sexta-feira, abril 20, 2007

O soundtrack das nossas vidas


Se os homens são como as séries de televisão, não é verdade que também não sejam como a música: há para todos os gostos, e a sua escolha é pessoal e intransmissível, muitas vezes ilógica e incompreensível para quem está de fora.
Aliás, e vistas bem as coisas, não são só os homens que são como a música, mas o amor em si, omnipresente e com milhares de formas. O amor, como a música, não se explica nem se racionaliza, simplesmente é, seja da forma ou do tipo que seja.
Não sei se com vocês acontece a mesma coisa, mas comigo sim: a música marca-me a vida e está sempre lá, a acompanhar o amor e a dor e a perda, e, tempo depois, quando tudo passou já, fica aínda na música a memória fantasma desse tempo e dessas emoções, assim mais ou menos como pickles de amor preservados nas notas da música.
Enquanto pequenos nunca nos qustionamos sobre a música, ouvimos o qu os nossos pais ouvem, o que se ouve na rua. Só quando começamos a dar acordo de nós enquanto indivíduos, na adolescência, é que começamos a desviar para uma escolha pessoal. Por exemplo, não posso ser responsabilizada pela quantidade brutal de José Cid que ouvi e ainda sei cantarolar, o mesmo sendo verdade para o Marco Paulo, as Doce ou a Cândida Branca- Flor: simplesmente na altura estava na moda e era o que se ouvia.
Na adolescência, amamos como ouvimos música: parvamente. Somos novas, lamechas, não pensamos. Ainda me lembro de ouvir, no início da adolescência , o Rick Astley, o Bryan Adams ou as músicas dos Onda Choc e suspirar pelo T. que nem uma ovelha desmamada e com essa mesma expressão. Tinha doze anos e todo o direito a isso. Era, aliás, a minha obrigação moral fazê-lo. Agora olho para trás e apenas sinto uma nostalgia vaga com essa música e esses amores, afinal, nada é definitivo nessa altura.
Amamos, também na adolescência, com rebeldia, como se ser rebelde passasse por rasgar os jeans (passei meses de castigo por essa graça em particular), levantar as golas das camisas (deus, os anos oitenta, deus!) ou rechear o blusão de ganga com autocolantes da Bravo. Atraem-nos os rebeldes com o seu look muito à frente, ao som do que está na moda. O nosso querer ser diferente na altura é ser o diferente dos miudos cool e das músicas do top. É mesmo assim.
Quando somos adultas a música é, aí sim, como os homens, uma escolha. Já não queremos necessariamente o que está no top mas uma coisa mais séria, mais de acordo com o que nós somos. Quando falo de uma banda à minha amiga Su, e lhe digo que é uma musica à mim, já ela sabe o que isso significa: esquisita e pouco conhecida, alternativa na melhor das hipóteses. Ou seja, imaginem lá que tipo de homens prefiro, sim?
Os psicólogos têm razão, as nossas escolhas representam aquilo que nós somos, mesmo numa coisa tão aparentemente irrelevante como a música. Por isso o soundtrack das nossas vidas será assim, como a vida que levamos. Como os homens que vamos amando. O meu soundtrack está carregado de guilty pleasures, faixas alternativas, alguma ópera para dramatismo... E a vossa, como é?

4 comentários:

elisa disse...

Estranhamente (ou não) os homens por que me apaixonam estão no oposto da minha música....mas são sempre homens ligados à música. Será que assim também conta?

Passionária disse...

afinal, não sou a única com queda para "artistas",lol.

Anónimo disse...

Sou apaixonada pela Band Dave Matthewes Band desde os meus 18 aninhos, oiço e compro religiosamente os cd's e identifico-me com as letras e com o ritmo daquela musica suave e bem feita. Tive uma paixoneta pelo próprio Dave - numa altura que ele estava gordito ;)e eu desesperadamente á procura do meu principe. Agora vem a parte da psicologia: o meu marido chama-se David ( ou Dave á portuguesa) Coincidência?

Anónimo disse...

Os homens que amei- e repara: estou a falar de homens e de amor, e por isso excluo tudo o que se passou antes dos meus 27 anos- foram muito diferentes uns dos outros. Tinham em comum apenas 2 coisas:a falta de musicalidade, de ritmo nas veias, de amor pela música e a canalhice, a maldade com que me amaram (?). Agora que penso nisso, acho que deveria ter tomado a primeira como sintoma da segunda, mas eu era- não exactamente nova, mas parva e foi assim que amei como a minha Madam Butterfly, ou como a Traviatta(lembras-te de Cáceres?)A música esteve sempre comigo e foi o meu amparo, um dos meus ombros amigos. Essa época está cheia de vozes fortes e sensuais, de drama e até de tangos... Leonard Cohen e companhia... Enter Vlad... e a música da minha vida tomou nuances mais cool- mais como um certo estado de embrieguez de sexta feira à noite- calma e sem excessos- Doors, Stones,Jazz, Clássicos e uns poucos que até tu, passionária acharias estranhos, como Finley Quay. O Vlad não dança para salvar a vida- tem um pézinho de chumbo que valha-o Deus- e tu sabes que eu adoro dançar- mas tem música na alma e no coroção... e isso trouxe-me paz, contentamento... Mais do que isso não posso desejar

Sempre tua
Su