segunda-feira, julho 30, 2007

A culpa é do Bryan Adams



Estava eu no carro enquanto a minha amiga P enchia o depósito quando comecei a reflectir (quem me conhece sabe que as minhas melhores ideias vêm, infalivelmente, quando estou num posto de abastecimento). Por que motivo é que as mulheres da minha idade, aquelas que estão agora nos trinta são, na sua maioria mais papalvamente românticas que as piquenas das gerações seguintes. Como ainda não estou convencida (apesar de alguns sinais alarmantes) que o problema está no QI médio das mulheres, nem na genética (que mutação genética haveria nas mulheres que nasceram até 1960 e nos deram à luz justificaria isto? Na altura quase não havia químicos, era tudo ar puro...), a luz fez-se: tinha de ser cultural mesmo.
Ora vejamos, a cultura popular sim, está muito diferente. Enquanto nós, na pré-adolescência andávamos a ver Candy-candy ou Anne of the green gables, esta malta vê Morangos com açúcar. Torna-se óbvia a visão diferente do que é amor transmitida nesta idade vulnerável, não torna? Pois. Mas pronto, deixemos de lado referências culturais referentes à televisão, pois não são experiências verdadeiramente comparáveis, uma vez que nós só tinhamos um canal, enquanto que agora têm quarenta ou cinquenta por onde escolher. Pensemos, por exemplo, em filmes. Os filmes que marcaram a nossa adolescência são todos grandes lamechices sobre o triunfo do amor. Nós somos as espectadoras do apogeu da Meg Ryan, poramordedeus... Desde Top Gun, a Oficial e cavalheiro, a When Harry Met Sally, ao Ghost... Quem foi ver o Titanic, hein? Quem povoava as salas dos filmes da Sandra Bullock? Nós. As miúdas das gerações a seguir cresceram com American Pies e Jackass e assim. Ora, mulheres que vêm o Jackass estão menos atreitas a acreditar que os homens são seres minimamente coerentes e amorosos que mulheres que não viram, certo? Mas enfim, rejeitemos também a influência do cinema, pois é, tal como a televisão, um conceito diferente para nós e para eles (nós vimos surgir o vídeo, somos versadas em Bollywood porque era o que havia disponível, elas ripam os filmes que ainda nem estrearam da net). Avancemos para o ponto onde eu quero chegar: se excluirmos a TV e o cinema como fontes contaminantes de romantismo pop, o que sobra? A música, claro.
Ora, a música sim é, mais ou menos universal. Apesar de não ouvirmos música da mesma forma e nos mesmos sítios, ouvimos, na nossa impressionável adolescência, tanta música como as adolescentes que nos seguiram. Aquilo que estava disponível para ouvir é que, minhas amigas passou de tóxico a abre-olhos.
Nós, as raparigas desta idade (se alguém se atreve a voltar a chamar "madura" fica com, pelo menos, dois olhos roxos, que não sou figo para estar madura) somos as últimas a saber o que era um slow, a descobrir o que era dançar assim. Nós, a geração slow (refiro-me assim por uma questão prática de identificação) encaramos a dança a dois como uma coisa romântica em que estamos abraçadinhas a partilhar emoções. Já as gerações seguintes, a geração dance ou a geração kizomba mais facilmente troca secreções que emoções, if you get my meaning. Não estou a dizer que isso é mau, reparem, pelo contrário. Acho refrescante que a música actual transmita as coisas como elas são às raparigas. Assim não vão ao engano à procura de príncipes, sabem logo que há é sapos por todo lado, uns mais repugnantes que outros. Rapariga que cresça a ouvir, por exemplo, o 50Cent a cantar o Candy Shop sabe bem o que esperar: nada de anel, mas um pouco de diversão nunca fez mal a ninguém, pois não?
"[50 Cent]
I'll take you to the candy shop
I'll let you lick the lollypop
Go 'head girl, don't you stop
Keep going 'til you hit the spot (woah)
[Olivia]
I'll take you to the candy shop
Boy one taste of what I got
I'll have you spending all you got
Keep going 'til you hit the spot (woah)"
Já nós, não. Nós andavamos a ouvir Bryan Adams, nós sabiamos (e ainda sabemos) de cor as canções dele. Nós ouviamos e acreditávamos que poderia haver profundidade emocional no homem médio a ponto de não só sentir como também verbalizar coisas como estas:
"To really love a woman
To understand her - you gotta know her deep inside
Hear every thought - see every dream
N' give her wings - when she wants to fly
Then when you find yourself lyin' helpless in her arms
Ya know ya really love a woman

When you love a woman you tell her
that she's really wanted
When you love a woman you tell her that she's the one
Cuz she needs somebody to tell her
that it's gonna last forever
So tell me have you ever really
- really really ever loved a woman?

To really love a woman
Let her hold you -
til ya know how she needs to be touched
You've gotta breathe her - really taste her
Til you can feel her in your blood
N' when you can see your unborn children in her eyes
Ya know ya really love a woman"
estão a ver o potencial tóxico da coisa? Isto é o chemical warfare do mundo do romance. Instala-se directamente no sistema nervoso central e bam, estamos contaminadas: somos umas românticas inveteradas e nem os desapontamentos (previsíveis, claro, a pensar assim) que tivemos na vida servem de antídoto. Quando muito ficamos cínicas, mas sabem o que dizem dos cínicos, certo? Românticos incuráveis que foram magoados muitas vezes.
Assim, minhas queridas, a próxima vez que cairem numa esparrela que uma miuda de doze anos conseguiria ver ao longe, não se sintam tão mal. Pensem em toda a musica romântica, lenta e doce que ouviram nos anos oitenta e noventa que vos moldou o espírito e deixem de lado um pouco da vossa culpa. E se não resultar, repitam como um mantra até acreditarem: a culpa é do Bryan Adams. Pôr a culpa num homem pode não ser justo, mas faz-nos sempre sentir melhor...

2 comentários:

polegar disse...

passionária: leio-te frequentemente, mas este post bateu cá dentro (passo a expressão).
verbalizaste tudo aquilo que são as minhas teorias há anos e que nunca consegui explicar!

grazie! eheheh

P.S.: o único inconveniente é que vou passar o resto do dia a cantar o senhor Adams... humpf

Anónimo disse...

Faço minhas as palavras de Polegar! Obrigada pelas recordações! Nô.