sábado, janeiro 24, 2009

Jekyll e Hyde


A história é recorrente, nada original. Já muitas vezes a ouvi da boca de amigas e confidentes, até de conhecidas. Quando nos juntamos não falamos sempre de homens, mas a conversa vai muitas vezes parar ao mistério insondável que são, por vezes, os homens na nossa vida. Contava-me a F. que tinha conhecido um homem e patati patata, estava tudo a correr tudo muito bem e sem aviso nenhum, foi tudo por água abaixo. É que parecia outra pessoa, um estranho completo e hostil que queria apenas afastar-se, e o mais rapidamente possível. Era como se fosse o Dr. Jekyll e, sem aviso, transmutado em Mr. Hyde.
Esta história ecoou bem dentro da minha cabeça; como disse antes, não é nova e até a conheço mais ou menos em primeira mão. Que explicação poderá estar por detrás desta transformação, aparentemente inexplicável? O que levará os homens a ser duas coisas tão diferentes?
Uma coisa é certa: uma droga misteriosa que separa o bem do mal dentro dos homens não é com certeza, apesar da resposta não andar longe. Não é nada por acaso que este livro tenha feito parte do Syllabus de uma disciplina sobre literatura feminista/feminina vitoriana. A cultura masculina é tão repressiva como a feminina, apesar de já o ter sido mais no passado (mas isso também a feminina, porque a malta sempre evolui um bocadinho, não?). Temos, de um lado o Dr. Jeckyll, se quiserem, o perfeito cavalheiro, que toma conta das damas e a leva a abismos de paixão com o seu sex appeal e uma incrível habilidade entre os lençóis. Esta é a imagem quimicamente pura do bem. Do outro lado temos o mal: os bandalhos que fazem chorar as mulheres, que as abandonam à própria sorte etc. Esse será a versão Hyde. E, compreensivelmente nenhum homem deseja ser Hyde e todos se esforçam para ser Jekyll, o que, realisticamente, não é possível.
Ninguém manda naquilo que sente. Não é possível. Aquilo em que mandamos, e por conseguinte podemos controlar é como agimos. E aqui entra a teoria feminista Jeckyll e Hyde. Muitos homens não querem, não estão preparados nem são capazes de manter um relacionamento sério. Mas infelizmente para nós também não estão preparados para nos dizer a verdade. É que ser honestos deixa-os mal vistos. Assim vão fingindo aquilo que não sentem, fazendo promessas que não têm intenções de cumprir e o vapor das suas frustrações vai-se acumulando até rebentar numa explosão Hyde. Ou melhor, a nós parece-nos uma transformação quase sobrenatural de bonzinho em besta, mas na verdade é apenas um revelar daquilo que já existia mas estava escondido.
Homens, fofos, façam-nos um favor: não nos façam favores. Pensem pop dos anos 80 e adiram ao cruel to be kind. É que andar a fingir-se de bonzinhos e que a relação está bem de saúde só vai causar-vos a vós e a nós sofrimento desnecessário. Fazem ideia do destrutivo para o nosso ego que é sentir a voar dos nossos pés? Ah pois.

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