segunda-feira, março 23, 2009
sábado, março 21, 2009
A poesia está na rua
Fui à florista buscar um ramo enorme de coroas imperiais amarelas, de gordas gerberas de um vermelho escuro, hastes de verdes de folhas diferentes. Feiote e brilhante, vibrante. A ideia era levá-lo de presente à anfitriã do jantar a que me convidaram, mas apaixonei-me por ele, tão vivo, tão alegre e portanto vão ter de se ajeitar com um vinho ou assim, whatever. Vou saír para aproveitar o dia de sol glorioso e curtir o buzz da indulgência de um ramo de flores de-mim-para-mim. Hoje é o dia da poesia, e ela anda na rua, sabiam?
quinta-feira, março 19, 2009
Momento espiritual pré-caipiroshka
Oração das Mulheres Resolvidas
Que o mar vire cerveja e os homens aperitivo
Que a fonte nunca seque
E que a nossa sogra nunca se chame Esperança, porque Esperança é a última a morrer...
Que os nossos homens nunca morram viúvos
E que os nossos filhos tenham pais ricos e mães boas como oh milho!
Que Deus abençoe os homens bonitos e os feios se tiver tempo...
Deus...
Eu vos peço sabedoria para entender um homem, amor para perdoá-lo e paciência para os seus actos, porque Deus, se eu pedir força, eu bato-lhe até matá-lo
Um brinde...aos que temos, aos que tivemos e aos que teremos
Um brinde também aos namorados que nos conquistaram, aos trouxas que nos perderam e aos sortudos que ainda vão conhecer-nos!
Que sempre sobre, que nunca nos falte, e que a gente dê conta de todos!
Cheers!
(texto vindo da net, mas integralmente subscrito pela gerência deste estaminé)
quarta-feira, março 18, 2009
sexta-feira, março 13, 2009
Pucca, Garu e Schopenhauer
É engraçado que podemos encontrar na vida lições em tudo, até nos desenhos animados. Não, a sério, não fazem ideia do que eu aprendo à volta da minha sobrinha e dos diversos canais infantis que ela prefere. Sei, por exemplo, que o Noddy é um canalha sem nome por andar a brincar com as emoções da ursa Teresa sem se comprometer, mantendo a coisa na linha cobarde da amizade.Sei que a Dora a exploradora é uma versão infantil da Lara Croft e isso é um excelente modelo para as miúdas (ao contrário da galinha tonta da Docinho de Morango). E sei que o Ruca desperta falsas expectativas nas miúdas porque as induz na falsa sensação que os rapazes são amorosos, bem-educados e preocupados com o bem-estar alheio (e das sogras já agora, aquela mãe de namorado é definitivamente ficção). Mas a lição mais interessante (e importante), que mais que sobre o amor, é sobre a vida, é a história de amor não correspondido entre Pucca e Garu.
Pucca ama Garu, que não ama Pucca. Pucca não desiste e persegue Garu. Garu evita-a, quando não foge dela activamente. Pucca força-o e arranca-lhe um beijo. Garu faz um ar horrorizado. no episódio seguinte, voltaram à estaca zero. Se isto as faz lembrar dos padrões de relações presentes ou passadas não é pura coincidência. Reflictam e aprendam as lições.
A lição número um é que a persistência nem sempre compensa, nem é boa ideia. Pucca está constantemente a escorregar, voltando ao ponto de partida cada vez que tenta trepar pela montanha da indiferença de Garu. Logo, às vezes é melhor perguntarmo-nos se o beijo do final do episódio compensa as nódoas negras no rabo de cairmos outra vez precisamente no lugar de onde partimos. Pucca é mimada e caprichosa, por isso perguntem-se a vocês mesmas se a motivação por detrás da persistência não será um defeito.
A lição número dois é a lição da maturidade. Pucca tem dez anos, Garu doze. Se andam a repetir padrões de comportamento de pré-adolescentes, então talvez esteja na altura de crescer.
A lição número três, e mais importante, é a de que o amor é fácil, natural, inevitável e não pode, não deve ser forçado. Shopenhauer compara o amor- à força que atrai homens a mulheres (ou homens a homens e mulheres a mulheres, que eu não sou preconceituosa ) a um tornado, uma coisa muito mais forte que nós, muito difícil de superar. Segundo ele, que tem um pessimismo muitíssimo saudável que ecoa no meu, se a força não está dirigida para nós não podemos levar a mal. Mas podemos-e devemos- seguir em frente, face a outra que esteja na nossa direcção. O amor, diziam os romanos, é como a tosse- não se pode esconder muito tempo. Se do outro lado não há nem um espirrinho miserável... bom, percebem a ideia.
O amor não deve ser uma corrida de obstáculos, ou uma sessão de alpinismo, ou uma missão impossível. Às vezes tudo se reduz simplesmente ao ser possível ou não. Se temos de lutar, arranjar ardis, manobrar tudo à nossa volta para um bocado de atenção de alguém que, feitas todas as contas, não quer estar connosco, mais nos vale a pena deixar de lutar e encontrar alguém que não ache os nossos beijos um nojo ou um sacrifício. E se isto não é uma lição valiosa a inferir pelas nossas crianças, não sei o que será.
terça-feira, março 10, 2009
O PARADOXO
Não há problema em ser-se solteira aos 25. É até normal, desejável, não se precipitar e viver os dias de solteira como deve ser. Continua a não ser grande problema aos 27, pelos mesmos motivos. Lá para os 28 a coisa começa a ser preocupante. Aos 29, o alerta mudou para laranja. Mas assim que mudamos o primeiro dígito da nossa idade de dois para três, bem, está atenda armada, é uma desgraça. Começamos a ser vítimas do PARADOXO que é o tratamento reservado às solteiras financeiramente independentes deste mundo.
Antigamente, no tempo das nossas avós, aquelas que ficavam para tias tinham o seu papel definido na sociedade, eram uma espécie de amas gratuitas, fazendo por auxiliar as irmãs e irmãos casados com os filhos e o andamento da casa ou tratando dos idosos. Definiam-se por extensão do resto da família, uma espécie de apêndice, ou melhor, de ferramenta à mão dos restantes membros da família. O que não estou a dizer que não pudesse ser compensador, mas a coisa andava mais ou menos nestes moldes.
Claro que agora que muitas mulheres trabalham (no nosso país é a maioria das mulheres, não sei exactamente a estatística, mas acho que é mais de 60% das mulheres em idade activa) o cenário alterou-se e muito. Já os casais não têm hordas de filhos para as tias ajudarem a criar, já as tias não têm tempo para criar sobrinhos, porque estão no trabalho e também bom, ganham o seu dinheirinho e vivem a sua vidinha. O que nos leva direitinhos ao assunto do post, o PARADOXO da forma de lidar com solteiras aos trinta.
Usar as maiúsculas para falar do PARADOXO implica, primeiro, uma coisa importante,para nós, quero dizer, e depois uma coisa irritante, muuuuuuuuuuuuuuito irritante. Passo a explicar. Para os casais com quem nos damos, que nesta altura representam a esmagadora maioria dos nossos conhecidos, colegas e amigos, funcionamos um bocado como projecção do estado da SUA relação: se feliz e sem problemas na altura, somos objecto de pena a ser apresentadas a todos os homens disponíveis que conhecem; se com problemas alvos de uma certa inveja pelo estilo de vida sem preocupações que levamos.
Deixem que lhes diga, ambas as atitudes me irritam, uns dias mais, outros menos, mas que irritam é uma verdade escrita na pedra como os mandamentos. Pena não quero que sintam, eu própria não tenho pena de mim. Estar solteira até hoje foi o resultado das minhas próprias escolhas e portanto não foi uma tragédia, nem eu gosto de ir buscar a cruz e a coroa de espinhos para me crucificar, seja quaresma ou não. Peleeeeeeeeeeeeeeze, as pessoas têm de aprender a viver com as suas próprias escolhas confortavelmente. Inveja, bom, estão a ver a coisa de uma só perspectiva. Sim, não é mau de todo podermos gastar o nosso dinheirinho em guarda-roupa novo sem estar a preocupar-nos com contas de pediatra, ou organizar o tempo de modo a ir ao cinema, ou aos espectáculos que queremos, viajar a nosso contento, etc. etc. Mas estar numa relação é igualmente bom, mais compensador, atrever-me-ia a dizer ( e agora não voltem à pena que também não é morte de homem nenhuma, lol).
Antigamente, no tempo das nossas avós, aquelas que ficavam para tias tinham o seu papel definido na sociedade, eram uma espécie de amas gratuitas, fazendo por auxiliar as irmãs e irmãos casados com os filhos e o andamento da casa ou tratando dos idosos. Definiam-se por extensão do resto da família, uma espécie de apêndice, ou melhor, de ferramenta à mão dos restantes membros da família. O que não estou a dizer que não pudesse ser compensador, mas a coisa andava mais ou menos nestes moldes.
Claro que agora que muitas mulheres trabalham (no nosso país é a maioria das mulheres, não sei exactamente a estatística, mas acho que é mais de 60% das mulheres em idade activa) o cenário alterou-se e muito. Já os casais não têm hordas de filhos para as tias ajudarem a criar, já as tias não têm tempo para criar sobrinhos, porque estão no trabalho e também bom, ganham o seu dinheirinho e vivem a sua vidinha. O que nos leva direitinhos ao assunto do post, o PARADOXO da forma de lidar com solteiras aos trinta.
Usar as maiúsculas para falar do PARADOXO implica, primeiro, uma coisa importante,para nós, quero dizer, e depois uma coisa irritante, muuuuuuuuuuuuuuito irritante. Passo a explicar. Para os casais com quem nos damos, que nesta altura representam a esmagadora maioria dos nossos conhecidos, colegas e amigos, funcionamos um bocado como projecção do estado da SUA relação: se feliz e sem problemas na altura, somos objecto de pena a ser apresentadas a todos os homens disponíveis que conhecem; se com problemas alvos de uma certa inveja pelo estilo de vida sem preocupações que levamos.
Deixem que lhes diga, ambas as atitudes me irritam, uns dias mais, outros menos, mas que irritam é uma verdade escrita na pedra como os mandamentos. Pena não quero que sintam, eu própria não tenho pena de mim. Estar solteira até hoje foi o resultado das minhas próprias escolhas e portanto não foi uma tragédia, nem eu gosto de ir buscar a cruz e a coroa de espinhos para me crucificar, seja quaresma ou não. Peleeeeeeeeeeeeeeze, as pessoas têm de aprender a viver com as suas próprias escolhas confortavelmente. Inveja, bom, estão a ver a coisa de uma só perspectiva. Sim, não é mau de todo podermos gastar o nosso dinheirinho em guarda-roupa novo sem estar a preocupar-nos com contas de pediatra, ou organizar o tempo de modo a ir ao cinema, ou aos espectáculos que queremos, viajar a nosso contento, etc. etc. Mas estar numa relação é igualmente bom, mais compensador, atrever-me-ia a dizer ( e agora não voltem à pena que também não é morte de homem nenhuma, lol).
E no que diz respeito a sermos apresentadas a tudo quanto é solteiro, que raio é isso? É quase como se fossemos os últimos pasteis na montra da pastelaria, não muito frescos, é certo, mas postos em exposição para ver se a fome do outro anula os padrões de exigência, habitualmente mais altos. E acreditem, não há maneira mais rápida e eficaz para despertar o meu mau feitio que ser tratada como um bolo retardado ou um artigo em saldos a 75%. É que é certeiro.
Aquilo que os nossos amigos, colegas e conhecidos que empregam o PARADOXO têm dificuldades em aceitar e perceber é que ser solteiro aos 30 não é, de todo, uma forma de lepra sem sintomas. Também não é uma espécie de sex and the city em versão vida real recheada de sapatos fabulosos e cosmopolitans servidos gelados. Como tudo na vida, é o intermédio. Tem bons momentos e vantagens a não serem escamoteadas (como os sapatos e as viagens, sem dúvida), tem momentos menos bons, mas também a vida a dois os tem, certo?
Resolver o PARADOXO na mente dos casais deve passar sempre por deixarem de se projectar nas vidas dos solteiros, respeitando as suas escolhas. Cada um vive como pode, mas sobretudo como quer. Devem ainda deixar de nos tratar como seres incompletos, sou completa, muito obrigadinha, mesmo que esteja só (e usando o lugar-comum, antes assim que mal acompanhada). E, por último, deixarem de pensar em números, somos quem éramos aos 25 (mas com sorte, mais sábias), portanto tratem-nos como tratavam então. Ou incorram na nossa ira por vossa conta e risco.
terça-feira, março 03, 2009
Orgulho e preconceito
O que têm em comum uma trintona (trintinha, vá) de mau feitio, uma miúda de vinte e poucos, a Keira Knightley e uma escritora que viveu há duzentos anos em comum? Aparentemente, nada. Mas têm. Todas concordam (ou concordariam, se fosse possível responderem todas ao mesmo inquérito) em três pontos essenciais:
a) Orgulho e preconceito é um bom livro;
b) há muito menos Mr. Darcys por aí que aqueles que seria de desejar;
c) a roupa masculina da regência era eminentemente sexy e era capaz de transformar muitos Mr. Absolutely NOT em Mr. Definitely Maybe.
Esta concordância, facilmente verificável, é surpreendente. São gerações diferentes, culturas diferentes, bem, séculos diferentes mesmo. Mas o Orgulho e Preconceito, como diriam as minhas alunas de décimo ano, rula.
Esta concordância, facilmente verificável, é surpreendente. São gerações diferentes, culturas diferentes, bem, séculos diferentes mesmo. Mas o Orgulho e Preconceito, como diriam as minhas alunas de décimo ano, rula.
Há um motivo para os clássicos serem clássicos, para histórias com séculos, às vezes milénios, continuarem a ser lidas/vistas/recontadas: são aquelas histórias que tocam directamente na psique humana e transcendem épocas e culturas. São normalmente histórias que lidam com os mais básicos dos instintos humanos, como o amor filial no rei Lear, o sonho e o ridículo de D. Quixote e, como é disso que o texto fala, o amor de Darcy (Fitzwilliam para os amigos) e Elizabeth (Lizzie para a matilha de manas).
Que uma história cheia de caças frívolas a noivos ricos e bailes de aldeia tenha sobrevivido com a mesma frescura inicial a duzentos anos e inúmeras gerações de mulheres a viver em sítios diferentes, culturas diferentes, personalidades diferentes só é difícil de perceber se não tivermos em conta primeiro o génio e a finíssima ironia de Jane Austen e depois a intemporalidade dos sentimentos que esta descreve.
Uma discussão recorrente entre o meu grupo de amigas (tão book geeks como eu) sobre qual o melhor herói clássico cessa assim que Darcy é mencionado: Heathcliff tem o sex appeal dos meninos maus mas é bruto e vingativo, Rochester é intenso e apaixonado, mas, bem, fechou a ex no sótão (nunca um lugar confortável para se estar) e com Max de Winter ficamos frustradas por ter a ex que teve e ser assombrado por ela (que também não é uma coisa boa com a qual lidar). Já com Darcy, vemos-lhe os defeitos logo de chofre (o que deveria ser LEI para todos os homens, para saber com o que contamos), mas passa o resto do livro a redimir-se deles.
Acho que um dos motivos que torna este livro intemporal é os obstáculos a superar não virem tanto de fora, mas de dentro. Não é o dinheiro e quezílias de família, como em O monte dos vendavais, não é uma mulher maluca, como na Jane Eyre, não é a obsessão pelo passado, como em Rebecca que os separa, mas sim os defeitos de ambos.
É o orgulho e os julgamentos apressados, baseados em primeiras impressões, os preconceitos e arrogância dos dois que os separa. E a superação dos próprios defeitos que os torna melhores pessoas é que lhes permite mandar para trás das costas expectativas próprias e de terceiros do que é correcto e fazer o que desejam, que é ficar juntos. E ficam juntos como iguais: Darcy não subjuga Elizabeth à sua vontade, nem Elizabeth o reduz a uma papa informe moldável aos seus desejos: mais que amor encontraram um no outro a mais rara das combinações, o respeito e a admiração mútua. Se isto não é o amor perfeito, não sei o que será. E é por isso que a Jane Austen, eu, a minha prima toda pragmática, as minhas alunas de décimo, a Keira Knightley achamos o livro tão bom. Ou acharíamos, se pudéssemos todas responder ao inquérito.
Quanto à roupa masculina regência, sugiro-lhes a belíssima adaptação do livro feita pela BBC há uns anos, com o Colin Firth como Darcy. Vejam e depois digam se não concordam comigo.
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