terça-feira, janeiro 09, 2007

Pelo Sim



É impressão minha, ou a campanha do não ouve-se mais que a do sim ultimamente? Tudo o que é gente vem a praça pública defender o não, cita-se Fernando Pessoa,que o melhor do mundo são as crianças, mostram-se fotografias fofinhas de bebés. Depois disso a campanha do sim parece cinzenta, apagada, vergonhosa, como se se estivesse a fazer uma campanha pelo sim aos sacrificios humanos aos deuses. Um bando de desavergonhadas abortadeiras a defender o indefensável.
Não é fácil defender o sim, o não é mais fofinho, mais sentimental. Parece melhor. O interesse das crianças primeiro, claro, a preciosidade, o milagre que é um bebé. Mas alguém tem de ver as coisas pelo outro lado, alguém tem de cortar todo este veu de sentimentalidade bacoca e perceber a realidade como ela é: nem todas as mulheres dão boas mães, nem todas as épocas da vida são boas para ter um filho.
Sou pelo sim, não porque não gosto de crianças, mas porque as adoro, e porque lhes reconheço o direito de serem desejadas, de serem queridas e amadas por pais conscientes e responsáveis. Gosto tanto de crianças que lhes desejo o melhor, os melhores pais, as melhores condições. Não uma mãe adolescente, ela própria a precisar de uma mãe. Não uma mãe indiferente que negligenciará o filho, que já tem muitos e não quer ter mais, não uma mãe que odeia o bebé porque nunca desejou tê-lo.
Já viram as fotos de um aborto?Eu já. É chocante e doloroso vê-las. Não é nada de remotamente tão fofinho como o dos bebés vivos e sorridentes. Não acredito que nenhuma mulher recorra ao aborto senão em circunstâncias desesperadas, onde não há mesmo outra opção. E aquela que abortou guarda consigo a memória do horror que foi, do que se viu obrigada a fazer. As mulheres que optam pelo aborto não são monstros. Atrás de cada aborto há quase sempre (e eu sei bem que há excepções) um drama, muita dor e desespero antes do passo final.
De qualquer maneira não consigo suportar a hipocrisia das mulheres que dizem que não abortam e adoram crianças e recorreriam a ele se a filhinha adolescente estivesse grávida. Ou a vergonha que é defender o não e negligenciar os filhos que se tem.
Não, não é nada fácil defender o sim se nos chamarem egoistas por escolher, monstros sem coração. Ah, mas ter um filho é um passo tão grande, um milagre tão grande que é preciso ter maturidade para nos comprometermos a tê-lo, é preciso condições psicológicas e materiais para que o bebé seja bem tratado e não lhe falte nada. E é preciso perceber, e isto é uma verdade imutável, que há mulheres que não têm vocação para mães, simplesmente, e que terem filhos seria um erro pago pelos bebés e não pelas mães.
É óbvio que não defendo o sim como método anticonceptivo, ninguém no seu são juizo o fará. É óbvio também que acho muito bem toda e qualquer medida de apoio à família e a mães adolescentes. Uma coisa não deve excluir a outra, não faz sentido.
Para mim, de acordo com as minhas convicções, a lei não precisaria de ser mudada. Não me estou a ver abortar em circunstâncias que não as já previstas na lei. MAS, e este mas é essencial, não acho que deva impôr a minha moralidade ou convições pessoais aos outros. Sim pela escolha
às mulheres.

3 comentários:

elisa disse...

Espero que seja essa voz a que mais se oiça (apesar da maioria dos movimentos pelo não) e que todos os que são pelo sim não se esqueçam de ir votar para que não seja a abtenção a ganhar mais uma vez!!

Anónimo disse...

Queria, minha tão grande amiga, dizer o quanto concordo contigo. Queria fazer entender aos moralistas cabeçudos, aos moralistas tão estupidos, absurdos que o meu voto não é pelo aborto. Qua o meu voto é pela possibilidade de escolha. Quero que todas as mulheres que conheço e mesmo, e se calhar sobretudo essas,as que não conheço, tenham a possibilidade de, se se virem forçadas a isso, fazer um aborto em condições humanas, que não lhes faça arriscar a vida numa curiosa qualquer que se dispõe a fazer dinheiro à custa dessas que não têm o fundo de maneio para ir a uma boa clinica a Espanha. Porque ninguem é tão obtuso que não perceba que uma mulher determinada a fazer um aborto o fará de qualquer maneira... tão grande chega a ser o desespero. O mínimo que eu espero do meu país é que apoie de igual maneira todas as mulheres- as que, como nós, rezaram pelo milagre da vida e as que pediram pelo não.
Parece-me que, sendo nós um estado onde a religião não rege o governo do país nos estamos a deixar levar por preconceitos religiosos. Por mim, espero que a razão vença.

Sempre tua

Su

Anónimo disse...

PS- Desculpa o abuso, mas matematicamente, não me parece que o sim tenha grandes possibilidades de ganhar. A razão é simples. Há maios ou menos o mesmo número de votantes homens como mulheres. As mulheres estão divididas- e se assumirmos que em igual percentagem entre o sim e o não, falta o voto masculino. E estes, ainda que sejam os 50% necessários à concepção de uma criança, tendem a olhar o problema do aborto como um problema da mulher. O que chateia- melhor- o que me faz trepar pelas paredes- é que são estes os que vão votar pelo não. Estranho... ou talvez não.

Tua

Su