliente ou demasiado largo, pernas tortas, pés grandes, peito do pé alto, mãos sapudas, unhas deselegantes, nariz grande, pequeno, largo, aquilino... Acreditem, a lista dos possíveis defeitos não tem fim.
Estiveram as minhas colegas a debater o problema do peso como se fosse a coisa mais vital do mundo. Arte, política, literatura, cinema, música, acontecimentos recentes, filosofia, todos estes assuntos empalidecem perante a importância vital daquela nova dieta que, em duas semanas nos desce um número na roupa e nos cura os problemas existênciais... Mas, desculpem, é só um pequeno pormenor: não cura. Algumas das minhas colegas não precisavam de modo nenhum a receita dos comprimidos para emagrecer e, também elas, se lamentavam amargamente.
Somos um género neurótico e sofredor, nunca estaremos bem. Somos ensinadas por todos: os homens, as outras mulheres, os media, a odiar-nos a nós mesmas. A não usufruir do nosso corpo. Aconteça o que acontecer, poderiamos ser sempre melhores, mais giras, mais magras, mais perfeitas. Gastamos o nosso tempo, muito do nosso dinheiro e da nosssa disponibilidade mental a tentar deter o avanço inexorável das nossas imperfeições. É horrível. Não há quem invente um chazinho milagroso, uma dieta infalível que nos faça deixar de ser neuróticas e de gozar a vida como somos e não como gostariamos de ser? Não? É pena.

segunda-feira, maio 07, 2007

Tudo o que os homens precisam de saber sobre as mulheres está nos filmes românticos



Não é novidade para ninguém que aquilo que a maioria dos homens sabe sobre as mulheres não dava para ocupar a parte detrás de um selo de correio. Escrevia-se a palavra nada e o resto era espaço em branco, certo? Certo.
A culpa desta alienação não é exactamente deles, apesar de deus saber que são mais cegos que toupeiras com cataratas no que diz respeito às mulheres, para o bem e para o mal. A culpa desta situação, é, e a verdade não se pode escamotear, da cultura e da sociedade em que estão inseridos. Vejamos pois, quais são as fontes de informações sobre nós que o homem tem enquanto cresce. Antes de mais, a mãe. Não preciso de dizer como as mamãs dos meninos os mimam e tratam como se fossem pequenos reis, pois não? Pensem nas vossas sogras. Delas, eles aprendem que são especias e que a vontade deles é mais importante que a das mulheres, bem como não têm obrigação de ajudar em casa. Não é tarefa deles. Depois, temos as irmãs. Aqueles que têm irmãs mais velhas, aprendem que as mulheres são seres chatos e misteriosos de quem é melhor distância. Aprendem também que o tempo de uso de casa-de-banho de uma mulher é superior ao de um homem e pouco mais. Se as manas forem mais novas, aprendem que são seres frágeis a quem devem proteger, quer elas queiram, quer não. Por último, temos os filmes e as revistas. Não se enganem, minhas queridas, a ver filmes ou revistas estas têm de ter alguma (ou muita) nudez, senão não lêm. Um homem não lê a Elle ou a Cosmopolitan, muito menos a Telenovelas. Um homem lê a Playboy, a Penthouse ou a FHM e filmes de senhoras pouco vestidas a fazer contorcionismo, ou vai à internet directamente e vê pornografia barata. Quando chegam à adolescência e têm outros modelos femininos, as professoras, já eles as encaixam num destes três esterotipos. Ou bem que são mãezinhas ou manas (se forem mais novas), ou bem que são sonhos molhados como as rainhas topless das revistas e dos filmes que vêm. E não há nada a fazer. A ter sonhos românticos da parceira ideal, estes serão derivados dos filmes de acção de um Steven Seagall ou de um Van Damme: seres perfeitos de copa D e inocentes (nos fimes acabam por morrer no início, desencadeando a fúria vingadora do herói e, por isso, justificando duas horas de pancadaria e explosões de carros), tão superiores e perfeitos que nenhuma mulher real poderá jamais igualar.
O que os homens não percebem, ou não estão para se dar ao trabalho de perceber, é que procurar as chaves para a alma e a psique feminina em filmes pornográficos é o mesmo que fazer castelos na areia: divertido mas, em última análise, inútil. Para nos conhecerem andam a ver os filmes errados.
Um homem minimamente inteligente percebe que as mulheres reais, apesar de terem os seus momentos, não são as deusas do sexo desses filmes, eternamente prontas, disponíveis e com uma colecção infindável de corpetes e meias de liga. Aquilo que nós somos está mais nos filmes que nós vemos, os românticos, que nos que eles vêm. Quando vão ao cinema, em vez de refilarem com a namorada que vão ver um filme para gajas deveriam agradecer o facto de ir ver um filme sobre gajas e levar o bloco de notas para apontar as ideias mais importantes.
Porque razão hão-de os homens de querer tirar notas e saber o que as mulheres querem? Porque é melhor para eles. Captar o interesse de uma mulher, sobretudo se se é giro, não é difícil. Fazer a atracção evoluir para mais que uma reboladela no feno ocasional já não. E, ou um homem se dispõe a conhecer a mulher que deseja, ou está tramadinho e não vai a lado nenhum. Sobretudo se a tratar como a actriz principal do Nuas e Quentes ou pior, como a mãezinha.
Os filmes de "gajas" como eles dizem são da categoria do romance porque é isso mesmo que a maioria de nós queremos, ROMANCE. Quer dizer não é que não queiramos também paixão, mas as duas coisas para nós andam quase sempre ligadas, enquanto para eles, não.
Aprende mais um homem sobre o que nos faz apaixonar no Piano ou no Sleepless in Seattle que numa resma de filmes do Van Damme, e isso é uma verdade inegável. E o que nós queremos? Ser queridas e valorizadas, sentirmo-nos especiais. Sentir que lutam por nós, e que isso tudo vale a pena.
Para todos os meus leitores masculinos, aqui fica uma filmografia obrigatória (sumária). As minhas leitoras podem sugerir outros, se quiserem:
- Gone with the wind- para aprender a lidar com mau-feitio;
- All that heaven Allows - para vencer preconceitos;
- All about Eve- para perceber como são as mulheres umas com as outras quando os homens não estão a ver;
- An affair to remember- para dar valor à seriedade e persistência;
- The way we were- para perceber porque continuamos a amar, mesmo quando já não nos querem;
- When Harry met Sally- porque algumas coisas são inevitáveis;
- While you were sleeping- porque o amor nos dá um sentimento de pertença;
- The piano- porque o amor nos leva a correr imensos riscos;
- Sleepless in Seattle- porque simplesmente é muito romântico;
- The mirror has two faces- porque amamos com inseguranças que nos destroem;
- The bridges of Madison County- porque o amor aparece sempre e guardamo-lo como se fosse a coisa mais preciosa;
- You've got mail- porque o amor nem sempre é o que esperamos.
Always watch good moves e divirtam-se ...

sexta-feira, maio 04, 2007

Histórias de fadas para meninas más



É uma verdade insofismável, diz a Capuchinho, os lobos têm sempre mais interesse que as estradas seguras, vá-se lá saber porquê...

quinta-feira, maio 03, 2007

EMO

Para aquelas de nós que passam a vida rodeadas de adolescentes, a ponto de achar que as pessoas vêm todas naquele formato, as modas culturais são fenómenos interessantes, a maior parte das vezes cómicos e tão efémeros que nos fazem sentir velhas de tantos que já vimos.
Dos deliciosos grunge da nossa adolescência até aos dias de hoje já vimos chegar e partir mais estilos que aquilo que gostamos de nos lembrar. Desde a malta trance e neo-hippy aos metrossexuais já vimos de tudo-mesmo. Mas poucas modas são mais irritantes que os Emo que povoam escolas e bares por esse mundo fora.
Claro que se vocês não passam os vossos dias rodeadas de adolescentes ou jovens adultos, uma pergunta se impõe: o que é um emo? Ah, minhas amigas, antes não quisessem saber.
A palavra emo vem de emocional e designa, grosso-modo homens lingrinhas de cabelo preto sobre os olhos, escadeado, e uma tendência alarmante para a depressão, as roupas pretas, os ténis all stars, casacos informes de malha preta, piercings e albuns dos Placebo ou dos My Chemical Romance e All American Rejects. Um emo não fala, choraminga. Um emo está permanentemente de luto pela vida porque e cito "life is pain", quer porque a namorada o deixou ou porque se acabou a tinta preta de cabelo no supermercado para retocar as raízes. Um emo escreve poesia, tal como ele, deprimente, ouve musica deprimente, veste-se de forma deprimente e tem espaços no myspace ou no hi5 igualmente deprimentes. Não é que não sejam atraentes, que são, têm um certo ar de vulnerabilidade andrógena muitas vezes irresistível. Mas um homem emo é um perigo atroz.
Minhas amigas, se encontrarem um homem emo (sim, não são todos adolescentes impressionáveis) fujam. Se não der para fugir, despertem a cabra que há em vocês e dêm um pontapé metafórico no rabo daquele ar de cachorrinho abandonado e famélico. Nunca, mas nunca, sob hipótese ALGUMA, lhes deixem desprtar o lado maternal e lhes dêm colo. É praticamente o mesmo que criar uma colónia de cascavéis na banheira do vosso apartamento: estúpido, letal e perfeitamente escusadinho.
Eu sei, minhas queridas, o chato que é lidar com os homens de hoje em dia, são insensíveis, fechados e tão divorciados das próprias emoções que parece que as guardam num continente diferente daquele que habitam. MAS, e este mas é importante, vocês não querem um homem tão emocional e sensível que vos faz parecer monstros insensíveis da mais gelada pedra. Não querem um homem cheio de devaneios depressivos e vontade de fazer um pacto suicida com a mulher da sua vida para acabar com a dor de existir. É insustentável. Após a primeira semana de agradável contraste de estarem com um homem que vos conta exactamente como se sente, ou são arrastadas para o seu mundo e se transformam numa emo (sim, porque emo é estado de espírito, não género ou orientaçao sexual), ou dão em doidas. Agora, perguntem-se a vocês mesmas: estão mesmo dispostas a passar a vida com um mau cabelo preto escadeado (vosso ou dele, tanto faz), ou a ir parar a uma bela cela almofadada? I don't think so. E vão por mim, queridas, que tenho experiência pessoal no assunto.
Claro que há outro cenário possível: alguém no vosso círculo pessoal já é emo. E agora? Antes de mais, minhas queridas, recebam toda a minha solidariedade e simpatia. Depois, os conselhos. A primeira coisa que têm de se capacitar é que é, muito provavelmente, uma fase passageira. Antes um namorado emo que um que saia todas as noites para bares frequentados por cidadãs brasileiras e de leste que o convidam a pagar-lhes copos. A segunda é a de se manterem firmes: nem mais uns ténis all star para o guarda-roupa, nem mais um cinto de tachas ou umas Levis pretas, nem mais um blusão de desporto retro (à anos 70) azul marinho. Quando a roupa cair de velha e podre e tiver de comprar nova, com sorte já a moda passou. Se forem ainda estudantes, deixem-nos acabar os estudos. Nada como uma boa dose de vida real, de contas para pagar e responsabilidades para curar estes devaneios. Se tiver de trabalhar em vez de amuar no quarto, na casa dos pais, não vai ter tempo nem vontade de se pôr a cortar pulsos e a dizer que a vida não faz sentido. Por último, e se nada disto resultar, transformem o pontapé metafórico no posterior do moço num pontapé a sério. Parece duro, mas às vezes uma mulher tem de fazer o que tem de fazer e eles até agradecem: uma rejeição dá-lhes material para dezenas de poemas deprimentes e amuos que a vida é dor. E assim ficam os dois contentes...

quarta-feira, maio 02, 2007

Eye Candy

José Mourinho
(Hum... the special one...)