terça-feira, julho 21, 2009

Do passado e do futuro



A representação de Janus, o deus romano das portas, passagens e decisões importantes é representado como bifronte, ou seja, com duas faces, uma voltada para trás, outra voltada para a frente. Isto simboliza omnisciência e, inerente a ela, a sabedoria de ver em todas as direcções, de lembrar o passado e conhecer o futuro. Não há más portas, ou más decisões se conhecermos o passado e o futuro.
Às vezes acho que a cautela que o tempo nos traz nos torna um pouco nesta dupla face de Janus, conhecemos o passado e prevemos, com uma certa exactidão o futuro porque já conhecemos a natureza humana e pouco-ou nada- nos surpreende. Mas isto pode ser, igualmente arrogância- hubris- que nos lança na desgraça, e este sim, é um conceito grego.
Não é por acaso que os gregos não tinham o correspondente a Janus no seu panteão. Ninguém, nem mesmo os deuses no seu esplendor estavam dispensados das falhas e imperfeições humanas, ninguém, nem mesmo os deuses estavam dispensados de falhar e de sofrer. Os romanos eram eminentemente práticos, acreditavam na técnica e no planeamento atempado para controlar as surpresas. E assim previam o futuro baseados no passado, e com sucesso. Mas um povo mais intrinsecamente filosófico como os gregos sempre percebeu o erro que isto constitui: prever todas as continências, saber todas as variantes é humanamente impossível, divinamente impossível também. E aqui reside a sabedoria.
Temos, com o tempo, a tentação de saber as coisas, prever as coisas, mas sabemos, devemos saber o inútil que é. O passado é um país distante onde toda a gente se comporta de maneira diferente de nós, o futuro um ponto de interrogação insolúvel. E continuamos a ter de passar portas sem omnisciência, nus e ignorantes como sempre o fizemos antes.

2 comentários:

vermelho disse...

The doors of perception...
Beijinhos.

Passionária disse...

ou qualquer coisa como isso...