Durante uma manhã inteira, o tema de conversa das minhas colegas de trabalho foram dietas. Uma delas tinha acabado de descobrir uns comprimidos milagrosos e um chá que parecia a resposta para todos os seus problemas. As outras ouviam atentamente, faziam perguntas, trocavam ideias e nomes de comprimidos, discutiam com afinco a sua distribuição de gordura pelo corpo, o trânsito intestinal, a retenção de líquidos. Eu, que estava no cubículo ao lado, ouvi e calei. Não tinha nada para acrescentar à conversa, nem mesmo interesse bem educado, apesar de, por força das circunstâncias, me ver obrigada a ouvir.
Ser mulher é uma seca, dá trabalho e é frequentemente frustrante, deprimente. Como soldados numa guerra temos de estar sempre alerta ao próximo inimigo, seja ele a celulite, a ruga ou a ponta espigada. É uma tarefa que exige atenção constante, nunca está pronto nem completo. Mal se retocam as raízes, faz-se a depilação, a limpeza de pele, arranjam-se mãos e pés, faz-se a massagem, hidrata-se o corpo e a cara, aplica-se creme específico para o contorno dos olhos, da boca, para o pescoço, os cotovelos, reafirmante para os seios, anti-celulite para a barriga, o rabo e as coxas, para as pernas cansadas, para os pés doridos, tem de se recomeçar tudo de novo. Isto para já não falar nos nossos problemas específicos: pele vermelha, pele demasiado pálida, borbulhas, pontos negros, acne, caspa, pele seca, pele mista, pele oleosa, cabelo seco e quebradiço, cabelo rebelde, sem brilho, que frisa com a humidade, com caracóis indefinidos, com quebras, com remoinhos... ufa. E isto é só o principio, porque depois há os defeitos estruturais que lamentamos todos os dias mas não podemos fazer muita coisa para alterar: pernas curtas, tronco curto, cintura pouco definida, braços demasiado magros ou gordos, pescoço curto ou ancas largas, rabo demasiado saliente ou demasiado largo, pernas tortas, pés grandes, peito do pé alto, mãos sapudas, unhas deselegantes, nariz grande, pequeno, largo, aquilino... Acreditem, a lista dos possíveis defeitos não tem fim.
Estiveram as minhas colegas a debater o problema do peso como se fosse a coisa mais vital do mundo. Arte, política, literatura, cinema, música, acontecimentos recentes, filosofia, todos estes assuntos empalidecem perante a importância vital daquela nova dieta que, em duas semanas nos desce um número na roupa e nos cura os problemas existênciais... Mas, desculpem, é só um pequeno pormenor: não cura. Algumas das minhas colegas não precisavam de modo nenhum a receita dos comprimidos para emagrecer e, também elas, se lamentavam amargamente.
Somos um género neurótico e sofredor, nunca estaremos bem. Somos ensinadas por todos: os homens, as outras mulheres, os media, a odiar-nos a nós mesmas. A não usufruir do nosso corpo. Aconteça o que acontecer, poderiamos ser sempre melhores, mais giras, mais magras, mais perfeitas. Gastamos o nosso tempo, muito do nosso dinheiro e da nosssa disponibilidade mental a tentar deter o avanço inexorável das nossas imperfeições. É horrível. Não há quem invente um chazinho milagroso, uma dieta infalível que nos faça deixar de ser neuróticas e de gozar a vida como somos e não como gostariamos de ser? Não? É pena.
2 comentários:
acho que andava a precisar de "ouvir" isso...
Beijos e bm fim de semana
Dietas, cruzes canhoto! Vá de retro Satanás...
Toda a minha família e amigos(;)) sabem que eu gosto de comer. Quando nalgum dia digo "não me apetece", a reacção espantada é tipo "estás doente?!" ou "estás de dieta?!". Lanço um olhar tipo "vocês estão parvos ou quê?! eu de dieta?"
Quando olho para os "restos" da gravidez, a barriga mais saliente, os pneus, as mamocas que ficam mais caidas(também consequência da idade), tenho um sentimento duplo. Penso que isto já não vai compor facilmente mas, por outro lado, tenho orgulho porque são consequências duma situação maravilhosa: a gravidez. Como te dizia, consegui um objectivo na minha vida que foi trazer ao mundo um ser muito importante: o teu sobrinho.Aí paro com a parvoeira.
A situação que me traz mais complexos é as minhas pernas, não pela forma, mas pelo aspecto que umas certas malandras dão. É muito raro vestir saias por isso. As pessoas têm muita tendência para olhar e comentar, além de fazer perguntas parvas. O (pouco) cuidado que tenho com o meu peso é poe esse motivo, visto que naturalmente já tenho peso concentrado nas pernas.
Quanto a dietas com chazinhos e comprimidos, devo informar-te que noutro dia(já há alguns meses, num momento muito animado, not) comprei uma caixa com umas saquetas para diluir em água. Parece que reduz o apetite, mais concretamente enche o estômago de água. Até hoje não sei qual é o sabor daquilo, se é que tem algum.
Tás a ver a importância que dou às "coisas da linha"
Uma frota,
a tua C.
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