quarta-feira, julho 11, 2007

A síndrome do macho alfa

No reino animal, nas espécies que vivem em comunidade, existe frequentemente um macho alfa, um indivíduo dominante que, pela sua força e pujança, domina os restantes machos e fêmeas. A ele cabe o privilégio de se alimentar primeiro, de decidir o rumo do grupo, e de ter todas quantas fêmeas desejam. Numa espécie como os leões-marinhos, por exemplo, o macho alfa tem o monopólio das fêmeas, acumulando um harém. Quanto aos outros machos, azar, ou lutam, muitas vezes até à morte para conseguir subir na hierarquia do grupo, ou está destinado a uma vida de celibato eterno.
Se acham que estão a ler por engano um texto do National Geographic por engano, não desistam ainda, já vou directa ao ponto. Se repararem com a atenção que um miúdo de três anos dá ao relatório da bolsa, percebem logo que os seres humanos do sexo masculino têm mais em comum com matilhas de lobos ou leões-marinhos que o que seria de esperar, nos dias de hoje.É verdade que gosto frequentemente de pensar que os homens são um pouco melhores que cabritos monteses ou orangotangos, mas a verdade verdadinha é que, neste aspecto, são pouco melhores.
O mundo masculino é um mundo de luta, mais ou menos subtil, pelo lugar de macho alfa, e poucos são os homens que têm a grandeza civilizacional de lhe escapar.Se é lugar comum pensar que todas as mulheres têm instintos maternais, não o é menos a ideia que todos os homens querem ser machos alfa. Mas sabem com é, os lugares-comuns por alguma razão o são. Sem a influência civilizadora feminina os homens ficam satisfeitos com formas mais ou menos elaboradas de lutas e jogos de poder, senão é vê-los nos seus tempos livres. O que é um jogo de futebol, de poker, céus, até de xadrez, senão formas simbólicas de luta pelo domínio?A ideia de virilidade que nos chega através dos tempos está carregada desta ideia de macho agressivo e sexualmente dominante, autoritário.
Homem que é homem, nunca tem dúvidas e raramente se engana. Ou, como diz mais um lugar-comum, não pára para pedir instruções. Já sabem a do Moisés andar perdido no deserto quarenta anos por não parar para pedir indicações, não sabem? Pois.
Reparem para o exemplo do uber macho alfa, o 007. Incrivelmente assertivo e seguro de si, dono de um magnetismo animal que é qualquer coisa, sexualmente poderoso, com um harém de mulheres bonitas cujos joelhos se transformam em papa só por estarem na mesma sala que ele...Não digo que os homens não sofram com esta imagem de masculinidade, porque sofrem. Como nem todos podem ser machos alfa- there can be only one, Duncan, os que não o são sofrem horrores de frustração e impotência. Depois, como os machos alfa são, por natureza, duros e seguros de si, tudo o que é dúvida ou fraqueza, ou sensibilidade é um defeito que é melhor abafar. Se pensam que os homens são frios e insensíveis por si ( que são), têm de ver que toda a ideia de masculinidade da nossa sociedade os arrasta para isso, e, a não ser os homens que vivem em remotas sociedades matriarcais algures numa ilha do Pacífico, todos têm de tentar, tanto quanto possível, encaixar nele. E a verdade é que, em termos da pura propagação da espécie, os machos alfa têm mais sucesso, e as mulheres, como seres também instintivos que são, os parecem preferir.
Em termos biológicos, os homens estão programados para a luta pela dominação do grupo, como o estão para disseminarem a sua semente tanto quanto possível em toda a fêmea disponível (imagem encantadora, verdade?), mas, e aqui está outro grande MAS, a humanidade evoluiu um poucochinho mais, coisa pouca, que as sociedades dos lobos ou dos leões marinhos. Criámos civilizações cada vez mais complexas e sofisticadas, mandámos homens para a Lua, mas não somos capazes nem por decreto de evitar que os nossos machos se comportem como macacos acabados de cair da árvore rumo à savana, ao caminhar bípede e ao polegar oponível... Damn it.
Pessoalmente, os machos alfa deixam-me desconfortável e desconfiada, não tenho grande tolerância para integrar haréns de fêmeas adoradoras, não respondo a ordens directas e distanciamento emocional já tive que chegue, muito obrigado. Muito menos tenho vontade de andar com um homem que sente a necessidade constante de mostrar aos amigos que a tem maior, quer seja por ter um carro melhor, por ser mais inteligente, ter mais músculos, ou por ter uma(s) namorada(s) troféu. Não há paciência. A sério. Não digo que gosto de capachos, antes pelo contrário, mas continuo a achar que deve haver um meio-termo entre aqueles que fazem competições com os amigos para ver qual aguenta mais álcool, dá melhores murros, tem uma pilinha maior e um tapete da sala, não?

2 comentários:

anarresti disse...

ter uma mulher do nosso lado e continuarmos a tentar provar aos outros homens que somos "muito homens " é simplesmente parvo, absurdo, perda de tempo. é a ela e com ela que faz sentido mostrar, fazer, atingir, superar, surpreender.

Passionária disse...

Mas isso, é, aparentemente, um conceito demasiado complexo para a psique masculina,lol. Obrigada pela visita :)