terça-feira, março 30, 2010

domingo, março 21, 2010

Dia internacional da poesia



your life is your life
don’t let it be clubbed into dank submission.
be on the watch.
there are ways out.
there is a light somewhere.
it may not be much light but
it beats the darkness.
be on the watch.
the gods will offer you chances.
know them.
take them.
you can’t beat death but
you can beat death in life, sometimes.
and the more often you learn to do it,
the more light there will be.
your life is your life.
know it while you have it.
you are marvelous
the gods wait to delight
in you.

Charles Bukowski





terça-feira, março 09, 2010

Glitter in the air

Sempre acreditei que belo, que o bom se devia medir não pelo que os outros dizem, por listas e regras mas pelo que gostamos as coisas, pela capacidade que estas têm de nos tocar. Para mim, e de acordo com esta lógica, é-me muito difícil classificar este filme, pelo motivo que estava um caco emocional lá pelo fim.
Dizer que gostei é um tanto ou quanto redutor, no sentido que basicamente teve o mesmo impacto emocional que um murro no estômago, um abanarem-nos pelos ombros até chocalhar. Se considerarmos que, geralmente, sou um tantinho nada cabra, um filme tocar-me para lá da armadura é um feito e tanto.
Escrevi aqui há tempos, que, com o tempo, perdíamos os olhos abertos de maravilhamento perante o amor. Não sei se estou certa. Acho que, por mais que vivamos, por mais sábios, mais adultos, mais cínicos que sejamos, nunca deixaremos de ser vulneráveis ao impacto do amor em nós, sempre novo, sempre capaz de nos dar nós no estômago, de nos atar a língua, de nos reduzir a uma papa informe de nervos e ânsia e esperança e insegurança e vontade.
Nunca, por mais que tempos e desgostos passem, conseguimos deixar de desejar que uma hora dure e dure para sempre, esticando todas as leis da física até ao infinito, não deixamos nunca de tropeçar e mergulhar de cabeça na intimidade partilhada de risos e silêncios e gestos e olhares onde existimos inteiros, melhores que nós mesmos sozinhos na nossa concha de sabedoria. Haverá sempre, antes de ser noite, aquele momento em que é crepúsculo e a luz é dourada e o amor vive, apesar de sabermos como dói, para sempre, uma fénix dourada, renascida das cinzas e para lá do medo.

segunda-feira, março 08, 2010

Do you want the truth or something beautiful?

A minha mana Su, provando-me que as grandes mentes pensam de forma semelhante e que há pessoas que, inconscientemente, sabem sempre do que aquelas de quem gostam precisam, forneceu-me o título para este texto sob a forma da sugestão musical da Paloma Faith (a propósito, adorei o retro dela, adorei, adorei,adorei, pronto). Queria escrever, desde que vi esta foto fabulosa da Gabourey Sidibe na capa da revista V, a propósito de como a beleza e a verdade poucas vezes se encontrem.
No site de onde retirei a foto havia dezenas e dezenas de comentários negativos sobre ela, muitas de homens, que achavam que alguém daquele tamanho devia estar longe, muito longe dos seus olhinhos sensíveis com calibrador 36, mas outras de mulheres furiosas mais com a perspectiva da foto que propriamente com o alvo do retrato. Segundo muitas o ângulo devia ter sido outro, um que disfarçasse o pescoço e o alongasse. É que uma das regras não-escritas da condição feminina é simples: é nossa obrigação parecermos o mais giras possível, mesmo recorrendo a truques de câmara e ângulos favorecedores.
Que o pescoço seja como é mostrado como efectivamente é mostrado é irrelevante. A verdade é de somenos importância nestas coisas da beleza. Contam mais coisas como determinação cega em ser-se gira. A beleza é, a maior arte vezes, e tal como uma boa fotografia, uma questão de luzes e persectiva, enquadramento e ângulo. A beleza não sai, igualmente, de dentro de nós, mas de caixas de tinta ara cabelo, boiões de creme, tubos de maquilhagem e rituais bizarros que frequentemente englobam pormos mascaras de cores estranhas e com ingredientes pouco ortodoxos na cara. Fica giro o resultado final, mas por mais verossímel que este seja, este não é propriamente a verdade do que somos.
Não depreendam, no entanto, por mais que sempre, mas sempre defenda a verdade, que sou radical nisto de beleza vs a verdade. Afinal, isso implicaria, por exemplo, deixar as nossas sobrancelhas à sua natural condição de monosobrancelha, look que, muito francamente, dispenso. É só que, no mundo actual, em que nada de nós é inalterável, a verdade é muito difícil de vislumbrar. A verdade de quem somos está enterrada em montes de embalagens de extensões, montanhas de unhas postiças, mares de silicone, desfildeiros de auto-bronzeador, oceanos de tinta para o cabelo. E há uma diferença muito grande entre uma mentirinha inofensiva, como a de arranjar as sobrancelhas (de modo a parecer ter duas e não um arco do triunfo na testa) e uma peta de tamanho gigantesco como a da Heidi Montag, uma starlett americana que, aos 23 anos fez dez operações plásticas de uma só vez, isto a somar às duas já feitas antes desta idade, uma ao nariz e outra aos seios.
Voltando à Gabourey Sidibe e à relação entre verdade e beleza. Esta rapariga parece, por oposição à citada acima, muito mais próxima da verdade. Também está mais afastada dos padrões de beleza, mas não se podem fazer omeletes sem quebrar ovos. Claro que se nos perguntarem se preferimos ser bonitas ou ser agradáveis à vista, a nossa feia interior é que vai à vida. E esta dicotomia depressa se esvazia de significado. Não poderíamos nós, juntar à perspectiva e ângulo nos quais somos belos um terceiro parâmetro, o da confiança? Porque acreditem, a confiança permite-nos ser mais verdadeiras connosco próprias e dispensar muitas destas coisas (todas não, lembrem-se da monosobrancelha, que só ficava bem à Frida Khalo), mas a maior parte sim. E assim a verdade e a beleza terão um lindo encontro, como na foto da Gabourey Sidibe, que está fabulosa.



terça-feira, março 02, 2010

O meu problema com a indústria de retalho

Na aristocracia do virar do século XIX só um nome era murmurado com reverência: Charles Worth. A casa Worth, que começou na segunda metade do século XIX em Paris é geralmente considerada a primeira casa de moda como as conhecemos hoje, com passagens de modelos e liderada por um homem. Mas não é o facto de ser o primeiro homem a ter uma casa de moda com grandes dimensões que o distingue, mas a sua forma de pensar e trabalhar. Reza a lenda que uma mulher entrava na casa Worth e dizia o que precisava ou queria, por exemplo, um vestido de passeio, um vestido de baile (a aristocracia nessa altura tinha códigos de vestuário muito rígidos, chegando a usar seis ou sete toilettes diferentes num dia). A partir daí, o costureiro analisava a cliente, o seu estilo, o seu corpo, o seu estilo pessoal e criava para ela aquilo que a favorecesse e, infalivelmente, as mulheres amavam de paixão os vestidos que conseguiam, eram, dizem muitos relatos, os mais confortáveis, mais maravilhosos vestidos que tinham já alguma vez comprado.
Mesmo se não falarmos na aristocracia, que podia dar-se ao luxo de um estilista, toda a mística à volta das roupas era diferente. Como praticamente não havia roupa pronta, cada mulher, fosse ela do nível social que fosse, tinha bastante liberdade de escolha no tamanho e modelo da roupa. Comprava o tecido e, apesar de haver uma moda em termos de feitio, era esperado que cada uma a adaptasse às suas necessidades. Não havia tamanhos ou formas erradas.
Dizem que o prêt-à-porter contribuiu para a libertação feminina- comprar a roupa feita poupa o tempo de a fazer- mas também é verdade que contribui, em muito, para a nossa frustração eterna. A massificação da moda e o estabelecimento de tamanhos-padrão só veio contribuir para a infelicidade geral, pois a maioria de nós, de uma forma ou de outra, raramente encaixa perfeitamente no tamanho que as fábricas de roupa e os estilistas acham que devemos ter.
Tendo eu o meu tamanho, encontrar roupa dá trabalho. Encontrar roupa gira, que não me faça parecer com 70 anos, que não seja semelhante a sacos de batatas ou de fibras sintéticas rascas é possível, mas dá trabalho. Mas pronto, à parte de a maioria das lojas não me reconhecerem o direito à existência já estou eu habituada. Ao facto de as mulheres todas que conheço, sem excepção, se queixarem de ser difícil encontrar roupa que assente bem e as favoreça é que já acho demais.
Cada vez que visualizo o atelier de um designer, imagino-o a pensar assim: como é que vamos torturar a população feminina esta época? Riscas horizontais? Demasiado visto. Folhos? Hum, talvez. Calças elásticas e brilhantes bem coladinhas ao corpo? Oh sim, definitivamente sim... E nesta altura, o dito designer que por acaso até é gay e nutre um ódio invejoso a toda a espécie feminina solta um riso maléfico.
Consideremos, como exemplo do que relato, a foto acima, minhas queridas. Até a Rihanna, que é magra e elegante e novinha parece desfavorecida por aquela couve. As ancas dela parecem enormes e o torso dela fica atarracado e desproporcional. Quem, se não alguém que secretamente odeia mulheres, desenharia uma coisa daquelas? E se a alta costura, que é suposto ser personalizada faz isto às pessoas, a indústria de retalho não lhe fica atrás.
Alguém me pode dizer onde, a não ser num país da África Sub-Sahariana, o tamanho médio das mulheres é um 36? E não o 36 dos anos 80 e princípios de 90, o de agora de, digamos, a Zara ou a Mango? A maioria das mulheres portuguesas veste 40-42 a não ser que meça 1.40. E não há vergonha nisso. Nenhuma. Temos ancas largas, so sue us. Temos peitos ou barrigas proeminentes, e depois? Será nossa missão na vida matar-nos à fome e fazer exercício até cair para o lado até conseguir entrar nessas criações atrozes que, mesmo assim nos vão ficar mal e fazer-nos sentir feias? Aparentemente sim. E não me venham cá com conversas de saúde: todos os programas de emagrecimento, todos os medicamentos, chás e mezinhas mostram gente a vestir números abaixo, não electrocardiogramas ou análises ao sangue com os valores dos triglicéridos, colesterol e glicose.
A solução para isto não é fácil e, francamente lhes digo da minha experiência, ser anti-establishement dá trabalho e é frustrante. Eu adoraria o dia em que chegasse a uma loja, qualquer loja, e encontrasse roupa para mim que ficasse bem e me favorecesse em vez de parecer uma coisa saída da secção de campismo e desportos ao ar livre. Isso, logicamente não acontece. Não irá nunca acontecer. Encontrei, no entanto, a minha paz. Se não me reconhecem como cliente e o meu dinheiro não é bom o suficiente para essas lojas, então gasto-o ( e olhem que roupa é um dos meus vícios) onde sou bem recebida. E culpo os designers sádicos nos seus ateliers a achar novas e criativas maneiras pelo estado de coisas. E só a eles. Não poderiamos ter um Charles Worth que desenhasse coisas que nos ficassem bem independentemente do nosso tamanho? Sinceramente isto do progresso nem sempre é evolução.