segunda-feira, setembro 07, 2009

Do relativismo moral



Foi a conversa parar, na sexta-feira, casualmente ao tema da traição. Como este é um tema sob o qual tenho ideias firmes (na verdade tenho ideias firmes para quase tudo, é um vício meu), disse logo que era uma coisa com a qual não concordava nada; se já não se ama, resolve-se a relação antes de começar uma nova. Claro que parecia que tinha ali caído uma bomba, tal foi o espanto do resto dos comensais. Aparentemente, e na sua óptica, o assunto está cheio de gradações.
Se bem que costumo encontrar e tentar perceber diversas gradações da realidade, neste assunto confesso que não as encontro. Seja qual for a razão que me apresentem para a traição, continuo a achar moralmente errado envolver-se (física ou emocionalmente) com alguém já numa relação séria, e para isto ter ou não ter o papel e a aliança é completamente irrelevante. Até porque acho isso uma treta: quem frequentar um chat qualquer na net percebe que, pobres coitadois, o mundo está cheio de casados com mulheres que não os compreendem. Qual é a probabilidade estatística disso? Calculo que as mulheres digam a mesma coisa, que isto de gravidade no comportamento, tal são uns como outras, não há diferença nenhuma.
Tive uma educação católica e conservadora, tipicamente pequeno-burguesa. Fui educada com uma data de tabus, uns que questionei, outros que não. Este, confesso, é um dos que não consigo ultrapassar. Será tacanho da minha parte não aceitar que a coisa possa simplesmente "acontecer"? Será tacanho não aceitar esse relativismo moral que permite às pessoas fazerem aquilo que querem? Porque em análise última as pessoas fazem o que querem. Tirando imponderáveis sob os quais não temos qualquer tipo de controlo, acredito que a escolha é sempre nossa: estamos onde queremos e com quem queremos, nada, nenhum impedimento ou tabu consegue impedir-nos de fazer o que queremos. Se temos esse poder, podemos também escolher o que não queremos, dizer muito obrigada, mas não e amigos na mesma. Temos sempre um momento em que permitimos ou não que a coisa "aconteça", é essa escolha que nos torna adultos responsáveis em vez de garotos inconsequentes.
Como contei já era a única num grupo bastante heterogéneo de sensibilidades e formações a pensar assim. Não cheguei a decidir se o facto de pensar assim e não como eles faz de mim iluminada ou extraordinariamente obtusa, ou simplesmente se isso faz de mim uma idealista ternurenta sem ideia nenhuma do que é a vida real. Se querem que lhes diga, não interessa, num mundo de relativismo moral onde cada um traça os seus limites este é um dos meus. E conhecendo-me como me conheço, lamento, mas não me parece que vá mudar nunca.

3 comentários:

Anónimo disse...

Cara Passionária,

Concordo plenamente consigo mas também concordo com eles.Assim como a minha amiga tive uma educação cristã e consevadora, tipicamente pequeno-burguesa. Contudo sempre tive uma queda para o relativismo e uma tentação para questionar os prícipios morais que me eram inculcados. Aprendi a questioná-los de uma forma "não blasfema", questiono e procuro com uns sanar e minimizar os outros. A estas questões de traição contraponho a capacidade de amar, a capacidade de perdoar, as fraquezas e imperfeições da natureza humana e como a minha amiga falava as diferentes gradações da realidade para que apontavam alguns dos comensais com que privava. Lembra-se quando em tempos lhe falava dos constrangimentos de uma educação para homens? Pois bem se me encontrasse no seu grupo de 6ª feira seria seu aliado e o falso orgulho e o ar impertigado que geralmente coloco seriam o meu smoking, perfeito como manda o figurino, tacanho e obtuso, diria logo que preferia ter vivido no século XIX e não no XVIII, a pistola favorecer-me-ia mais que o florete, enfim... Mas aqui na intimidade revelo-lhe que o amor, a compreensão, a capacidade de perdoar e o verdadeiro arrependimento, seja ele por que motivos for, deitam por terra qualquer tacanhez ou obtusidade. Não são estes os valores que se opõem ao ódio, á raiva, á ira? Não me ligue, afinal sou só um relativista que se vem meter consigo de vez em quando.

Até breve, dispenso apresentação, o meu discurso já lhe é familiar

Anónimo disse...

O relativismo e so uma desculpa para a auto indulgencia moral. Ai estams de acordo. Que nem sempre e facil agarrar nos nossos tabus, na nossa educaao e viver de acordo com isso tambem sabemos. Ate Jesus sofreu as tentacoes da carne (ai balhamedeus que ja pareco um daqueles cristaos novos dos documentarios da Sic) mas pegar nas mais basicas das nossa regras sociais e ensinamentos religiosos e viver de acordo com isso da um trabalhos do caracas. A vida gostas de nos atirar cascas de banana a ver se escorregamos. E quem nao sofeu a tentacao nao deve nem atirara a primeira pedra. Mas guess what? se formos realmente honestos, sabemos a tentacao esta la, esta em todo lado, e natureza humana querer o que nao se pode ja ter. e o pior e que resistir nao faz de nos santos- mas apenas aquilo que todos deviamos ser. Life is a bitch- and them you die.

Beijinhos, amor


Su

Passionária disse...

Acho que têm razão os dois, até porque admito que espero, não, exijo frequentemente uma honestidade e uma franqueza que nem para mim é boa. Sim, há gradações da realidade, mas também é verdade que aquilo que controlamos, que são as nossas próprias acções podem e devem ser sopesadas de acordo com as nossas noções de certo e de errado. Não acredito em mandar uma relação para o lixo por causa de uma tentação, de modo nenhum. Mas também é verdade que nem eu condenaria ninguém a manter uma relação vazia só porque demos a nossa palavra, porque é o hábito ou porque sim. É que a tramada da vida é complicada como o caraças. No fundo o que quero dizer é simplesmente que alguém que amámos e que respeitamos nos merece mais que casos ilícitos, muitas vezes sem significado. Merece um fim digno, sem a dor adicional da traição a juntar à dor de um amor falhado.