A malta que, como eu, está agora nos trinta é uma geração estranha: crescemos no pós 25 de Abril, na normalidade democrática mas não nos coibiu de ter uma educação, em muitas coisas, muito tradicional (e retrógrada). Culturalmente, estamos dependurados a meio dos 80 e dos 90, nem bem o cool dos new romantics, porque éramos muito novos, nem bem o angst grunge dos 90, porque estávamos a ficar demasiado crescidos. Somos aquilo que se chama zebras culturais, pareceríamos cavalos, se não fossem as riscas brancas, pareceríamos unicórnios, se não fossem as riscas pretas. Uns seres híbridos e desconfortáveis consigo mesmos.
Enquanto geração, não nos foi permitida a estabilidade social da geração anterior, a dos nossos pais, onde quase não havia mobilidade social e cada qual se mantinha, quase sem excepções na sua classe toda a vida, mas também não temos a flexibilidade social dos que nos seguirem, muito mais uniformes nos símbolos de status que nós.
Emocionalmente, também estamos a meio de uma coisa desconfortável, os últimos filhos de casamentos que duravam, e se não eram felizes, pelo menos eram duráveis e os que nos seguiram, para quem a finitude dos casamentos é um facto comum da vida, com menos dramas que o que seria de esperar.
Esta nossa natureza híbrida, nem bem no que Portugal foi, nem bem no que Portugal é, é, atrever-me-ia a dizer, uma das principais fontes das nossas angústias. Não somos os nossos pais, não poderíamos jamais ser como eles, mas também não conseguimos o blasé de quem está agora nos vintes, que é muito mais auto-indulgente consigo próprios. As nossas relações falham-nos nas mãos, os nossos empregos falham-nos na carteira e na estabilidade e estamos sempre no quase: quase felizes, quase satisfeitos, quase completos. Mas como diz o Sá Carneiro, não chegamos nem a asa, nem a brasa por causa desse quase.
Nas nossas experiências de vida, vemos que o que nos foi prometido na infância optimista do pós-25 de Abril onde os programas infantis tinham o toque do Sérgio Godinho (um luxo absoluto, os amigos do Gaspar e a árvore dos patafúrdios): nem a paz, nem o pão, nem a solidariedade, até nem mesmo a democracia. Também não somos tecnológicos o suficiente para encontrarmos na tecnologia, no mundo virtual, a nossa forma de oblivion pessoal. Que tempos estranhos são estes, em que muito pouco do que somos serve? Que tempos são estes onde estamos sempre um bocadinho ao largo do zeitgeist?
À nossa geração de zebras chamou Douglas Coupland X, a incógnita, e não se pode dizer que o epíteto não está bem atribuído: temos na nossa sina sermos uma espécie híbrida e misturada, entre a esperança e o desespero, entre o zen e o activismo, entre o whatever e o now. E às vezes pergunto-me se não seremos, tal como as zebras, uma espécie em vias de extinção, e no futuro as coisas serão mais definidas, ou a branco, ou a preto, conforme as perspectivas. O que será sempre mais fácil que este muro onde estamos, sem dúvida.
Enquanto geração, não nos foi permitida a estabilidade social da geração anterior, a dos nossos pais, onde quase não havia mobilidade social e cada qual se mantinha, quase sem excepções na sua classe toda a vida, mas também não temos a flexibilidade social dos que nos seguirem, muito mais uniformes nos símbolos de status que nós.
Emocionalmente, também estamos a meio de uma coisa desconfortável, os últimos filhos de casamentos que duravam, e se não eram felizes, pelo menos eram duráveis e os que nos seguiram, para quem a finitude dos casamentos é um facto comum da vida, com menos dramas que o que seria de esperar.
Esta nossa natureza híbrida, nem bem no que Portugal foi, nem bem no que Portugal é, é, atrever-me-ia a dizer, uma das principais fontes das nossas angústias. Não somos os nossos pais, não poderíamos jamais ser como eles, mas também não conseguimos o blasé de quem está agora nos vintes, que é muito mais auto-indulgente consigo próprios. As nossas relações falham-nos nas mãos, os nossos empregos falham-nos na carteira e na estabilidade e estamos sempre no quase: quase felizes, quase satisfeitos, quase completos. Mas como diz o Sá Carneiro, não chegamos nem a asa, nem a brasa por causa desse quase.
Nas nossas experiências de vida, vemos que o que nos foi prometido na infância optimista do pós-25 de Abril onde os programas infantis tinham o toque do Sérgio Godinho (um luxo absoluto, os amigos do Gaspar e a árvore dos patafúrdios): nem a paz, nem o pão, nem a solidariedade, até nem mesmo a democracia. Também não somos tecnológicos o suficiente para encontrarmos na tecnologia, no mundo virtual, a nossa forma de oblivion pessoal. Que tempos estranhos são estes, em que muito pouco do que somos serve? Que tempos são estes onde estamos sempre um bocadinho ao largo do zeitgeist?
À nossa geração de zebras chamou Douglas Coupland X, a incógnita, e não se pode dizer que o epíteto não está bem atribuído: temos na nossa sina sermos uma espécie híbrida e misturada, entre a esperança e o desespero, entre o zen e o activismo, entre o whatever e o now. E às vezes pergunto-me se não seremos, tal como as zebras, uma espécie em vias de extinção, e no futuro as coisas serão mais definidas, ou a branco, ou a preto, conforme as perspectivas. O que será sempre mais fácil que este muro onde estamos, sem dúvida.
4 comentários:
Olá! Boa noite!
Ser uma zebra... bem já me chamaram-me muita coisa, de facto muitos de nós nascemos no pós 25 de abril e ainda há aqueles que são "filhos" de abril, e os que nasceram um bocadinho antes de abril.
mas no fim somos todos filhos da mesma geração, e 10 anos é muito tempo, mas esse tempo à medida que crescemos vai esbatendo-se.
fico com a ideia que como zebras, somos uns inadaptados, que ficamos entre a geração tradicional, retrograda e classicista e a geração pseudo moderna, se calhar geração da informática, que sem ter um PC não existe.
nós, e pegando nos e-mails que por aí correm, ainda somos daqueles que temos amigos... não virtuais, vivemos antes da era da informática, dos telemóveis, e de todas as coisas que hoje uma criança nem imagina a vida e o mundo sem elas.
quem podia, andava de bicicleta, skate, partia a cabeça, e lá ia para casa todo contente, hoje uma criança para ficar mais uma hora na escola, porque está num curso profissional, e tem que cumprir todas as horas do curso, tem que escrever uma carta aos encarregados de educação para saberem que aquela coisa que eles às vezes chamam de filho/filha ficará mais uma hora na escola sem os incomodar nas suas vidinhas enfadonhas, não produtivas, incultas e sabe-se lá mais o quê.
comparativamente com nós, zebras, os miúdos de hoje não lêem nada, nem sabem bem o que é um livro ou para que serve.
Bom fim-de-semana
Antes Zebra... que pertencendo a uma "geração rasca" como um dia nos apelidou o actual Presidente da República... levou tempo para que ele percebesse que de rasca só mesmo os políticos que parasitam nesta nossa jovem e incoerente Democracia de Abril...
Bjs
P*
Não tenho a certeza, mas parece-me que o autor do termo "geração rasca" foi Vicente Jorge Silva...N
É verdade, apesar de mais uns 5 aninhos, identifico-me com o que escreves neste texto, como sabes, amiga I. Bjos, N
Que somos uma espécie em vias de extinção não há dúvida nenhuma! Mas o que aí vem não augura nada de bom, acredita. Pelo menos ainda conseguimos ter paixão naquilo que fazemos e esta tua casa é um exemplo vivo disso.
Beijinho de morango com chocolate...
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