terça-feira, maio 29, 2007

A dinâmica de casal


Todos sabemos o que está por detrás dos princípios (atracção, luxúria, amizade, amor, coisas em comum, opostos) e o que está por detrás dos fins (traições, mentiras, fim do amor, incompatibilidades). Tudo o que está no meio é o mais profundo e insondável mistério. Se o que faz juntar casais já nos faz espécie, o que os faz permanecer juntos anos e anos ainda faz mais. Como todas as relações são a dois e não sociedades por quotas, só os dois sabem. Aliás, às vezes, nem eles. Por exemplo,o que faz a Miss Piggy e o Cocas permanecer juntos, sendo ela a diva larger than life e ele o sapo hiperhiperactivo? Ninguém percebe, e no entanto estao juntos há mais de trinta anos, um exemplo sem precedentes no mundo da marretagem.
Fora de brincadeiras, a dinâmica de casal é tão difícil de perceber como de evitar, ou não fossemos nós cheios de defeitos, manias e excentricidades que têm de conjugar com as de outro de forma manejável. Os meus vizinhos de cima, por exemplo, adoram discutir, ou melhor, não sei se adoram, mas discutem bastante, de portas batidas e coisas partidas às três da manhã. E no entanto vivem juntos, que eu saiba, há dez felizes anos e sem intenção nenhuma de interromper. A mim, pessoalmente, uma relação assim levava-me à loucura, mas para eles, muito provavelmente, dia em que não discutam é um dia desgraçado. Como diz um conhecido meu, notório pela mulher dominadora com que casou, se ela não ralha comigo ou está doente ou já não gosta de mim e sinto-me negligenciado. Em qualquer dos casos a ausência do ralhete já é sinal de alarme.
Mas isto é apenas um dos muitos possíveis aspectos incompreensíveis da dinâmica de casal. Há aqueles casais em que se vestem a combinar e terminam as frases um do outro a ponto de parecer partilharem o mesmo cérebro e personalidade ( o que é giro de ver mas ligeiramente irritante) , há aqueles que concordam em discordar, aqueles que parecem não ter nada a ver uns com os outros e se adoram, etc. etc. etc.
As relações são uma espécie de prolongamento das pessoas que as constroem, coisas vivas, dinâmicas e mutáveis, com ciclos de vida, como os seres humanos. Não são um controlo de acções em que um gosta mais que o outro, ou um manda mais que o outro. São, por definição e vocação, alteráveis e voláteis.
Para quem está de fora a ver correr o marfim, uma dinâmica de casal pode ir do divertido ao constrangedor, sendo que, uma vez sugados para dentro do circulo de intimidade dos dois, somos testemunhas e reféns ao mesmo tempo. Podemo-nos sentir constrangidos e com a ideia de que estamos a assistir a algo que não devemos, mas podemos ver o círculo de intimidade dos dois que forma um elo, tão constrangedor como comovente. De qualquer maneira, é deixar passar, porque se o amor for forte, e valer a pena, permanece, por mais estranha que seja a dinâmica de casal. Olhem a Miss Piggy e o Cocas. Olhem o que diz a Julia roberts ao Bradd Pitt na Mexicana:
"Samantha: I have to ask you a question. It's a good one so think about it. If two people love each other, but they just can't seem to get it together, when do you get to that point of enough is enough?
Jerry: Never. "
Precisamente.

2 comentários:

Anónimo disse...

Mas olha que o Jerry estava muito em- é um tipo de raciocício muito mais feminino do que masculino. Tenho a ideia de que que para os homens o amor é muito mais descartável do que para as mulheres

Sempre

Su

Passionária disse...

Sim, é verdade, e também nem todas de nós esperam pacientemente que as coisas se resolvam... Ás vezes esqueço-me e meço os outros por mim...
beijinhos a ti e à tua Emma:
i.