terça-feira, janeiro 27, 2009

Lua Nova


Estava a ler outro dia o Troblogdita e um dos textos dele, mais especificamente este http://troblogdita.blogspot.com/2009/01/agora-o-futuro.html deu-me ideia de escrever sobre este assunto: está a maneira como encaramos o fim das relações relacionada com a etapa da vida em que nos encontramos ou há todo um outro tipo de factores a influir?
A não ser que tenham andado metidos e metidas numa gaveta (o que soa interessante de uma forma ligeiramente claustrofóbica) já devem ter ouvido da tetralogia Twilight. No segundo livro (desculpem o spoiler) o par romântico separa-se e o título, lua nova, é uma referência a uma ausência, à escuridão total que aparece na noite no lugar da lua que deveria estar lá e não está. A narradora fica praticamente devastada, funcionando apenas no mínimo, no piloto automático, mas era como se tivesse sido passada por cima com um rolo compressor, como nos cartoons e tivesse ficado apenas da espessura de uma folha de papel (e a imagética do coyote do Beep Beep dá sempre jeito). É verdade que a rapariguinha tem no livro apenas dezassete (ou dezoito) anos, mas terá sido a idade factor determinante no fenómeno rolo compressor? É capaz.
Quando somos adolescentes, ou emocionalmente novas (o que não é necessariamente a mesma coisa) sentimos tudo muito intensamente, demasiado intensamente até, pode-se argumentar. Os amores são todos gigantescos, as amarguras e as desilusões devastadoras. Quando mais, a não ser na adolescência, achamos que ele é a lua e a sua ausência é uma escuridão de noite sem estrelas (e desculpem-me a piroseira da figura de estilo)? Ninguém, a não ser adolescentes ultras sensíveis pensaria em morrer de amor, ou o Romeu e Julieta terminaria de forma muuuuuuuuuuuuuuuito diferente… Senão vejam a imagética do mestre:

" But soft! What light through yonder window breaks?
It is the East and Juliet is the sun!
Arise fair sun and kill the envious moon.
It is the east, and Juliet is the sun "

E depois no fim, na cena de morte:

“Poison, I see, hath been his timeless end:
O churl! drunk all, and left no friendly drop
To help me after? I will kiss thy lips;
Haply some poison yet doth hang on them,
To make die with a restorative.”

Claro que quando crescemos a coisa muda, e muito, de figura. O que é uma coisa boa. Em vez de morrermos de amor, sobrevivemos-lhe. Com um bocado de sorte conseguimos até ter a atitude saudável do troblogdita e ver as coisas mais em termos de distância, de linhas paralelas de perto, que não se tocam, do que como a Stepenie Meyer (por via do Shakespeare) descreveu, como as noites escuras da lua nova.
O ponto, parece-me, é mais complexo que a idade e a maturidade (falei acima de maturidade emocional, e não por acaso). Falta juntar à equação outro aspecto importante na síndrome Lua Nova: a intensidade. Apesar de eu ser EXTREMAMENTE relutante em sequer ABORDAR a temática dos grandes amores e das almas gémeas, parece-me que a intensidade especifica da relação vai tornar-lhe o fim mais lua nova ou mais rectas paralelas e adeusinho e boa sorte. Mas esta intensidade não pode ser o factor determinante da forma como levamos a vida. Se já leram um ou dois (ou trezentos) dos meus posts sabem o valor que eu dou à racionalidade na nossa vida sentimental. Quer dizer, sejamos práticos, quantas vezes na vida se consegue encarar com desportivismo o sermos passados pelo proverbial rolo compressor, ou levar com a parte de cima de um planalto rochoso como o coyote do beep beep? Eu nunca fiz a estatística, mas calculo que a pessoa média começa a ficar um tantinho nada aborrecida disso lá para a terceira ou quarta vez, não?
Como eu respondi ao troblogdita, dizer adeusinho e boa sorte e agora somos amiguinhos é de uma grandeza civilizacional não acessível a todos os mortais, assim como meditação transcendental ou o décimo den do cinturão negro do Karate. Exige força, determinação e um poder de concentração que a maioria de nós não tem porque nos distraímos facilmente com pequenos detalhes como dah, estamos a ser passados a ferro pelo rolo compressor. Mas é possível lá chegar. Eventualmente. Não sermos para sempre as teenagers new moon que não funcionam. Como diz o êxito easy listening pop: you can get it if you really want it (Jimmy Cliff rules, lol). Keep trying.

sábado, janeiro 24, 2009

Jekyll e Hyde


A história é recorrente, nada original. Já muitas vezes a ouvi da boca de amigas e confidentes, até de conhecidas. Quando nos juntamos não falamos sempre de homens, mas a conversa vai muitas vezes parar ao mistério insondável que são, por vezes, os homens na nossa vida. Contava-me a F. que tinha conhecido um homem e patati patata, estava tudo a correr tudo muito bem e sem aviso nenhum, foi tudo por água abaixo. É que parecia outra pessoa, um estranho completo e hostil que queria apenas afastar-se, e o mais rapidamente possível. Era como se fosse o Dr. Jekyll e, sem aviso, transmutado em Mr. Hyde.
Esta história ecoou bem dentro da minha cabeça; como disse antes, não é nova e até a conheço mais ou menos em primeira mão. Que explicação poderá estar por detrás desta transformação, aparentemente inexplicável? O que levará os homens a ser duas coisas tão diferentes?
Uma coisa é certa: uma droga misteriosa que separa o bem do mal dentro dos homens não é com certeza, apesar da resposta não andar longe. Não é nada por acaso que este livro tenha feito parte do Syllabus de uma disciplina sobre literatura feminista/feminina vitoriana. A cultura masculina é tão repressiva como a feminina, apesar de já o ter sido mais no passado (mas isso também a feminina, porque a malta sempre evolui um bocadinho, não?). Temos, de um lado o Dr. Jeckyll, se quiserem, o perfeito cavalheiro, que toma conta das damas e a leva a abismos de paixão com o seu sex appeal e uma incrível habilidade entre os lençóis. Esta é a imagem quimicamente pura do bem. Do outro lado temos o mal: os bandalhos que fazem chorar as mulheres, que as abandonam à própria sorte etc. Esse será a versão Hyde. E, compreensivelmente nenhum homem deseja ser Hyde e todos se esforçam para ser Jekyll, o que, realisticamente, não é possível.
Ninguém manda naquilo que sente. Não é possível. Aquilo em que mandamos, e por conseguinte podemos controlar é como agimos. E aqui entra a teoria feminista Jeckyll e Hyde. Muitos homens não querem, não estão preparados nem são capazes de manter um relacionamento sério. Mas infelizmente para nós também não estão preparados para nos dizer a verdade. É que ser honestos deixa-os mal vistos. Assim vão fingindo aquilo que não sentem, fazendo promessas que não têm intenções de cumprir e o vapor das suas frustrações vai-se acumulando até rebentar numa explosão Hyde. Ou melhor, a nós parece-nos uma transformação quase sobrenatural de bonzinho em besta, mas na verdade é apenas um revelar daquilo que já existia mas estava escondido.
Homens, fofos, façam-nos um favor: não nos façam favores. Pensem pop dos anos 80 e adiram ao cruel to be kind. É que andar a fingir-se de bonzinhos e que a relação está bem de saúde só vai causar-vos a vós e a nós sofrimento desnecessário. Fazem ideia do destrutivo para o nosso ego que é sentir a voar dos nossos pés? Ah pois.

quarta-feira, janeiro 14, 2009

domingo, janeiro 11, 2009

sábado, janeiro 10, 2009

Intimidade

Quando o assunto chega ao definir de intimidade, veremos que homens e mulheres pensam em coisas diferentes. Feitas as devidas ressalvas para os casos excepcionais, que, aliás, costumam confirmar a regra, as mulheres concebem a intimidade num plano preferencialmente emocional, enquanto que os homens a equacionam num plano físico.
Conhecer uma pessoa, fazer parte da suas intimidade implica, no ponto de vista feminino, saber de detalhes dos gostos e preferência, das opções de vida, ideais, planos futuros. A intimidade física deriva desta, e será tão melhor quanto o for a emocional. Já no caso dos homens, procuram tanto a intimidade física como tentam fugir da emocional. Por um lado, porque intimidade e sexo, para eles, costumam ser uma e a mesma coisa. Por outro, consideram a intimidade emocional uma espécie de prisão, o cortar dos devaneios sexuais com o maior número de mulheres possível, uma espécie de algemas.
Já vi acontecer muitas vezes por aí uma relação ir muito bem e, subitamente, ele vai-se embora como se o perseguisse um enxame de abelhas assassinas. A explicação anda muitas vezes na linha do clássico, "Eu não te mereço", do "és boa demais para mim", mas sobretudo, e muito mais importante , do "as coisas estavam a ficar sérias demais", "a relação estava demasiado intensa" ou " queres mais do que posso dar". E apesar de podermos chamar a estas desculpas cretinice, cobardia ou falta de fibra moral, o nome técnico é medo de intimidade.
Apesar de perceber, em teoria a explicação psicologica inconsciente por detrás destes comportamentos, confesso ter uma certa dificuldade em justificar e aceitar esta posição. A maioria das mulheres percebem que bom sexo é só bom sexo, e que não há forçosamente intimidade nenhuma por detrás dele. Confrontadas com isso, ou procuram aprofundar a relação, de modo a bom sexo se aliar à intimidade emocional, ou desistem para outras paragens porque o homem em questão não vale a pena. No caso dos homens bom sexo é uma boa relação, e a partir do momento em que a mulher com quem estão a procura aprofundar passa a ser altura de partir. Os céus não permitam que alguém lhes conheça os medos e limitações, que se torne íntima ou peça esse anátema da vida de solteiro, a exclusividade.
O filme de Patrice Chéreau , Intimidade, baseado em contos de Hanif Kureishi, levanta uma permissa interessante: se tivermos encontros sexuais com um estranho regularmente, isso passa a ser uma relação? O que diz de nós se preferirmos isso às relações convencionais? Até que ponto seria (será?) compensador este tipo de relacionamento?

segunda-feira, janeiro 05, 2009

House


Existe uma teoria psicológica que diz que nos sentimos atraídas por neuroses semelhantes às nosssas, pelo nosso equivalente masculino, uma espécie de reflexo negativo no espelho, sendo como nós somos. Assim sendo, e se o House, com as suas muitas imperfeições nos atrai, o que é que isso diz de nós?
Não posso deixar de o perceber. Não tanto no sentido girlie girlie de ai é tão giro com todas as suas bocas ácidas e certeiras, mas sim no sentido de ser humano com as suas defesas. Compreendo-o como uma espécie de D. Quixote, que em vez de morrer de tristeza porque descobriu que as suas ilusões eram simples delírios se transformou num ser lúcido, que usa a intelig~encia e ironia como armaduras eficazes contra novos gigantes e dulcineias. E isso é uma solução tão boa como outra qualquer.