Eu, pessoalmente, não sou especialmente gaja, no sentido de que aquilo que as mulheres costumam coleccionar ou fazer nos tempos livres não me entusiasma. Não gosto de miniaturas e bibelots, de coleccionar bonecas de porcelana ou fazer ponto cruz. Os peluches dão-me um bocado de alergia e o ponto cruz anda, no meu entender, a poucos passos da morte cerebral. A unica coisa mais galinácea que colecciono é, para uma certa vergonha minha, sapatos, mas mais porque os adoro que pelo desejo intenso de ter centenas de pares. Mas prontos, pelo menos compreendo o ponto de vista daquelas que se dão a essas coisas, é-me familiar. Quando o assunto são brinquedos de homens as coisas escapam da minha linha de compreenão para aquele território misterioso da mente masculina onde só nos sai um perplexo porquê, meu deus, porquê?
O motivo que leva um homem adulto a passar grande parte do seu tempo livre em jogos de estratégia em que faz de conta que anda perdido num subterrâneo cheio de dragões, ultrapassa-me. O motivo que leva um homem, sóbrio e fleumático de natureza, a correr a cidade inteira à procura da última xbox porque tinha acabado de sair e estava esgotada, ultrapassa-me. O motivo que leva um homem a seis meses do casamento a dar três mil euros por uma bicicleta de btt quando não tem sequer um sofá na casa do futuro casal, enche-me de perplexidade. O motivo porque um homem reformado dos seus dias de estroina colecciona carros antigos para poder mexer neles, gastando quatro vezes mais o que custou só para os pôr a andar e atulhar a casa, cozinha incluida, de peças oleosas e farrapos engordurados, vai muito para lá das minhas capacidades de imaginação. E olhem que não estou a exagerar, todos os exemplos que dei são perfeitamente legítimos e verídicos e aconteceram bem perto de mim a pessoas que gosto e respeito.
A geração dos nossos pais não era assim, não tinha esses hobbies. Não vinha com a conversa de que precisava do "tempo para ele". Quando muito, fechava-se no wc para ler o jornal desportivo sossegado. Nos tempos livres fazia coisas com os filhos, levava a família, a mala térmica e o cão à praia. Iam ver coisas. Agora não. Agora têm de ter os brinquedos deles. Brinquedos esses que são caros. Sim, porque homem que é homem não consegue afirmar a sua masculinidade se não se empenhar a sério no seu hobby. Não pode limitar-se a ir à pesca com uma cana qualquer, não, tem de ser a cana xpto mais os anzois xyz, como se as douradas fossem notar a diferença. Um homem não pode limitar-se a gostar do seu carro, não, tem de o aparelhar com tapetes em pura lã de lamas bebés tecidos à mão por virgens nepalesas. Ou de lhe pôr umas jantes de liga especial resistentes ao clima de mercúrio, na probabilidade de um dia lá ir, em vez de para casa, para o trabalho ou para o jumbo fazer as compras de sábado. Se a sua cena forem jogos de pc não pode andar a jogar o mesmo jogo, não, tem de comprar as versões todas, versões essas que saem de seis em seis meses.
Contou-me o meu cunhado, ele próprio adepto de btt e possuidor de milhentas mariquices dessa àrea, que a última moda são as corridas de carros telecomandados. Sim, para homens adultos. E não, não são daqueles dos putos que custam umas dezenas de euros. São daqueles que correm com gasolina de verdade e custam centenas.
Mas que é isto, será que a vida doméstica destes homens é enfadonha a ponto de se refugiarem no ridículo de corrridas de carros? Não creio. Parece-me isto apenas um sinal do síndrome de Peter Pan, os homens crescem, mas não amadurecem. Só os seus brinquedos ficam maiores. E mais caros.
Estava à conversa com um amigo meu, gajo de quatro costados, e ele perguntou-me: olha lá nós oas homens temos o futebol com os amigos e os hobbies, e vocês como gastam essse tempo? Com vocês, a casa e os filhos, respondi. Devo dizer que a conversa ficou por ali.
4 comentários:
Olha que nos conhecemos há tanto tempo que acho que consigo dar um nome a cada um dos teus exemplos... lololol.
Acho que a explicação não cai só no sindroma de Peter Pan. è um refúgio. E nós também temos os nossos- parece-me que, ao contrário dos nossos pais, a vida de adulto caíu-nos em cima de supetão.. não estavamos prepardos para isso e a verdade é que isto de se ter dinheiro no bolso alimenta a infantilidade. As coisas que os nossos pais não nos compraram, não nos deram, não nos permitiram são as que queremos mais, em que gastamos mais dinheiro e, por norma, as que nos dão mais prazer... c'est la vie... Pergunta a ti própria se a tua mãe te alimentou o fetish por sapatos... não os compras só porque os adoras... compras porque podes- mesmo que, ao contrário do que a tua mãe te ensinou, não tenhas realmente necessidade de mais um par de stilletos que nem sequer é confortável. Eventualmente, eu acho, acabamos por crescer...
Sempre
Su
Boys will be boys!!Confesso que o meu lado maternal se deixa enternecer por este lado infantil...desde que não roce os limites da parvoíce (sim, dar 3000 euros por uma btt, quando nem sequer se é profissional e não se tem um sofá em casa: é parvoíce!!)
está bem visto!
Aqui em casa também andaram umas ideias no ar sobre passatempos caros(Btt e afins), mas depois de um dedinho apontado ao nariz a parvoeira passou...Agora o passatempo é mais barato...
Eu também tenho muita vontade de gastar em muita coisa( tu conheces-me) mas quando se tem uma criança em casa, essas ideias passam. Sim, porque tenho sofá em casa. As despeasas agora são outras.
Uma frota
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