Estava a ler outro dia o Troblogdita e um dos textos dele, mais especificamente este http://troblogdita.blogspot.com/2009/01/agora-o-futuro.html deu-me ideia de escrever sobre este assunto: está a maneira como encaramos o fim das relações relacionada com a etapa da vida em que nos encontramos ou há todo um outro tipo de factores a influir?
A não ser que tenham andado metidos e metidas numa gaveta (o que soa interessante de uma forma ligeiramente claustrofóbica) já devem ter ouvido da tetralogia Twilight. No segundo livro (desculpem o spoiler) o par romântico separa-se e o título, lua nova, é uma referência a uma ausência, à escuridão total que aparece na noite no lugar da lua que deveria estar lá e não está. A narradora fica praticamente devastada, funcionando apenas no mínimo, no piloto automático, mas era como se tivesse sido passada por cima com um rolo compressor, como nos cartoons e tivesse ficado apenas da espessura de uma folha de papel (e a imagética do coyote do Beep Beep dá sempre jeito). É verdade que a rapariguinha tem no livro apenas dezassete (ou dezoito) anos, mas terá sido a idade factor determinante no fenómeno rolo compressor? É capaz.
Quando somos adolescentes, ou emocionalmente novas (o que não é necessariamente a mesma coisa) sentimos tudo muito intensamente, demasiado intensamente até, pode-se argumentar. Os amores são todos gigantescos, as amarguras e as desilusões devastadoras. Quando mais, a não ser na adolescência, achamos que ele é a lua e a sua ausência é uma escuridão de noite sem estrelas (e desculpem-me a piroseira da figura de estilo)? Ninguém, a não ser adolescentes ultras sensíveis pensaria em morrer de amor, ou o Romeu e Julieta terminaria de forma muuuuuuuuuuuuuuuito diferente… Senão vejam a imagética do mestre:
" But soft! What light through yonder window breaks?
It is the East and Juliet is the sun!
Arise fair sun and kill the envious moon.
It is the east, and Juliet is the sun "
E depois no fim, na cena de morte:
“Poison, I see, hath been his timeless end:
O churl! drunk all, and left no friendly drop
To help me after? I will kiss thy lips;
Haply some poison yet doth hang on them,
To make die with a restorative.”
Claro que quando crescemos a coisa muda, e muito, de figura. O que é uma coisa boa. Em vez de morrermos de amor, sobrevivemos-lhe. Com um bocado de sorte conseguimos até ter a atitude saudável do troblogdita e ver as coisas mais em termos de distância, de linhas paralelas de perto, que não se tocam, do que como a Stepenie Meyer (por via do Shakespeare) descreveu, como as noites escuras da lua nova.
O ponto, parece-me, é mais complexo que a idade e a maturidade (falei acima de maturidade emocional, e não por acaso). Falta juntar à equação outro aspecto importante na síndrome Lua Nova: a intensidade. Apesar de eu ser EXTREMAMENTE relutante em sequer ABORDAR a temática dos grandes amores e das almas gémeas, parece-me que a intensidade especifica da relação vai tornar-lhe o fim mais lua nova ou mais rectas paralelas e adeusinho e boa sorte. Mas esta intensidade não pode ser o factor determinante da forma como levamos a vida. Se já leram um ou dois (ou trezentos) dos meus posts sabem o valor que eu dou à racionalidade na nossa vida sentimental. Quer dizer, sejamos práticos, quantas vezes na vida se consegue encarar com desportivismo o sermos passados pelo proverbial rolo compressor, ou levar com a parte de cima de um planalto rochoso como o coyote do beep beep? Eu nunca fiz a estatística, mas calculo que a pessoa média começa a ficar um tantinho nada aborrecida disso lá para a terceira ou quarta vez, não?
Como eu respondi ao troblogdita, dizer adeusinho e boa sorte e agora somos amiguinhos é de uma grandeza civilizacional não acessível a todos os mortais, assim como meditação transcendental ou o décimo den do cinturão negro do Karate. Exige força, determinação e um poder de concentração que a maioria de nós não tem porque nos distraímos facilmente com pequenos detalhes como dah, estamos a ser passados a ferro pelo rolo compressor. Mas é possível lá chegar. Eventualmente. Não sermos para sempre as teenagers new moon que não funcionam. Como diz o êxito easy listening pop: you can get it if you really want it (Jimmy Cliff rules, lol). Keep trying.
2 comentários:
eu, enquanto adolescente, fui intenso, drámatico e "tudo-ou-nada" de forma muito exagerada e derradeira. mas isso queria dizer, acima de tudo, que eu era leviano e centrado no ego (vivendo as paixões de mim para mim, estando apaixonado em primeiro lugar pela paixão e só depois pela pessoa amada).
agora, a intensidade de uma relação amorosa tenho-a alicerçada em alguma profundidade e bastante conhecimento da pessoa - e menos em projecção do ego e culto das expectativas e ilusões.
quanto a voltar a estar com quem terminei uma relação, é-me difícil, como me é difícil a superação de uma relação que não resultou. mas é precisamente porque sei que a dificuldade vem do facto de haver coisas por resolver, que as quero resolver (e falo, até agora, de coisas que tinha de resolver comigo mesmo, mas também há as que se têm de resolver a dois). eu procuro activamente a superação, a consciência de facto, concreta e palpável, de que acabou e agora somos pessoas em caminhos separados - e um reencontro dá-me a oportunidade de obter essa superação. mais raramente acontece-me manter uma amizade sólida e boa com a pessoa, o que só é possível porque houve superação, e me evita a tristeza de perder, na minha vida, alguém que me era querido - fujo dessa coisa de transformar amor em ódio, ou se deixar que o bestial se torne em besta. só quando estávamos imensamente iludidos com as imaginadas virtudes de alguém é que podemos a seguir imaginar um retrato em que só existem defeitos imperdoáveis.
obrigado pela referência ao meu post e pela tua própria reflexão.
abraço,
nuno.
De nada, volte sempre. Obrigada eu pelo tema do post :)
namaste
i.
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