sexta-feira, março 13, 2009

Pucca, Garu e Schopenhauer


É engraçado que podemos encontrar na vida lições em tudo, até nos desenhos animados. Não, a sério, não fazem ideia do que eu aprendo à volta da minha sobrinha e dos diversos canais infantis que ela prefere. Sei, por exemplo, que o Noddy é um canalha sem nome por andar a brincar com as emoções da ursa Teresa sem se comprometer, mantendo a coisa na linha cobarde da amizade.Sei que a Dora a exploradora é uma versão infantil da Lara Croft e isso é um excelente modelo para as miúdas (ao contrário da galinha tonta da Docinho de Morango). E sei que o Ruca desperta falsas expectativas nas miúdas porque as induz na falsa sensação que os rapazes são amorosos, bem-educados e preocupados com o bem-estar alheio (e das sogras já agora, aquela mãe de namorado é definitivamente ficção). Mas a lição mais interessante (e importante), que mais que sobre o amor, é sobre a vida, é a história de amor não correspondido entre Pucca e Garu.
Pucca ama Garu, que não ama Pucca. Pucca não desiste e persegue Garu. Garu evita-a, quando não foge dela activamente. Pucca força-o e arranca-lhe um beijo. Garu faz um ar horrorizado. no episódio seguinte, voltaram à estaca zero. Se isto as faz lembrar dos padrões de relações presentes ou passadas não é pura coincidência. Reflictam e aprendam as lições.
A lição número um é que a persistência nem sempre compensa, nem é boa ideia. Pucca está constantemente a escorregar, voltando ao ponto de partida cada vez que tenta trepar pela montanha da indiferença de Garu. Logo, às vezes é melhor perguntarmo-nos se o beijo do final do episódio compensa as nódoas negras no rabo de cairmos outra vez precisamente no lugar de onde partimos. Pucca é mimada e caprichosa, por isso perguntem-se a vocês mesmas se a motivação por detrás da persistência não será um defeito.
A lição número dois é a lição da maturidade. Pucca tem dez anos, Garu doze. Se andam a repetir padrões de comportamento de pré-adolescentes, então talvez esteja na altura de crescer.
A lição número três, e mais importante, é a de que o amor é fácil, natural, inevitável e não pode, não deve ser forçado. Shopenhauer compara o amor- à força que atrai homens a mulheres (ou homens a homens e mulheres a mulheres, que eu não sou preconceituosa ) a um tornado, uma coisa muito mais forte que nós, muito difícil de superar. Segundo ele, que tem um pessimismo muitíssimo saudável que ecoa no meu, se a força não está dirigida para nós não podemos levar a mal. Mas podemos-e devemos- seguir em frente, face a outra que esteja na nossa direcção. O amor, diziam os romanos, é como a tosse- não se pode esconder muito tempo. Se do outro lado não há nem um espirrinho miserável... bom, percebem a ideia.
O amor não deve ser uma corrida de obstáculos, ou uma sessão de alpinismo, ou uma missão impossível. Às vezes tudo se reduz simplesmente ao ser possível ou não. Se temos de lutar, arranjar ardis, manobrar tudo à nossa volta para um bocado de atenção de alguém que, feitas todas as contas, não quer estar connosco, mais nos vale a pena deixar de lutar e encontrar alguém que não ache os nossos beijos um nojo ou um sacrifício. E se isto não é uma lição valiosa a inferir pelas nossas crianças, não sei o que será.

2 comentários:

Anónimo disse...

Olha, tu sabes que apaixonarmo-nos e facil e pode ser ser doce, inocente, natural. Amar, activamente, continuar a amar durante os anos,nos tempos apos o apaixonamo-nos, e dificil, trabalho duro. amar exige caracter, verdade, forca, hnestidade. Quem nao sabe amar o outro- qualquer outr0-mais do que a si mesmo, nao sabe amar bem e nao vale a pena como pessoa. Nao mesmo. Amar, como tu sabes tao bem, e dar-se por inteiro.
tua
Su

Passionária disse...

Sim, amar dá trabalho, mas não pode ser um sacrifício, não o podemos fazer contrariados, ou com reservas, ou não é base para relação nenhuma... Acho que tem exactamente a ver com o que disseste, entregar-se por inteiro, não amar a pensar que se podia arranjar melhor ou coisa assim. Nesse sentido ser Pucca só vai trazer sofrimento sem recompensas nenhumas. Chamem-me orgulhosa, mas não quero que quem me ame o faça contrariado. Acho que fiz sentido nisto, mas se não fiz eu sei que me percebes...
luv ya
i.