sexta-feira, abril 17, 2009

Sensibilidade e bom senso


Aqui há muitos anos, um dos meus ex disse-me que era uma pena um cérebro tão bom como o meu estar na minha pessoa. Aparentemente o meu cérebro sofisticado e sensível (nas palavras dele), não combinava com o resto de mim. Qualquer coisa na linha do computador última geração no cockpit de um tractor ucraniano. A única razão porque o dito ex ainda vive e eu não vos estou a escrever estas linhas do meu laptop em casa e não de um dos nossos excelentes estabelecimentos prisionais a meio da minha pena por homicídio é o facto de, na altura, eu ser ainda muito novinha, tinha dezoito aninhos na altura, e, por conseguinte, era menos activista que sou agora. Mas esse foi apenas um dos muitos momentos ao longo da minha vida que cimentaram em mim uma convicção sólida como pedra: os homens não têm sensibilidade nenhuma a lidar com as mulheres, o mesmo se passando com o bom senso.
Como é que os homens chegam a adultos sem uma pinga de sensibilidade é fácil de perceber: na nossa sociedade ela é-lhe sugada impiedosamente desde que são pequenos. Podem vir com tretas new age e moderninhas, mas continua a ser verdade no universo masculino que um homem não chora (muito menos dá gritinhos, balhamedeus) , não tem conversas sobre sentimentos seja com quem for e nunca, mas nunca, por nunca dá parte de fraco frente a uma mulher. Isso vai contra o código masculino. Como é que chegam sem bom senso já é mais difícil. Afinal, eles é que é suposto serem os frios e os racionais, não sobrecarregados com hormonas e emoções como nós, mulheres (yeah, right).
A minha mãe chama-me Nossa Senhora dos Aflitos, porque desde que me lembre tenho um ouvido para as minhas amigas com problemas. É portanto fácil de perceber que, para além das minhas experiências, tenho como termos de comparação as de todas as minhas amigas (e são bastantes). A conclusão é sempre a mesma: sensibilidade e bom senso são bens escassos entre a espécie masculina.
Num caso concreto, por exemplo, o marido de uma amiga pediu-lhe o divórcio num sábado (aos gritos), na segunda estava no advogado a querer vender tudo e ficar com a guarda do filho de ambos. Que sensibilidade é essa, de desapossar completamente a mãe do filho sem qualquer contemplação, sem lhe dar sequer tempo para lidar com o golpe inesperado? Mas para além deste caso extremo, as provas da falta de sensibilidade masculina acumulam-se: é a agressão com o peso e a falta de juventude, a falta de solidariedade na gestão de tempo com filhos e tarefas domésticas, a maneira sumária com que nos descartam, a quererem-se ver livres de nós como se fossemos um carro usado.
Como disse no texto anterior, não sabem lidar connosco. Talvez por causa da maneira como o cérebro deles está artilhado, talvez pela cultura masculina que lhes exige serem frios e racionais, mas era de esperar que conseguissem lidar connosco melhor. Com mais não sei se compaixão, se sensibilidade se quê. Talvez devessem ver ou ler algumas das nossas referências culturais, como o livro da Jane Austen que dá título ao texto. Não sei, pode ser que os ajudasse, e a nós também, por arrastamento.

6 comentários:

Anónimo disse...

Ou pode ser sumaria canalhice e ai nao ha literatura que ajude. E mais te digo que nao sei se culpe os genes se a educacao porque entre um e outro venha o diabo e escolha: os genes sao o que sao e a educacao faz o resto, da-lhes abebeas a dar com o pau- sim senhor, empatia com a mulher e os sentimentos feminos e um anatema e ha que ser duro, forte e levar sempre a sua avante. E, como dia minha mae, juntar a fome com a vontade de comer. Eu sei que ha os casos raros que nao caiem no padrao acima. Mas raro e a palavra dominante na frase e few and far between. E, o ironia, a maioria, tao em contacto com o seu lado feminino que sao gay... e tragico...
Sempre tua

Su

Passionária disse...

Sim, tens razão, conheço homens decentes, bons maridos e pais, mas são pouquíssimos, e os homens restantes decentes são gay. Assim vão os tempos.

Vicente disse...

Passionária, talvez a felicidade esteja em descobrir um Gay lésbico :-)

Anónimo disse...

Passionária,
Bem interessante.
Tinha acabado de ouvir minha filha sofrida e a história de seu relacionamento que não deu certo e que deveria ter dado e que .....................
Bem, mas aí veio-me uma idéia: afinal, porque reclamamos se você não o matou? Tivesse-o feito e nunca mais outra ouviria disparates ditos de um ser insensivel.
Somos realmente responsáveis por tudo issso, e acredite, acredito no que digo.
E reitero, devias tê-lo matado, e deveriamos ter matado tantos outros que encontramos por nossa existência sensível e delicada.
E talvez se o tivessemos matado, a todos os outros, hoje, nosso companheiro/de outra amanhã não deveria ser morto novamente por termos tido preguiça ou pouca coragem ou descuido ou falta de personalidade ou ... bem, o deveriamos ter matado! Ângela

Anónimo disse...

Angela

Eu tenho que meter a minha colhr no pudim. Acontece que, alem do pequenino problema legal de matar alguem, a justiça karmica e bem rapida. e O castigo logo vem a passos largos. Mais aindaÇ ha um balanco cosmico- sem me quere por toda zen nestas coias- cada canalha que nos aparece e uma possibilidade de aprender a ser melhor ou mais esperata. Dai que e legitimo depreender que limitar as possibilidades das outras mulheres de aprenderem nao e bom karma nem boa politica. Isso do sermos umas para as outras e coisa so do Sex and the City, no da via real.
E ja agora, so mais um pensamento breve: como diz uma expressao inglesa, you fool me once. shame on you, you fool me twice, shame on me. Ou no portugues mais vernaculo, a primeira qualquer um cai... na segunda so os parvos.
Nao eliminar a ameaça nao e falta de coragem, ou personalidade: e bom senso, sensibilidade e coragem.
I., espero que estejas bem.
Susana

Passionária disse...

Vicente, isso é um unicórnio: um lindo conceito que não existe.

Ângela,o ponto que quis fazer ao referir o caso foi o facto de sermos alvos destas coisas e não respondermos, por exemplo por sermos novas, inexperientes ou termos fraca autoestima. Provavelmente se algum homem me dissesse o mesmo mandá-lo-ia plantar batatas, que eu sou uma pessoa e não um receptáculo de cérebro. Mas isso é agora, que sou mais velha e mais sábia (ou pelo menos quero acreditar que sim). Entre esse ponto e este foram precisos uns quantos tombos para aprender. Como deve ter reparado nunca incentivo as mulheres que me lêm a ser fracas ou a não terem espinha e se defenderem por si próprias. Com o texto limitei-me a constatar um facto, independentemente de como reagimos, bem, mal, de forma mais sábia ou menos, eles continuam umas bestas insensíveis, sem apelo nem agravo. O que fazemos com o facto depende de cada uma de nós.

Su, love of my life, estou bem, dentro do género. Ligo-te dia 23 à noite, até lá, estou falida e, portanto, nada de long distance calls.
luv ya
i.