sexta-feira, setembro 18, 2009

De famílias, tidas e achadas

Contavam-me há dias histórias dos encontros perfeitos, dos cenários perfeitos de sedução: a música ideal, o filme ideal, o restaurante ideal, aquela sequência de coisas que normalmente fazemos nas primeiras fases, entre a expectativa e o terror abjecto, da sedução. Dei cromos pra a troca. Tempos houve em que as referências certas, as ideias certas, a música x ou o filme y faziam um clique imediato de intimidade partilhada. Tempos houve em que tinha botões desses, e que funcionavam.
Somos condicionadas para a sedução de uma forma quase pavloviana. Os lugares-comuns do romance por alguma coisa são lugares-comuns.O ponto está em perceber quais os nossos botões que funcionam connosco. E guardá-los bem guardadinhos.
A sedução, o encantamento são muitas vezes coisas efémeras, muito difíceis de destrinçar da realidade, esses bocados de sonho. Precisamos de perspectiva, e essa perspectiva é a família que dá.
A família é a antítese da sedução. A família sabe todos os nossos botões, às vezes os bons, de nos encherem a alma de canja e simpatia, às vezes os maus, de nos irritarem. São, se quiserem, o controlo numa experiência, permanecem inalterados, para o bem e para o mal. Na família não há cenários perfeitos, amam-nos com a mesma frequência com que nos irritam, envergonham, enfurecem, enternecem. Chamam-nos à terra, mesmo em circunstâncias onde não são tidos, nem achados.
Cheguei à conclusão, nos últimos tempos, que o que vale ter na vida é a nossa família, da tida e da achada, dos que são nossos porque nascemos naquela família, dos que passaram a ser nossos porque lhes abrimos a amizade e o coração. Que nos aturam as cabrices, as birras e infantilidades, que nos dão cabrices, birras e infantilidades a aturar, que ficam porque são família. O resto,bom, são cenários e botões, encantadores, interessantes. Mas não são a verdade.
Obrigada, mana Su. Vou pela autoestrada, tu sabes o que quero dizer.

2 comentários:

Anónimo disse...

I love you too

Susana

Passionária disse...

Por isso, e só por isso, consigo não andar de monco caído pelos cantos com as minhas decisões.

Ressurgiremos ainda sob os muros de Cnossos
E em Delphos centro do mundo
Ressurgiremos ainda na dura luz de Creta

Ressurgiremos ali onde as palavras
São o nome das coisas
E onde são claros e vivos os contornos
Na aguda luz de Creta

Ressurgiremos ali onde pedra estrela e tempo
São o reino do homem
Ressurgiremos para olhar para a terra de frente
Na luz limpa de Creta

Pois convém tornar claro o coração do homem
E erguer a negra exactidão da cruz
Na luz branca de Creta

Sophia de Mello Breyner Andresen