segunda-feira, agosto 25, 2008

quarta-feira, agosto 13, 2008

sexta-feira, agosto 08, 2008

A Guerra



Um homem morreu ontem. Que o tenha feito á conveniência dos noticiários, em pleno directo, pode-se considerar apenas um pequeno acaso feliz das forças cósmicas, a apimentar audiências por demais insossas de verão. Hoje de manhã vieram as palmadinhas nas costas e as congratulações mútuas de um trabalho bem feito, toda a gente devidamente aconchegada na parte da razão que lhe cabe excepto aquele que acabou com balas estendido numa poça de sangue, e cujo saco de cadáveres haveria de decorar as notícias da hora de almoço, ou o outro, atingido na cervical com o prognóstico aceitável de muito grave. Menos que isso teria sido inaceitável ao guião do filme. As GOE em posição, e o INEM, e a PSP e todos os outros, os jornalistas e os mirones e os telespectadores num rush de adrenalina e de repente tudo está terminado, o fim orgiástico de duas balas de sniper a dar um fim aceitável à expectativa .
Um homem morreu ontem. Saberia ontem de manhã, ao vestir-se, ao preparar-se para roubar, dinheiro ou vidas, que terminaria umas horas depois, a areia da ampulheta a escoar-se cada vez mais rápido até não haver mais, todas as acções, legais e ilegais da sua vida curta a conduzir ao chão de mármore luxuoso daquele banco, à poluição da arma do sniper? Saberiam os seus pais, quando o geraram e lhe deram vida que seria um caminho inexorável para a mira dos fotógrafos e as câmaras da tv, só com distorção misericordiosa para os reféns?
Ter um filho é um processo lento, pesado, gerá-lo e alimentá-lo e esperá-lo e depois tantos meses, tantos anos de cuidados e atenções para garantir a sobrevivência, o crescimento, a saúde. Acabar com ele demora segundos. Vinte e sete ou vinte e oito até tudo terminar, hoje.
Hoje desfraldaram bandeiras e acenderam tochas e acenou-se ao público. Noutro sítio foram os tanques de guerra, ou os cintos explosivos, ou tantos outros milhares de formas de levar a morte a tanta gente, de levar o luto, apenas de forma mais privada que a de morrer do homem que morreu ontem. Partilhámos todos a intimidade de o ver morrer: a maior parte das vezes nem com a família o partilhamos, os doentes empurrados para lares, camas do hospital, longe das vidas dos vivos, longe das rotinas. E desta intimidade nem sequer um nome, ou uma razão, ou piedade. Em muitos sítios do mundo à pais a chorar a perda de filhos. Espero que o haja também para o homem que morreu ontem. Ao menos isso.

quarta-feira, agosto 06, 2008

Mainada


Bigada pela imagem, Pat.

Orient express e um bad hair day

Não me venham com conversas: férias, férias têm as personagens da Agatha Christie. Sim, pronto, as personagens aparecem mortas com alarmante regularidade e sempre de formas especialmente tortuosas. Mas os sítios eram fabulosos: um Orient Express um Blue Train, os transatlânticos do entre guerras, viajar até à Mesopotâmia ou Egipto, comodamente livres de terroristas extremistas, a Riviera francesa, as casas de campo britânicas... E depois, o estilo, cada um com a sua empregada para fazer e desfazer malas e lidar com detalhes chatos... Uma pessoa não ter mais nada que fazer que escorropichar martinis na beira da piscina e responder às perguntas astutas do Poirot ou da Miss Marple...
Depois, tenho também inveja das pessoas que passam as férias a viver de uma única mochila que transportam consigo e vão fazer couch surfing para sítios como Bulgária ou Eslovénia, ou acampar para a wilderness nem que seja do Gerês. Ah, a liberdade, o minimalismo, a comunhão com a natureza...
Infelizmente para mim, que sou, admita-se o que tem de se admitir, uma porca consumista, nem viajo com o estilo dos primeiros, nem com o espírito zen dos segundos. Serei eu o único ser do planeta a encarar o fazer as malas com uma generosa dose de azia? É que espero que não.
A mala que está ali ao canto, está a olhar para mim com ar malévolo. Eu sei, simplesmente SEI que o que quer que vá para lá vai ser inútil. Um ano, fui com roupas de meia-estação, estavam 45 graus e as férias foram um estudo em frustração suada. O ano seguinte, a roupa já era convenientemente fresca e choveu todas as santas férias. Um ano constipei-me no avião e tive a miséria de andar com a cabeça cheia de ranho o resto do tempo. Seja como for, fica sempre algo esquecido: sapatos ou escova do cabelo ou outro item essencial, que passa despercebido por mais listas e planos que faça.
Mas o pior de tudo, o que mais chateia, é entrar no principio das férias num bad hair day que dura todo o tempo que lá estou. Nenhuma roupa cairá como deve, nascerão borbulhas qual adolescente, suspirarei pelas roupas que ficaram em casa e toda a gente sem excepção terá melhor pele, cabelo e bom humor que eu.
Atesta o melhor do espírito humano o saber que não só passo pelo processo desagradável todos os anos, como ainda por cima passo um tempo considerável a planear e fantasiar as férias. Claro que isso não implica que não desejasse uma criada pessoal para lidar com as malévolas das malas e depois sentir-me culpada por querer escravizar uma semelhante e precisar de levar uma quantidade enorme de tralha atrás de mim para subsistir, enfim, é esta altura do ano mesmo.