quinta-feira, julho 02, 2009

Como ficar bem nua



Há um programa na SIC gaja de que gosto particularmente, chamada How to Look Good Naked. A ideia é fazer as mulheres gostarem do seu corpo tal como é, sem ligarem a traumas e bocas da reacção. O que, convenhamos, é o que deve ser.
O curioso deste programa é ser apresentado por um dos antigos meninos do Queer Eye For The Straight Guy, aquele onde gays cheios de estilo davam uma ou outra noção de estilo, ética e etiqueta aos neanderthais dos homens hetero. Que sejam homens que, assumidamente NÃO estão interessados no nosso corpo dessa forma que nos ensinem a gostar dele e a respeitá-lo não deixa de ser curioso. Não seria mais lógico que fossem os Hetero, aqueles que estão mais interessados em tirar os devidos usufrutos do nosso corpo a incentivar-nos a gostar dele? Seria, mas não é. E a culpa é da arte, da filosofia e do complexo fálico masculino, que faz mais vítimas que a tuberculose na época vitoriana. Eu explico.
Começamos pelos gregos. Ora os gregos antigos são, como todos sabem, os responsáveis pelos nossos padrões de beleza actual. Toda a escultura, toda a pintura, toda a representação gráfica do corpo humano tem essa matriz. Que tenha sido feita por uma civilização que mantinha as mulheres fechadas em casa e considerava o amor perfeito o vivido entre dois homens (idealmente entre mestre e aluno) não é, de todo, irrelevante. Mas pese o que pese este argumento, a verdade é que foi a sua arte que nos serviu de modelo, privilegiando o corpo feminino de uma forma e não de outra, esbelto e não rechonchudo, simétrico e não assimétrico, perfeito e não imperfeito.
Quanto à filosofia, também os gregos têm muita culpa (e como a religião lhe absorveu os conceitos por extensão, não é mencionada): o espírito sobre a carne empurra o conceito filosófico para um corpo espiritual, livre de todas as coisas demasiado carnais, ou sensuais, como preferirem: ancas e seios generosos, altura e potência física.
Por detrás, ou melhor, por detrás não, inerente a este conceito está o trauma da supremacia fálica dos homens que os faz sentir-se ameaçados por mulheres maiores que eles, relegando-as, tanto quanto possível à subserviência e à fragilidade. Mulheres que podem ser protegidas, mais facilmente são dependentes e subservientes.
Por mais que os conceitos estéticos, filosóficos ou morais evoluam, esta verdade é a pedra angular da civilização ocidental.
O que todos estes conceitos elevados (misóginos, mas elevados) têm a ver com TV e ficar bem despida é que eles são os responsáveis, os vilões das nossas histórias, os maléficos que nos põem em pânico em frente a um espelho. Ficar nuas à frente de gente, mesmo tratando-se dos homens que amamos (ou pelo menos desejamos) é difícil para nós. Achamos sempre que podíamos ser melhores, comparamos-nos com as estátuas, os quadros, as fotos das revistas e encontramos-nos em falta. E isso assim não pode ser.
Eu gosto do meu corpo. É bom e forte e saudável e serve-me bem. Os olhos não funcionam lá muito bem, nada que não se resolva com óculos. As pernas levam-me onde quero ir, as mãos agarram e prendem, acariciam e fazem o que devem fazer, a cara tem todos os requisitos habituais, dois olhos e um nariz, uma boca, duas orelhas. Gosto de poder com ele. E quem não goste que meta uma rolha. Vai-se pôr a vida em suspenso por centímetros em sítios que dizem que em teoria não deviam ter esse tamanho? Por curvaturas e ângulos dos elementos que nos constituem? Por células acumuladas no sítio X e ausentes no sítio Y, que não pensam, não sentem, não são? É claro que não.
A lição que o How to Look Good Naked nos ensina é que para ficarmos bem nuas precisamos apenas de confiança. E selectividade para não partilharmos a nossa vida com os neanderthais que não aceitam o nosso corpo como somos. Todas as coisas são belas, todas as mulheres, todos os homens, se não tivermos uma versão restrita e convencional daquilo que constitui a beleza. Ok, não somos Vénus de Milo ou do Boticelli, mas podemos ser do Botero ou de Willendorf, que são arte e beleza igualmente. E depois, é a alma, é o que escolhemos fazer com esse aglomerado de células não-pensantes que constitui o nosso corpo que contam. Quem nos vê nuas deve gostar tanto de nós como quando estamos vestidas, não pelas características, mas pela intimidade, mas porque somos Nós, e de perto. E se isso acontecer, estaremos sempre bem nuas.

5 comentários:

Anónimo disse...

O Gok Wan. Gosto dele sim. Vi-o na rua no outro dia a galinhar. E interessante, sim, que seja um gajo quase gaja que nos faz gostar mais de nos. Mas um gajo mesmo gajo nao se preocupa com isso porque enquanto nos duvidamos de nos proprias, estamos agradecidas que um gajo olhe para nos e queira ficar connosco mesmo apesar dos wobbly bits, como dizia a Bridget Jones. Ou, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas. Nao entendo porque e que a maioria dos homens ama assim, a cortar asas, em vez de as dar.
Interessante mesmo, e quando os homens se comecam a preocupar com o seu aspecto- e agradeco a L'oreal por isso, por lancar tantos produtos de beleza para homens- tinta para cabelo, anti rugas e afins- porque isso mostra aos homens que tambem eles tem que ser mais do que aquilo que sao- e que isso nao e mesmo nada facil.
No meu casamento nunca fomos tao iguais como quando o V. se comecou a preocurar com o tamanho crescente do rabo e da barriga dele. Tenho a certeza que me entende cada dia melhor.

beijinhos

Su

Patricia Almeida Alves disse...

Eu gosto de ti assim... não mudes!
bjs
P*

Passionária disse...

obrigada miga, eu também gosto de ti como és :)

Unknown disse...

És linda , miga!! Adoro-te!!
Somos umas patetas(falo no geral) e depois é preciso um gajo, do mais galinha que há, para mostrar que somos bonitas!!!
Duas frotas,

C.

Miss jane disse...
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