quarta-feira, setembro 30, 2009

segunda-feira, setembro 28, 2009

Os padroeiros da vida



As coisas vulgares que há na vida não deixam saudades, já a Mariza diz na Chuva, só as lembranças que doem, ou fazem sorrir. Assim vamos pela vida com uma data de bagagem emocional, sacos de desesperos e esperanças, daqueles momentos em que a emoção nos aperta o estômago como um punho cerrado, daqueles momentos em que fomos muito felizes ou muito desgraçados. E vamos também pela vida carregados de pessoas, quer elas queiram vir connosco ou não. Umas mas olvidáveis que outras. No extremo que vulgarmente ocupam as inolvidáveis estão aquelas que eu costumo chamar de santos padroeiros.
Ora, os santos padroeiros têm aquelas características próprias da santidade, irritantemente dados à perfeição e a milagres e assim, insuperáveis nos seus sorrisos pintados e nas graças que espalham. Daqueles que não nos esquecemos porque acreditamos não haver melhor, não haver mais perfeito no conhecimento do nosso coração e da nossa alma, daqueles que nos prometem o céu só se tivermos um pouco mais de esperança, um pouco mais de paciência para as recompensas espirituais. E não me digam que sou a única a ter um padroeiro, porque eles são muito comuns. São os inultrapassáveis, os instransponíveis, aqueles que nos fazem olhar para trás com mágoa e pensar se ao menos as coisas tivessem sido diferentes, se ao menos pudesse ter sido seria perfeito. Aqueles que nos impedem de prosseguir porque não há, não pode haver melhor.
O chato dos santos padroeiros é o facto e nos impedirem de viver a vida, pois enquanto acreditarmos que não há melhor, que não pode haver, não damos passos nenhuns para os substituirmos por gente de carne e osso. Têm pés de barro, é verdade, não são, provavelmente perfeitos na sua humanidade, mas a sua presença na nossa vida é a desculpa perfeita para nos fecharmos no nosso cantinho.
Não há nada, mas nada mais fácil que um amor impossível. Para um amor impossível, para uma recordação intransponível não precisamos de nos esforçar nada, nem de comunicar, nem de pôr de pé contactos humanos. Bastamo-nos nas nossas bolhas de saudades, recordações e esperanças remotas. Uma coisa real é diferente. Aquela que de facto nos obriga a lidarmos com outros, a olhar para dentro e modificarmos os nossos hábitos para acomodarmos outras formas de estar e de ver... Sair de nós exige força e coragem, mas sobretudo a sabedoria de quebrar os padroeiros e seguirmos a vida sem os rumos da dor e do desgosto, em frente e sem memórias.

terça-feira, setembro 22, 2009

O sentido da vida

Porque não há para as crises existencialistas banda sonora melhor que o melhor metal sinfónico escandinavo, deixo-vos a música preferida do meu grupo do momento. Epica para repensar caminhos. Não, não neguem uma ciência que desconhecem à partida. Ponham o som no máximo e curtam. A não ser que estejam no trabalho, pelo que se calhar é melhor ideia esperar até chegar a casa...

sexta-feira, setembro 18, 2009

De famílias, tidas e achadas

Contavam-me há dias histórias dos encontros perfeitos, dos cenários perfeitos de sedução: a música ideal, o filme ideal, o restaurante ideal, aquela sequência de coisas que normalmente fazemos nas primeiras fases, entre a expectativa e o terror abjecto, da sedução. Dei cromos pra a troca. Tempos houve em que as referências certas, as ideias certas, a música x ou o filme y faziam um clique imediato de intimidade partilhada. Tempos houve em que tinha botões desses, e que funcionavam.
Somos condicionadas para a sedução de uma forma quase pavloviana. Os lugares-comuns do romance por alguma coisa são lugares-comuns.O ponto está em perceber quais os nossos botões que funcionam connosco. E guardá-los bem guardadinhos.
A sedução, o encantamento são muitas vezes coisas efémeras, muito difíceis de destrinçar da realidade, esses bocados de sonho. Precisamos de perspectiva, e essa perspectiva é a família que dá.
A família é a antítese da sedução. A família sabe todos os nossos botões, às vezes os bons, de nos encherem a alma de canja e simpatia, às vezes os maus, de nos irritarem. São, se quiserem, o controlo numa experiência, permanecem inalterados, para o bem e para o mal. Na família não há cenários perfeitos, amam-nos com a mesma frequência com que nos irritam, envergonham, enfurecem, enternecem. Chamam-nos à terra, mesmo em circunstâncias onde não são tidos, nem achados.
Cheguei à conclusão, nos últimos tempos, que o que vale ter na vida é a nossa família, da tida e da achada, dos que são nossos porque nascemos naquela família, dos que passaram a ser nossos porque lhes abrimos a amizade e o coração. Que nos aturam as cabrices, as birras e infantilidades, que nos dão cabrices, birras e infantilidades a aturar, que ficam porque são família. O resto,bom, são cenários e botões, encantadores, interessantes. Mas não são a verdade.
Obrigada, mana Su. Vou pela autoestrada, tu sabes o que quero dizer.

quinta-feira, setembro 17, 2009

segunda-feira, setembro 07, 2009

Do relativismo moral



Foi a conversa parar, na sexta-feira, casualmente ao tema da traição. Como este é um tema sob o qual tenho ideias firmes (na verdade tenho ideias firmes para quase tudo, é um vício meu), disse logo que era uma coisa com a qual não concordava nada; se já não se ama, resolve-se a relação antes de começar uma nova. Claro que parecia que tinha ali caído uma bomba, tal foi o espanto do resto dos comensais. Aparentemente, e na sua óptica, o assunto está cheio de gradações.
Se bem que costumo encontrar e tentar perceber diversas gradações da realidade, neste assunto confesso que não as encontro. Seja qual for a razão que me apresentem para a traição, continuo a achar moralmente errado envolver-se (física ou emocionalmente) com alguém já numa relação séria, e para isto ter ou não ter o papel e a aliança é completamente irrelevante. Até porque acho isso uma treta: quem frequentar um chat qualquer na net percebe que, pobres coitadois, o mundo está cheio de casados com mulheres que não os compreendem. Qual é a probabilidade estatística disso? Calculo que as mulheres digam a mesma coisa, que isto de gravidade no comportamento, tal são uns como outras, não há diferença nenhuma.
Tive uma educação católica e conservadora, tipicamente pequeno-burguesa. Fui educada com uma data de tabus, uns que questionei, outros que não. Este, confesso, é um dos que não consigo ultrapassar. Será tacanho da minha parte não aceitar que a coisa possa simplesmente "acontecer"? Será tacanho não aceitar esse relativismo moral que permite às pessoas fazerem aquilo que querem? Porque em análise última as pessoas fazem o que querem. Tirando imponderáveis sob os quais não temos qualquer tipo de controlo, acredito que a escolha é sempre nossa: estamos onde queremos e com quem queremos, nada, nenhum impedimento ou tabu consegue impedir-nos de fazer o que queremos. Se temos esse poder, podemos também escolher o que não queremos, dizer muito obrigada, mas não e amigos na mesma. Temos sempre um momento em que permitimos ou não que a coisa "aconteça", é essa escolha que nos torna adultos responsáveis em vez de garotos inconsequentes.
Como contei já era a única num grupo bastante heterogéneo de sensibilidades e formações a pensar assim. Não cheguei a decidir se o facto de pensar assim e não como eles faz de mim iluminada ou extraordinariamente obtusa, ou simplesmente se isso faz de mim uma idealista ternurenta sem ideia nenhuma do que é a vida real. Se querem que lhes diga, não interessa, num mundo de relativismo moral onde cada um traça os seus limites este é um dos meus. E conhecendo-me como me conheço, lamento, mas não me parece que vá mudar nunca.

terça-feira, setembro 01, 2009

Se os conselhos valessem de alguma coisa...

... não se davam, vendiam-se. Isto pensei eu no fim-de-semana ao tentar aconselhar a L. E aconselhava-a porque, tal como muitas de nós estiveram, estão e estarão, que a vida é assim mesmo, mal de amores. Os sintomas são os habituais: que gosto de ti mas não estou preparado para uma relação, que vamos ser amigos e logo se vê porque não te quero magoar, que és especial mas apaixonado nem por isso, que não és exactamente o meu tipo mas enfim... Ou seja, no grande banquete da vida, que é o amor, somos equiparadas a um pacote de batatas fritas gordurosas que servem para matar a fome momentânea e estão à mão mas não servem, balhamedeus, para refeição completa.
Toda a gente sabe que estas criaturas do mal de amores nunca fazem bem a ninguém. Se não gostam o suficiente, nunca gostarão, e tal como as ditas batatas fritas somos consumidas porque estamos á mão, mas até com um certo asco porque não somos, e nunca, mas nunca, nunca, nunca seremos, o caviar que acham que merecem. É insultuoso e acaba-nos com a auto estima ; voltando às batatas fritas (e quem havia de dizer que um snack carregado de calorias e colesterol dava uma metáfora tão versátil), se nos tratam como uma coisa reles e sem valor, mas à mão, nós próprias acabaremos por nos sentir assim. É uma profecia das auto cumpridas: se quem amamos acha que não valemos o suficiente nós achamo-lo também, esperando sempre ser (mal) tratadas da mesma forma por todos os homens que nos passam pela vida. E isto acaba mesmo por acontecer. Mais que isso, é muito fácil passar anos e anos segura a um homem destes, porque pois realmente é a cenoura perfeita para as burrinhas de serviço: não ama agora mas pode vir a amar, e é sempre um dia destes até percebermos, anos e ralações mais tarde que pois realmente não, nunca seremos nada mais que bordões convenientes para os egos frágeis destes homens cobardes. Ou até levarmos um belo chuto no rabo porque bem, o caviar chegou.
Os conselhos tão amigos que dei, frutos do saber emanado da experiência ,caíram, como está bom de ver, em saco roto. Mas isso já eu estava mais ou menos à espera, ou julgam que já nasci esperta? Pois não. Antes de me cair a ficha que estava a ser, como dizê-lo de forma elegante, estúpida como uma maçaneta de porta, também as minhas amigas a quem tinha acontecido o mesmo ficaram carecas de me avisar, mas eu dei ouvidos, dei? É que nem pensar...
É engraçado, temos os sentidos apurados para evitar o que faz mal, ou a dor. Não precisamos de nos cortar para saber que um corte dói, ou de comer sabão para saber que não sabe bem. Mesmo sem a experiência directa conseguimos evitar o perigo. No amor isto nunca acontece: ficamos cegos, surdos e estúpidos, esquecemos ou ignoramos os conselhos e saltamos alegremente para a frente do comboio de mercadorias em alta velocidade. Vai doer, à pois vai, mas é inevitável.
De modo que, leitoras, mais me valia ter poupado o fôlego e ir ver o Giannechini nos anúncios da TMN, em amor os conselhos não se dão. Porque se servissem para alguma coisa, e fossem a pagar, a vossa yours truly, com três anos e tal de blog, era uma excêntrica estrelicada ao sol nas ilhas das Caraíbas e não uma desgraçada funcionária pública no primeiro dia depois das férias. É que estava milionária...