sexta-feira, março 09, 2007

Deusas, Musas e heroinas avulsas


Há qualquer coisa de muito vital, de muito actual, neste livro, qualquer coisa que transcende todos os condicionalismos abafantes da Inglaterra vitoriana e pode ser tão verdade hoje como há cento e tal anos.
A primeira lição que se tira deste livro é simples: o amor não nos torna melhores pessoas, não nos salva nem redime, o amor, em si, não tem a capacidade de nos fazer felizes. O amor não é uma coisa agradável e feliz que nos torna em duendes felizes em vidas felizes em que se têm muitos meninos e uma station wagon para os transportar. É antes uma coisa vital, orgânica, uma força que não controlamos e que tem uma grande potencialidade de nos destruir, como os terremotos. Depois, não amamos generosamente, a história do Rilke dizer que tem de se libertar para amar porque prender é fácil e não se precisa de aprender é uma grande treta. Na verdade, quando amamos queremos é a nossa felicidade, que pode ou não corresponder com os melhores interesses dos outros. Não queremos nada saber se os outros estarão melhor, serão mais felizes, sentir-se-ão mais realizados com outros. Queremos é segurar o outro em nós para sempre, mesmo se segurarmos com força demais e fazemos doer, mesmo que o outro se queira libertar.
Depois aprendemos que nunca desejamos nada com tanta intensidade como aqueles são maus para nós, aqueles que sabemos que não podemos, ou não devemos, desejar. É como as moscas para a chama, deixamo-nos atraír até ao abismo, ou até à loucura, como Heathcliff e Catherine.
Por último aprendemos uma verdade cara em anos de sofrimento e teimosia: que nem sempre o amor vem em explosões e trovoadas, em tumulto, que há amores serenos graduais, onde um e outro preenchem as falhas e os defeitos do outro, até formarem uma coisa sólida, uma coisa melhor e que, no livro, são os únicos com final feliz, os únicos que permanecem.

1 comentário:

Anónimo disse...

Por isso este permanece um dos meu livros favoritos...
Mas também é verdade que é preciso amar como Heathcliff e Catherine para depois se poder viver com um amor calmo e sereno, com um amor de todos os dias, quotidiano. Os que conseguiram sobreviver a um amor assim ficam marcados a ferro e fogo mas, e ainda que não sejam pessoas melhores, não lamentam o que não conseguiram segurar nas mãos e vivem com o que a vida lhes deu.
E é bom perceber finalmente que se deixou de sobreviver para passar a viver.
E que nem o amor que nos dão de beber nos livros é válido.

Sempre tua

Su