sábado, outubro 04, 2008

Paul Newman

Como se mede a grandeza de um Homem? Pelo dinheiro? Pelo sucesso? Na minha opinião mede-se pelas suas qualidades morais, nada mais, nada menos. O dinheiro que se ganhou ou herdou, os sucessos que se acumularam são apenas lupas que ampliam as qualidades ou defeitos, as fragilidades de uma pessoa. Pessoas egoístas e fracas apenas usam as coisas que têm para se esconder atrás delas, pessoas boas, verdadeiramente boas, usam o que têm, o muito ou o pouco, para deixar o mundo um lugar melhor que aquele que encontraram. É esse o verdadeiro traço comum de todos os grandes Homens, com H grande. E na minha modesta opinião, Paul Newman era um homem com H grande, uma das últimas grandes estrelas.
A fama é agora uma coisa relativamente fácil. Todos querem os seus 15 minutos, seja pelo que for. Diariamente nos entram pela casa herdeirazinhas fúteis, cujo único valor reside no apelido deixado por bisavós ricos, starletts de ambos os sexos quase orgulhosas dos seus vícios e auto-indulgências, mercadores da sua intimidade por mais uns minutos e exposição mediática. Paul Newman era um dos últimos de uma geração totalmente diferente, em que a fama era secundada por talento, verdadeiro talento, por orgulho e amor pela profissão que tinha. Foi mestre no seu trabalho, tendo participado em filmes tão importantes e significativos que daqui a umas centenas de anos o seu nome será ainda um dos grandes nomes da história da sétima arte, enquanto as autoproclamadas luminárias da sétima arte de agora serão, com muita sorte, notas de rodapé. Mas isto, apesar de muito significativo, não é aquilo que quero realçar.
Como já disse, o que torna um Homem (no sentido de representante da espécie humana e não no género) um Homem, é o ter deixado o mundo num melhor lugar que o que encontrou. Paul Newman é um desses homens. Fez caridade (no melhor sentido possível do termo) a vida inteira. Fundou, expandiu e ampliou uma empresa multimilionária cujo único objectivo era canalizar a totalidade dos lucros para causas meritórias, sobretudo para crianças desprotegidas ou doentes. A perda trágica de um filho para as drogas chamou-lhe a atenção para todos os outros meninos perdidos, e assim, através deles, lhe honrou a memória.
Mesmo que não tivesse sido uma grande Estrela ou um grande Filantropo, Paul Newman seria, ainda, um grande Homem, um Homem com qualidades morais que todos podemos ansiar a ter. Nem todos têm em si grandes talentos, nem todos podem ser filantropos na escala que ele o foi. Mas todos podem ansiar a manter a grandeza moral que ele demonstrou ao longo da vida. Porque acreditem, um homem que amou a mesma mulher cinquenta e tal anos teve, de certeza, uma enorme grandeza moral. Sobretudo quando teve escolhas, e a assombrosa beleza física de que era dono. Poderia ter sido muito mais promíscuo, muito mais inconstante, nunca o foi. A mulher com quem casou (não a primeira, mas a definitiva) nunca foi a radiante beleza que muitas das suas contemporâneas eram. E o casamento deles foi sempre uma rocha firme, um porto seguro. Vi uma entrevista dos dois, o ano passado, na qual se via, a olho nu, o respeito, o carinho, e sim, a paixão que duraram uma vida inteira.
Com os media a jogar sujo, como agora, quando alguém famoso morre rapidamente fazem um obituário relembrando todos os escândalos, todas as falhas. Os de Paul Newman não o faziam, pois tinha a admiração de todos, todos concordaram que tinha morrido um grande Homem, com H grande. E isso é uma bela súmula de oitenta e poucos anos de vida.

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