Queixava-se outro dia um conhecido do fim da sua relação. Quando a coisa começou o homem estava entusiasmado e dava gosto ouvi-lo todo apaixonado. Agora tinha andado uns tempos de monco caído até pôr a desgraçada a andar. O problema, era, sobretudo, dizia todo contrito e frustrado, a falta de comunicação.
Eu sei que nem todos os homens são desprovidos de consciência e princípios, e o rapaz estava mesmo triste pelo falhanço da relação. Mas conhecendo bem a história acho que mesmo os homens mais morais e bem-intencionados têm muitas vezes uma abordagem errada a esta coisa de começar e fazer funcionar uma relação. E esta abordagem começa logo na escolha da candidata.
Que escolhem a candidata pela aparência é uma verdade tão batida, tão batida que não vale a pena repetir. Que depois se queixem de que a dita moça não os completa ou satisfaz é que já é demais. É insultuoso para ambos. É o mesmo que protestar porque um jarrão chinês não sabe nada de política. O que é preciso é consistência.
Ninguém tem obrigação de ser o que não é, de se esforçar por chegar aos padrões do outro só porque o outro o quer. Se a rapariga não gosta, digamos, de música clássica e ele sabe, é justo sentir-se frustrado por ter de ir ao CCB sozinho? Chegar a um ponto comum, experimentando coisas novas é uma coisa desejável numa relação. Tentar moldar os outros aos nossos gostos e expectativas e ficar frustrado quando não se consegue é outra bem diferente.
Encaremos os factos da verdade: correndo o risco de generalizar, a verdade é que muitas meninas bonitas não são lá muito profundas. E isto não tem mal nenhum, muitas meninas menos bonitas também não o são, nem muitos homens, já que estamos a falar disso. Mas também não devem ser constrangidas ou forçadas a sê-lo se não o quiserem ser. Ser genérico, se bem que possa ser pessoalmente frustrante, nem é crime nem pecado.
A falta de comunicação de que o moço se queixava resumia-se à falta de suficientes interesses e expectativas comuns. Para além da comunicação primária do sexo, pois não tinham realmente muito que conversar. E o erro masculino reside neste contexto: o esquecerem-se que a paixão eventualmente acaba ou se atenua, e que quando isso acontece, é bom que algo mais os una, ou o resultado é inevitavelmente afastamento e frustração.
As mulheres podem também deixar-se cegar pela paixão e escolher mal o candidato, mas acontece menos que com os homens. Ou se calhar temos menos expectativas (e muitas vezes menos amor-próprio), acabando por aceitar o outro tal como é. Mas no caso dos homens isto é mais a regra do que a excepção. De modo que quando o rapaz se queixou de que a moça não o completava e que, mais uma vez, tinha falhado, não teve direito a lá muita simpatia minha. Todos nos enganamos, mas coitadinho do crocodilo... De quem é a culpa se chora porque teve mais olhos que cabeça, uma e outra vez?
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