quinta-feira, junho 12, 2008

O fenómeno Happy Tree Friends

Os desenhos animados são irresistíveis: um bando de criaturinhas amorosas acaba por, nesta série, encontrar formas atrozes de morte, normalmente envolvendo eviscerações e objectos aguçados desagradáveis em partes do corpo que não deveriam estar. Os meus alunos são unânimes: em termos de séries de desenhos animados, estes são do mais cool.
Pronto, admitamos. enquanto espécie, somos um nojo. E a série dos happy tree friends só vem prová-lo: quanto mais querido e doce se é, quanta mais sacarina se contém, mais nos rezam pela pele. E nem pensem que me estou a excluir deste número e a armar-me em filistina santinha, mais ética e ó-tão-politicamente-correcta que toda a outra gente: encontro tanta satisfação nos happy tree friends tanto quanto os meus queridos e sanguinários adolescentes.
Admitidamente,apesar de não me acontecer muitas vezes, já dei por mim a desejar, se não a morte por esmagamento ou uma tesoura espetada no olho a uma colega mais happy tree friend, pelo menos algo de distintamente desagradável, como um surto de acne ou um furúnculo especialmente virulento no traseiro perfeito e sem celulite das ditas.
A vida é negra. É desagradável. É horrorosa. Estão sempre a acontecer coisas que são um nojo a quem não merece. Poderemos então aceitar sem insulto de vómito essas criaturas que são invariavelmente risonhas e optimistas, tão upbeat que parecem uma rampa de lançamento de foguetão? Eu, pelo menos, confesso ter muita dificuldade em o fazer. Por mais que que tente soa-me sempre a falso, a esforço a mais para o risinho, para ver que há sempre um spin positivo para tudo o que acontece. Se quisermos ser literários e não Manga, o Cândido de Voltaire enche-me de desconfiança. Nem eu, que sou uma criatura pordemais maternal me dou ao luxo de ser sempre boazinha, nem as melhores criaturas que conheço evitam o momento de irritação, o mau feitio, a exasperação.
Regressamos, portanto, à premissa do início: a espécie humana é um nojo. Não há ninguém que seja bonzinho mesmo muito inho e fofinho mesmo muito inho que escape á faca metafórica do nosso desdém nas costas, ao alfinete-de-ama da nossa desconfiança atravessado num olho. O que é mau, cínico e alvitante, mas infinitamente catártico. E muito, mas mesmo muito, humano.

2 comentários:

Anónimo disse...

Ah, sim, as Polyannas deste mundo dão-me cabo da paciência. A que se senta mesmo ao meu lado no escritório anda a pedir um chá com cianeto há muito, muito tempo.
Lembras-te do Itchy and Scratchy Show, o cartoon dos simpsons? É do mais avant guarde possível, na verdade, muito anterior a toda esta vaga de aceitação da nossa brutalidade normal, natural. O que não é natural é um preto de cabeleira loira, como no anuncio do restaurador Olex...

Beijos
(sem facas nas costas)
Su

Passionária disse...

Quando estive a escrever o texto, por acaso lembrei-me deles, sendo eu,como sou, fan dos Simpsons. Mas os Simpsons são demasiado à frente, demasiado complicados para a geração dos meus miudos. Não te esqueças que, para eles VH1 é o canal de música dos cotas (?!) e a FOX um canal eminentemente chato. Aquilo que consomem tem mais a ver com aqueles conteúdos idiotas da MTV, Género Laguna Beach ou Pimp My Ride. Mas não vou ranhosar mais sobre referências culturais desta malta, porque já passo por cota ranzinza que baste.
Quanto às Polyannas deste mundo estamos (como poderiamos não estar?) em consonância.

Luv ya

i.