sexta-feira, agosto 24, 2007

Os homens deviam vir com etiqueta





Os homens costumam queixar-se que as mulheres deviam vir com instruções, e não deixam de ter razão. Comparativamente, somos muito mais complexas enquanto género que eles, muito menos previsíveis. Os homens, enquanto seres relativamente básicos que são, são muito mais previsíveis, têm todos mais ou menos os botões de ligar e desligar no mesmo sítio e, desde que lhe forneçamos as suas necessidades básicas (sexo, comida e mais sexo) são de fácil uso e de baixa manutenção. Enquanto a nossa complexidade de reacções exigiria um manual plurilingue de várias páginas em letra pequenina e um número de apoio, os homens precisariam apenas, no meu entender uma etiqueta de leitura rápida e símbolos universais, como a roupa.
Como já disse, e tirando uma excepção por outra que apenas confirma a regra, os homens são seres razoavelmente cognoscíveis. Dividem-se em meia-dúzia de géneros e as suas reacções são tão previsíveis e fiáveis como a cobrança do IRS aos funcionários públicos: quer chova, quer faça sol, são coisas que se mantêm geração após geração. A questão é que nós, mulheres, nunca os conseguimos pôr na categoria correcta logo numa primeira impressão, por causa da cegueira das hormonas. A Cegueira Extemporânea da Paixão Ordinária (CEPO) . Daí a expressão que o amor para além de cego, é estúpido que nem um CEPO. Isto é a forma ciêntifica de dizer que não vemos os defeitos da criatura nem com um telescópio à frente. Se este estado de cegueira é grave, é também, e felizmente, temporário. Claro que nessa altura já nós perdemos tempo e gastámos latim e já, também previsivelmente, nos lixámos. Pensem só na economia de tempo e chatices que seria a etiqueta informativa que nos dizia logo, de forma clara e inequívoca com o que poderiamos contar dessa peça? Era outra limpeza, não era?
Quando compramos uma peça com um teor de 80% de elastano, sabemos, logo e de fonte segura, que vai colar e mostrar todas as curvas que não deve. Se comprarmos seda pura sabemos logo que não se pode fazer nada a não ser mandar lavá-la a mosteiros tibetanos por monges budistas na fase certa da lua e rezar para não ficar com manchas. Se tiver o símbolo do não usar lexívia a única maneira de a usar é se quisermos fazer uma camisola psicadélica tie&dye. Digam lá se, aplicada aos homens não a teoria das etiquetas não dava jeito...
Imaginem que entram num bar e vêm um homem interessante. Uma espreitadela rápida à etiqueta, que seria qualquer coisa como isto:
e já esávamos mentalmente preparadas para a seca de conversa de duas horas sobre tunning, a genialidade de Kubrick (o cineasta de culto por excelência para homens melga) ou as madeixas que pôs. O mesmo era válido para os EMO, que teriam o símbolo frágil, ou os filhos da mãe, que teriam o Tóxico, manusear com cuidado. A sério, seria um mundo muito, mas muito mais civilizado que este onde vivemos. De longe.

3 comentários:

Lilly disse...

Tenho adorado os posts que escreves! Continue com o excelente trabalho!!

Elisa disse...

Achas que o Kubrick é o cineasta de culto por excelência para homens melga? Porquê? (serei eu homem? serei eu melga?)

Passionária disse...

lol, Elisa, foi um aparte pessoal. Eu não detesto Kubrick, mas também não adoro. E já fui muuuuuuuuuuuuuuuuitas vezes melgada por homens adorantes dele, mas às horas de cada vez,sobre a genialidade do mestre, daí a minha associação aos homens melga. E apesar disso, não me converteram. Sou mais uma rapariga Wong Kar-Wei, ou Greenaway...