sábado, janeiro 10, 2009

Intimidade

Quando o assunto chega ao definir de intimidade, veremos que homens e mulheres pensam em coisas diferentes. Feitas as devidas ressalvas para os casos excepcionais, que, aliás, costumam confirmar a regra, as mulheres concebem a intimidade num plano preferencialmente emocional, enquanto que os homens a equacionam num plano físico.
Conhecer uma pessoa, fazer parte da suas intimidade implica, no ponto de vista feminino, saber de detalhes dos gostos e preferência, das opções de vida, ideais, planos futuros. A intimidade física deriva desta, e será tão melhor quanto o for a emocional. Já no caso dos homens, procuram tanto a intimidade física como tentam fugir da emocional. Por um lado, porque intimidade e sexo, para eles, costumam ser uma e a mesma coisa. Por outro, consideram a intimidade emocional uma espécie de prisão, o cortar dos devaneios sexuais com o maior número de mulheres possível, uma espécie de algemas.
Já vi acontecer muitas vezes por aí uma relação ir muito bem e, subitamente, ele vai-se embora como se o perseguisse um enxame de abelhas assassinas. A explicação anda muitas vezes na linha do clássico, "Eu não te mereço", do "és boa demais para mim", mas sobretudo, e muito mais importante , do "as coisas estavam a ficar sérias demais", "a relação estava demasiado intensa" ou " queres mais do que posso dar". E apesar de podermos chamar a estas desculpas cretinice, cobardia ou falta de fibra moral, o nome técnico é medo de intimidade.
Apesar de perceber, em teoria a explicação psicologica inconsciente por detrás destes comportamentos, confesso ter uma certa dificuldade em justificar e aceitar esta posição. A maioria das mulheres percebem que bom sexo é só bom sexo, e que não há forçosamente intimidade nenhuma por detrás dele. Confrontadas com isso, ou procuram aprofundar a relação, de modo a bom sexo se aliar à intimidade emocional, ou desistem para outras paragens porque o homem em questão não vale a pena. No caso dos homens bom sexo é uma boa relação, e a partir do momento em que a mulher com quem estão a procura aprofundar passa a ser altura de partir. Os céus não permitam que alguém lhes conheça os medos e limitações, que se torne íntima ou peça esse anátema da vida de solteiro, a exclusividade.
O filme de Patrice Chéreau , Intimidade, baseado em contos de Hanif Kureishi, levanta uma permissa interessante: se tivermos encontros sexuais com um estranho regularmente, isso passa a ser uma relação? O que diz de nós se preferirmos isso às relações convencionais? Até que ponto seria (será?) compensador este tipo de relacionamento?

4 comentários:

Anónimo disse...

Olha, é,para as mulheres, no mínimo, libertador. Um relacionamento sexual por natureza com um desconhecido dá à mulher um relacionamento em igualdade com o homem. Já que eles por norma não querem mais do que isso, é interessante quando se está no mesmo plano e não no infinitamente inferiorizante de se ser aquele que mais ama, mais quer, mais respeita... No strings attached.
O "let the more loving one be me" do Auden está muito bem para novelas e romances mas na vida real é uma dor que nunca acaba.

Beijinhos
a tua
Su

Passionária disse...

Concordo contigo, up to a point. Se não quero ser, ad nauseam, the more loving one, também confesso ser-me dificil digerir ser um número num livrinho negro, mais uma no extenso mar de rostos e corpos anónimos que passam pela cama do moço ou moços. Porque não nos iludamos, não há intimidade no anonimato, não há e...e, antes ou...ou. E eu prefiro a primeira ao segundo.

Anónimo disse...

A questão é escolher, amiga. Nem todos têm um livrinho preto. Por vezes são so gajos à procura de qualquer coisa que nem eles sabem bem o que é... Não, não me estou a armar em advogada do diabo, mas de há um tempo para cá tenho conhecido muito tipo de gente e aberto mais... o coração, por piroso que pareça...

Sempre
Su

Passionária disse...

Acho que, como diz Ortega e Gassett, eu sou eu e as minhas circunstâncias. Partimos as duas de circunstâncias diferentes, talvez. Nas minhas acho que perdi (temporariamente?) esse espírito de aventura de nos amandarmos à maluca. Mas tu sabes como eu sou, gosto de ter tudo direitinho e explicadinho, as regras todas muito claras. Não sei se é uma questão de mente aberta, antes mais de falta de paciência. A maior parte das vezes acho que já conheço o filme: been there, done that, got the t-shirt to prove it.