terça-feira, outubro 07, 2008

O mundo está cheio de gajas (e de gajos)


Quando olho para trás e me ponho a lembrar de como era eu e, por inerência, o grupo de que fazia parte, só posso constatar o auto-importantes, convencidos e armados em bons que éramos. Metidos até às orelhas no existêncialismo less than zero da geração X e da cena independente/alternativa politicamente empenhada, achávamos que, francamente, éramos os donos da verdade. Felizmente essa certeza passou, bem como a auto-importância e o proselitismo intelectual. Tenho o prazer de constatar que, no geral, somos todos gente bastante normal, sem grandes filmes de alternativo/gothic/dark/morangos selvagens (Bergman, crianças, não Angélico & Cia.) que éramos nos anos 90. Se bem que amaremos sempre camisas de flanela, Sweats largueironas, Doc Martens e Eddie Vedder ganhámos o sentido de humor suficiente para nos rirmos de tudo, sobretudo de nós próprios.
Ainda ontem falava com a minha amiga Su a este respeito: é que parece que vivo numa bolha protectora, e cada vez que saio dela é um choque ao meu sistema. É verdade que tento sempre rodear-me de gente interessante, com quem aprendo sempre mas, minha nossa senhora de todas as graças, o mundo está cheio de gajas e gajas (e uns quantos gajos). Deixem-me explicar.
Não entendam gajas na acepção carinhosamente irónica dada às amigas, ou Doutoras no sentido igualmente irónico com que trato as colegas de trabalho de quem gosto bastante. É gajas mesmo, gajas no sentido de irritantes e chatas, cheias de importância santimónia, Doutoras sem ironia nenhuma, como se vivessem numa plataforma acima das restantes mortais. Querem-me explicar de onde saíu esta coleção de gajas pro-activas cheias de competências e de si mesmas? E expliquem-me lá, afinal que raio vem a ser isto de pro-activa? O que é que de errado há com
activa? Expliquem-me porque é pior ser activa (como os vulcões) e melhor ser pro-activa (como os iogurtes)? E o que é que tem de mal ter capacidades, ter habilitações, à antiga e efectiva, e o que é tão bom a respeito das competências? Ultimamente sinto-me assaltada por estas coisas, estas atitudes pôem-me doente. Sobretudo se acompanhadas como o bife pelas batatas fritas de mente limitada e tacanha, de falta de flexibilidade e de sentido de humor, de auto-crítica. Quando uma pessoa se sente e passa por brilhante por defeito é desmoralizador. Mais que isso, vergonhoso. A sério, protejam-se. O mundo está cheio de gajas (e de gajos), e nem sequer me parece que vão a lado nenhum, estão para ficar.



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