terça-feira, setembro 01, 2009

Se os conselhos valessem de alguma coisa...

... não se davam, vendiam-se. Isto pensei eu no fim-de-semana ao tentar aconselhar a L. E aconselhava-a porque, tal como muitas de nós estiveram, estão e estarão, que a vida é assim mesmo, mal de amores. Os sintomas são os habituais: que gosto de ti mas não estou preparado para uma relação, que vamos ser amigos e logo se vê porque não te quero magoar, que és especial mas apaixonado nem por isso, que não és exactamente o meu tipo mas enfim... Ou seja, no grande banquete da vida, que é o amor, somos equiparadas a um pacote de batatas fritas gordurosas que servem para matar a fome momentânea e estão à mão mas não servem, balhamedeus, para refeição completa.
Toda a gente sabe que estas criaturas do mal de amores nunca fazem bem a ninguém. Se não gostam o suficiente, nunca gostarão, e tal como as ditas batatas fritas somos consumidas porque estamos á mão, mas até com um certo asco porque não somos, e nunca, mas nunca, nunca, nunca seremos, o caviar que acham que merecem. É insultuoso e acaba-nos com a auto estima ; voltando às batatas fritas (e quem havia de dizer que um snack carregado de calorias e colesterol dava uma metáfora tão versátil), se nos tratam como uma coisa reles e sem valor, mas à mão, nós próprias acabaremos por nos sentir assim. É uma profecia das auto cumpridas: se quem amamos acha que não valemos o suficiente nós achamo-lo também, esperando sempre ser (mal) tratadas da mesma forma por todos os homens que nos passam pela vida. E isto acaba mesmo por acontecer. Mais que isso, é muito fácil passar anos e anos segura a um homem destes, porque pois realmente é a cenoura perfeita para as burrinhas de serviço: não ama agora mas pode vir a amar, e é sempre um dia destes até percebermos, anos e ralações mais tarde que pois realmente não, nunca seremos nada mais que bordões convenientes para os egos frágeis destes homens cobardes. Ou até levarmos um belo chuto no rabo porque bem, o caviar chegou.
Os conselhos tão amigos que dei, frutos do saber emanado da experiência ,caíram, como está bom de ver, em saco roto. Mas isso já eu estava mais ou menos à espera, ou julgam que já nasci esperta? Pois não. Antes de me cair a ficha que estava a ser, como dizê-lo de forma elegante, estúpida como uma maçaneta de porta, também as minhas amigas a quem tinha acontecido o mesmo ficaram carecas de me avisar, mas eu dei ouvidos, dei? É que nem pensar...
É engraçado, temos os sentidos apurados para evitar o que faz mal, ou a dor. Não precisamos de nos cortar para saber que um corte dói, ou de comer sabão para saber que não sabe bem. Mesmo sem a experiência directa conseguimos evitar o perigo. No amor isto nunca acontece: ficamos cegos, surdos e estúpidos, esquecemos ou ignoramos os conselhos e saltamos alegremente para a frente do comboio de mercadorias em alta velocidade. Vai doer, à pois vai, mas é inevitável.
De modo que, leitoras, mais me valia ter poupado o fôlego e ir ver o Giannechini nos anúncios da TMN, em amor os conselhos não se dão. Porque se servissem para alguma coisa, e fossem a pagar, a vossa yours truly, com três anos e tal de blog, era uma excêntrica estrelicada ao sol nas ilhas das Caraíbas e não uma desgraçada funcionária pública no primeiro dia depois das férias. É que estava milionária...

1 comentário:

Anónimo disse...

Tem toda a razão. O amor é um mistério...São necessárias duas pessoas, as duas com o mesmo nível de inteligência e entendimento, com gostos e aspectos em comum sem quantidade determinada e com diferenças suficientes para se complementarem e apoiarem quando as dificuldades e os maus momentos chegam. Quando isto falta é fatal...