sexta-feira, abril 27, 2007

Moralidade feminina segundo as DOCE



Eu, quando era pequena, para além de querer ser bailarina, cozinheira, professora, advogada e ter muitos filhos, queria ser uma Doce. Não importava qual, uma delas, dava o mesmo.
O apelo das doce não era só as roupas fabulosas que usavam (mostrem-me uma miúda, uma só de sete anos que não babe por este fato à mosqueteiro), a maquilhagem e os sapatos (isto foi mais ou menos em que comecei a adorar brincar com os sapatos de salto da minha mãe, com as consequências imagináveis) mas sim, e sobretudo, o à vontade delas. Elas eram belas, fabulosas e adoravam sê-lo.
A música delas era uma lufada de ar fresco. Nada de letras pesadas de cantautores, (Sérgio Godinho lançaria um ano depois o mítico Coincidências e passou-me ao lado), nada de miudas choramingas que o seu amor as tinha deixado. Não. As doce eram gajas de saír noite fora, ou então ficar em casa e fazer render devidamente o tempo, como diz o seu Bem Bom:

"
Uma da manhã
Um toque, um brilho no olhar
Duas da manhã
Dois dedos de magia
Às duas por três
Quem sabe onde isto irá parar
Quatro da manhã caindo
Um luar de lua lindo
Uma gota a mais
E o chão ia fugindo

Uma da manhã ei bem bom
Duas da manhã bem bom
Já três da manhã ei bem bom
Quatro da manhã bem bom
Cinco da manhã ei bem bom
Já seis da manhã bem bom
Sete da manhã ei bem bom
Oito da manhã bem bom
Café da manhã p’ra dois
Sem saber o que virá depois bem bom" .

As Doce eram soltas e liberais, as Doce tomavam iniciativa sem vergonhas nem falsos pudores:
"Fecha a porta apaga as luzes
vem deitar-te a meu lado
dá-me um beijo e o meu desejo
vem ficar acordado

Vem amor a noite é uma criança
e depois quem ama por gosto não cansa

Amanha de manhâ

Vamos acordar e ficar a ouvir
a rádio no ar a chuva a cair
eu vou-te abraçar e prender-te então
no corpo que é teu na cama no chão

Os nossos lençóis e colcha de lã
eu vou-te abraçar amanha de manhâ"

As doce não se coibíam de apreciar o físico masculino e de o dizer alto e bom som, bem como apreciar as potênciais actividades ludico-desportivas queeles podem proporcionar:
"Ali Baba
mil e uma noite que passámos juntos
mil e uma histórias que contámos juntos
mil e uma diabrubras
tu sempre foste de loucuras
mil e uma coisas sabias
tu sempre foste um home das arabias".

As Doce eram mulheres que sabiam o que queriam e não permitiam ser ignoradas, a vingança servia-se assim, com sal:

"Qualquer dia Amor, vais mudar de côr
Vou servir o teu café com sal
Embrulhar o pão no teu jornal
Pela manhã...

Qualquer dia Amor, vais mudar de côr
Vou passar a ferro os teus sapatos
Engraxar as calças dos teus fatos
Fica-te bem... "

E, quando acabava o amor, bom, também não era o fim do mundo, que homens, como chapéus, há muitos, sobretudo palermas:
"Depois de ti, ficou o teu lugar
Na cama onde morri
De tanto de esperar
Chorei, mas acordei, por fim
Esta vida é mesmo assim".
Isto, minhas senhoras, é que é applomb, é que é classe. As doce abriram-me novos horizontes e novas perspectivas, muito para lá do modelo das mãessempiternasdonasdecasadepermanenteeavental. E sabem, não é que ainda hoje acho que as moças tinham razão?

4 comentários:

elisa disse...

Deste-me um olhar completamente novo sobre as doce:)!lindo!!lol
beijinhos e bom fim de semana

Anónimo disse...

Ora aí está um blast from the past. Dei por mim a cantar as canções ao mesmo tempo que estava a ler... já me ri um tanto hoje.
Pena que para estragar a pintura uma das Doce acabou por ser a Àgata (não vale a pena dizer muito mais...) o que foi uma traíção ao espírito Doce.
Beijo


Su

PS- o que achas de Emma?

Passionária disse...

Emma? Sim, não está mal, e é curtinho e simples de pronunciar...
Beijinhos...

Obrigada pela resposta, Elisa, nós fazemos o que podemos ;)

Anónimo disse...

www.myspace.com/doceofficial