A MTV já não é o que era. Já não passa a música mais importante das gerações, marcando gostos e estilos de vida. Das poucas horas de música que passa, passa o pop mais pastilha elástica possível, o mais comercial e rasca possível. O resto das horas de emissão são dedicadas a reality shows de gosto duvidoso, onde gente é feita à medida, carros e caravanas são amaricados com tunning e famosos mostram o seu duche onde cabem doze pessoas. Em suma, o ideal para matar tempo, e neurónios de puro aborrecimento.
Mas alto, que é isto que se avista ao longe, um pássaro, um avião? Não! Um programa de interesse. A MTV alemã (que isto de se ser teutónico é outro estilo) tinha, há alguns meses atrás um programa fascinante. Trata-se do aclamadíssimo From G’s to Gents, e tem como missão pegar nuns tantos gajos com a mania de ser gangsta e transformá-los em perfeitos cavalheiros, o que é, sobre todas as perspectivas que se olhe a coisa, um objectivo muitíssimo louvável. Sim, que tudo o que tenha que ver com o melhoramento geral da espécie masculina para nosso maior proveito é sempre bom e agradecido.
Nos últimos anos, vi mais metros de boxers de adolescentes que aqueles que gostaria de ter visto. Com o morrer da cultura grunge e consequente abolição de cintos, atacadores e outras formas de manter a roupa próxima de si mesmo, os boxers viram, literalmente, uma nova alvorada. Gangsta que é gangsta, se não mostra ao menos quatro dedos de boxers está socialmente desgraçado. Gangsta que é gangsta se não chama dama à sua miúda e lhe aprecia partes avulsas e desproporcionais ao conjunto (are you an ass man or a breast man?) não merece o ar que respira. A cultura gangsta emanada do rap e do hip hop da moda é extraordinariamente chauvinista. Diz a Pink, e muito bem, no seu Stupid Girls :
“What happened to the dreams of a girl president ?She's dancing in the video next to 50 Cent”
É que nem o eye candy que é o 50 cent sem t-shirt compensa a indignidade de ser uma espécie de objecto giro e, de preferência mudo e outras Rihannices como essas. Assim um programa intensivo que os ensine a ser cavalheiros parece-me absolutamente necessário. Ah, olharem-nos para a cara e não para vinte e cinco centímetros mais abaixo! Ah, o tratarem-nos como criaturas com cérebro, abrir e fechar portas em vez de gritar Damaaaaaaaaaaaaa é logo outro estilo de vida… Isso sim é, a meu ver, serviço público e em prol da comunidade…
Não vi o resultado final da coisa. O episódio que vi tinha os rapazes a meio caminho, já de blazer e boas-maneiras moderadas, mas ainda com addidas brancas caríiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiissimas e sotaque “à gueto”, para parecerem mais duros (mesmo se o mais próximo que tenham estado de um tenha sido a ver as reportagens alarmistas sobre a Cova da Moura na televisão). Mantenho, mesmo assim, o espírito positivo: melhores que o que eram, têm de ter ficado.
Cá em Portugal, atrasados como estamos, parece-me que o programa não passa. Mas a minha cabeça, sempre cheia de uma quantidade incrível de inutilidades, apressou-se logo a traçar uma acção de formação, umas 50 horas, para transformar os gangsta tugas em qualquer coisa remotamente parecida a cavalheiros. Aí vão os conteúdos das sessões. Aceitam-se inscrições, e, como sou uma cidadã com apurado sentido cívico, o curso é gratuito.
Sessão 1- Cuidados básicos e higiene pessoal: os pentes são nossos amigos. Discussão de grupo. Role-play. 4 horas
Sessão 2- Vestuário e moda: como comprar roupa efectivamente do nosso tamanho.Serei um M ou um XXXXL? Desocultação de etiquetas. Sessão de treino com manequim. 4 horas
Sessão 3- Continuação da sessão 2. Elaboração de mnemónicas. Queima em grupo de sapatilhas addidas e sweatshirts 5 tamanhos acima. 4 horas
Sessão 4- As jóias masculinas são o anti-cristo. Palestra e discussão em grupo. 4 horas
Sessão 5- Sou um agarrado de bling bling, e agora? Terapia psicológica (escola Jungiana). Estratégias defensivas contra relógios com brilhinhos neles. 6 horas
Sessão 6- Formas de tratamento feminino: o “Dama”, anátema de vocabulário. Palestra e Role-play. 6 horas
Sessão 7- serei um idiota porque trato as mulheres como objectos? Discussão de testemunhos reais. 6 horas
Sessão 8- O cérebro feminino, mito ou realidade? Palestra com médica convidada. 4 horas
Sessão 9- O cérebro feminino, mito ou realidade? Discussão/terapia de grupo (escola freudiana). 4 horas
Sessão 10- Abrir portas e tratar as mulheres como seres pensantes e com vontade própria causa impotência? Desmistificação da cabala. Teste prático. Entrega de diplomas. 8 horas
Mas alto, que é isto que se avista ao longe, um pássaro, um avião? Não! Um programa de interesse. A MTV alemã (que isto de se ser teutónico é outro estilo) tinha, há alguns meses atrás um programa fascinante. Trata-se do aclamadíssimo From G’s to Gents, e tem como missão pegar nuns tantos gajos com a mania de ser gangsta e transformá-los em perfeitos cavalheiros, o que é, sobre todas as perspectivas que se olhe a coisa, um objectivo muitíssimo louvável. Sim, que tudo o que tenha que ver com o melhoramento geral da espécie masculina para nosso maior proveito é sempre bom e agradecido.
Nos últimos anos, vi mais metros de boxers de adolescentes que aqueles que gostaria de ter visto. Com o morrer da cultura grunge e consequente abolição de cintos, atacadores e outras formas de manter a roupa próxima de si mesmo, os boxers viram, literalmente, uma nova alvorada. Gangsta que é gangsta, se não mostra ao menos quatro dedos de boxers está socialmente desgraçado. Gangsta que é gangsta se não chama dama à sua miúda e lhe aprecia partes avulsas e desproporcionais ao conjunto (are you an ass man or a breast man?) não merece o ar que respira. A cultura gangsta emanada do rap e do hip hop da moda é extraordinariamente chauvinista. Diz a Pink, e muito bem, no seu Stupid Girls :
“What happened to the dreams of a girl president ?She's dancing in the video next to 50 Cent”
É que nem o eye candy que é o 50 cent sem t-shirt compensa a indignidade de ser uma espécie de objecto giro e, de preferência mudo e outras Rihannices como essas. Assim um programa intensivo que os ensine a ser cavalheiros parece-me absolutamente necessário. Ah, olharem-nos para a cara e não para vinte e cinco centímetros mais abaixo! Ah, o tratarem-nos como criaturas com cérebro, abrir e fechar portas em vez de gritar Damaaaaaaaaaaaaa é logo outro estilo de vida… Isso sim é, a meu ver, serviço público e em prol da comunidade…
Não vi o resultado final da coisa. O episódio que vi tinha os rapazes a meio caminho, já de blazer e boas-maneiras moderadas, mas ainda com addidas brancas caríiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiissimas e sotaque “à gueto”, para parecerem mais duros (mesmo se o mais próximo que tenham estado de um tenha sido a ver as reportagens alarmistas sobre a Cova da Moura na televisão). Mantenho, mesmo assim, o espírito positivo: melhores que o que eram, têm de ter ficado.
Cá em Portugal, atrasados como estamos, parece-me que o programa não passa. Mas a minha cabeça, sempre cheia de uma quantidade incrível de inutilidades, apressou-se logo a traçar uma acção de formação, umas 50 horas, para transformar os gangsta tugas em qualquer coisa remotamente parecida a cavalheiros. Aí vão os conteúdos das sessões. Aceitam-se inscrições, e, como sou uma cidadã com apurado sentido cívico, o curso é gratuito.
Sessão 1- Cuidados básicos e higiene pessoal: os pentes são nossos amigos. Discussão de grupo. Role-play. 4 horas
Sessão 2- Vestuário e moda: como comprar roupa efectivamente do nosso tamanho.Serei um M ou um XXXXL? Desocultação de etiquetas. Sessão de treino com manequim. 4 horas
Sessão 3- Continuação da sessão 2. Elaboração de mnemónicas. Queima em grupo de sapatilhas addidas e sweatshirts 5 tamanhos acima. 4 horas
Sessão 4- As jóias masculinas são o anti-cristo. Palestra e discussão em grupo. 4 horas
Sessão 5- Sou um agarrado de bling bling, e agora? Terapia psicológica (escola Jungiana). Estratégias defensivas contra relógios com brilhinhos neles. 6 horas
Sessão 6- Formas de tratamento feminino: o “Dama”, anátema de vocabulário. Palestra e Role-play. 6 horas
Sessão 7- serei um idiota porque trato as mulheres como objectos? Discussão de testemunhos reais. 6 horas
Sessão 8- O cérebro feminino, mito ou realidade? Palestra com médica convidada. 4 horas
Sessão 9- O cérebro feminino, mito ou realidade? Discussão/terapia de grupo (escola freudiana). 4 horas
Sessão 10- Abrir portas e tratar as mulheres como seres pensantes e com vontade própria causa impotência? Desmistificação da cabala. Teste prático. Entrega de diplomas. 8 horas
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