terça-feira, julho 22, 2008

Da pesca por arrastão


Homens há que encaram as mulheres como peixe. Preparam cuidadosamente o isco, sentam-se calmamente e esperam que o peixe morda. Há outros que não, nem por isso. Em vez do trabalho que dá apanharem um de cada vez, de escolher o isco mais apetecido para aquele peixe em particular, lançam a rede e o que vier por arrasto, é lucro. E se os primeiros me enchem e desconfiança, pois um homem paciente e calculista é do piorzinho, os segundos não deixam de me divertir em grande medida. Não porque são pouco exigentes, mas sim porque são descarados e honestos acerca das suas expectativas numa mulher. E não há nada mais refrescante que um homem absolutamente honesto, mesmo que essa honestidade o leve a confessar ser um engatatão em série.
Trazia uma T-shirt que o proclamava EL MATADOR, e uma personalidade que combinava com a t-shirt. Como quem não quer a coisa, estou convencida que conseguiria vender aquecedores aos alentejanos nesta altura do ano, e olhem que os 40 graus estão sempre à vista. Em menos de meia hora vendeu um livro dele. A um outro que por acaso até é dono de uma livraria, por isso estão a ver a lata. O segredo, dizia ele, é ser-se sempre cortês e bem educado com toda a gente meninas) sobretudo. Compensa sempre, continuava, porque se não caírem à primeira, caem à segunda ou à terceira. E pelos vistos caem mesmo.
Não era especialmente bonito, ou especialmente alto, ou especialmente musculado. Mas tinha lata. Tanta, que dava para fazer uma reprodução da Enterprise à escala de 1/10. Visto a minha t-shirt rosa bebé, dizia ele, que as mulheres gostam sempre do toque metro, e rosa bebé, atenção, nada de lavanda, ou fucsia, ou rosa choque (um homem que conhece e distingue todos estes tons de rosa é um espectáculo), e depois lanço a rede. A que cair, caiu. E pronto damos umas voltinhas e amigos como dantes.
Ao longo da noite, cantaria coplas sobre os olhos das meninas. Dançaria sevilhanas, falaria sobre técnicas de sedução à man, arrancaria beijinhos e abraços até da mais renitente e sarcástica feminista, como eu.
Porque é que os homens não percebem que não precisam de jogar jogos mentais, quando a honestidade é muito mais divertida e gera tantos, se não mais frutos e menos complicações que o isco personalizado? A EL MATADOR ninguém leva a mal. Não o levam a sério, mas também não quer ser levado. Queria apenas uns bocados divertidos. E não há rigorosamente nada errado nisso.

4 comentários:

Anónimo disse...

LOL... pois sim, mas por ser tão difícil odia-los, acabamos por cometer o erro extremo de lhes perdoar tudo só porqu eles sempre disseram a verdade. Mas olah que eles também têm olhinhos na desavergnhada da cara para ver que há aquelas de nós com quem não deveriam mexer. E no entanto...

Beijos da sempre tua

Su

Passionária disse...

Esses no entantos é que justificam ele ir conseguindo pescar uma ou outra, lol, mas em circunstâncias normais, e como não há hipótese rigorosamente nenhuma de sermos seduzidas por este tipo de conversa é que podemos recostar-nos e apreciar o espetáculo. Juro-te que não me divertia tanto há anos...

Anónimo disse...

quando tivemos essa conversa no outro dia estava a ouvir-te e a pensar no M de ma memoria. esse era o modus operandi dele. nao me deixa saudade. especialmente letal quando combinado com a o fazer-me crer que era especial quando era comigo. olha que nao deixou saudades. Agora esse tipo de coisa nao me faz rir. e pena.
sempre
su

Passionária disse...

Concedo que já passou algum tempo, o que pode distorcer as minhas perceoções, mas o M. parecia-me, não sei, menos inócuo. O El Matador era apenas um miúdo, divertido e inofensivo. Mas também eu observei, não me envolvi. Não sei se isso faz de mim mais esperta, se apenas gata escaldada demais para fazer mais que olhar para a água fria. E de longe. Já é um princípio conseguir rir dela.