segunda-feira, maio 12, 2008

O quotidiano Não


Às vezes nem parece defeito, mais virtude do tipo não te importas de dar um jeitinho e a malta diz que sim e está ali para o que der e vier. Em suma, somos gajas porreiras, prontas e lá vamos. O pior é o ser demasia. As pessoas, na vida, têm pouca noção de limites, é assim mesmo a natureza humana, egoista e má a não ser que não tenha hipótese. Mal damos por nós somos uma espécie de instrumento simpático a quem recorrer. Pequena chatice é que continuamos a ter sentimentos e necessidades que deixamos de lado para estarmos ao serviço dos outros. Isto do é dando que se recebe é mais conversa esperançosa da igreja, que as coisas não são bem assim.
A malta é independente, certo? A malta consegue lidar com as coisas. A malta esforça-se por cumprir. A malta dispõe-se a ajudar, como boa malta de esquerda. E depois não diz que não a ninguém. Vêm no trabalho e dizem-nos, olha lá, podes fazer mais isto e isto e isto? E nós, que queremos cumprir e não demonstrar fraqueza, dizemos que sim. Vem um vizinho pedir, olhe lá não se importa de me fazer isto ou aquilo que não me dá jeito/tenho tempo/ sou capaz? E a malta que não quer parecer mal-educada diz que sim. Amigos, namorados, ex-namorados, conhecidos vêm ter com a malta e dizer ah e tal deixa-me desabafar que só tu é que me entendes e assim. E a malta diz que sim. E muita mulher dá por si ao sábado a guardar o cão do vizinho e a fazer trabalho extra, enquando atende o ex que quer contar, pela décima quinta vez, como ficou traumatizado para a vida enquanto esteve com ela. É de dar em doidos.
Evidentemente que o exemplo acima é um tiquinho nada exagerado, mas a verdade é que, com a nossa ideia que somos capazes de tudo, nos põem no papel de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e sem o benefício do manto e da áureola. Parece que com a emancipação ganhamos também o complexo de Super-mulheres e que somos capazes de fazer tudo e mais alguma coisa, estar em todo lado, resolver todos os problemas. E mesmo que não sejamos, fingir até á morte para não dar parte de fraca, afinal de contas, cabras feministas não choram, certo?
A nossa geração é curiosamente hibrida, espera-se de nós basicamente tudo. As mulheres de hoje têm de ser boas ouvintes e confidentes, boas mães, boas amantes, boas donas de casa, competentes no trabalho, boas amigas e, ao mesmo tempo manterem um corpinho tamanho 36 e evitar que a nossa pele envelheça e o peso da gravidade vença as partes da nossa pessoa que não têm nada que descair. O peso da responsabilidade é imenso. Era o suficiente para esmagar um homem médio, mas a vida deles, neste aspecto é muito mais simples. Primeiro, dizer não nunca lhes custou, desde o lavar a loiça ao debater a relação. Depois, porque já tradicionalmente o papel de objecto simpático sem necessidades próprias nos foi inculcado. Quer seja porque temos a mania que somos super-mulheres e damos conta do recado, quer seja porque somos uns capachos anti-feministas que se realizam a coser meias alheias, o resultado prático é o mesmo: não conseguimos dizer não.
Eu sei que nem todas as mulheres se revêm neste texto (e que alguns homens sim), mas a verdade é só uma: há que aprender a dizer não. Às vezes ser cabra não faz mal nenhum e as pessoas respeitam-nos mais. Nem sempre se pode ser super-mulher, nem sempre a Senhora de todas as Graças tem graças para distribuír. Imprimam a imagem, colem-na no frigorífico, ponham-na junto às fotos na carteira, no espelho de manhã. Repitam o mantra: Diz não, diz não, diz não. Vão ver o que a vida ganha em qualidade, e tempo, o que ganham em paz de espírito.

8 comentários:

Ana disse...

Eu tenho o mesmo problema, revi-me tanto no teu post, mas ando a tentar aprender a dizer não!

Anónimo disse...

Estimada Passionária


Este texto foi mesmo, mesmo escrito por si?

Com a maior consideração...

Francisco de Assis

Passionária disse...

Quer que tenha sido escrito por quem? Que raios, EU NÃO FAÇO PLÁGIO. A única coisa que aproveitei foi o título de um poema do 0'Neill, e o conteúdo do mesmonão tem nada a ver com o texto. Não me parece nada de bom tom vir aqui levantar dúvidas sobre textos que são claramente meus.

Anónimo disse...

Estimada Passionária

Penso que tenho por si demasiada consideração para me preocupar com eventuais plágios.
A Passionária não percebeu a idéia...eu só quis chamar-lhe à atenção de que, para mim, depois de ter lido tudo o que escreveu anteriormente, esse relato sentido dos contrastantes do dia-a-dia e das relações que se deixam minar por interesses que nem sempre serão os mais interessantes, não me fez reconhecê-la.

P.S. - As mulheres só têm de ser boas mães e suficientemente eróticas para dominarem os cambiantes cinzentos e macilentos da vida social e sem lugar a oportunismos permitirem a grandiosidade de um ser que não seja essencialmente mau como dizia Maquiavel, nem essencialmente bom como dizia Rousseau.

Francisco de Assis

Unknown disse...

A mulher não diz que não porque, como já tens referido em posts anteriores, foi criada para achar que não era boa mãe, esposa, mulher se não estivesse disponivel para todos. Já viste com toda a certeza na geração das nossas mães: tentam desdobrar-se em várias para ajudar toda a gente, mesmo que por vezes não se queira a sua "ajuda". Não percebem porque a nossa geração já não é bem assim. A minha mãe já me chegou a dizer que não tinha ajuda de ninguém e conseguia fazer as coisas. Só mais tarde me disse como: deitava-se por vezes às 3h da manhã. Já lhe respondi que não tenho queda para mártir, até porque ninguém tem pena de mim e algumas pessoas têm sempre uma vida mais dificil que eu com uma profissão mais exigente que eu, blabla.
Miss ya,
C. , Gui e embutidinho(a)

Passionária disse...

Ó Cris, é aqui que meto a cunha para "Laura"? ;) é só uma sugestão, se for menina. Beijinhos para o A. e para o docinho do Gui, para ti a frota do costume.
Luv ya to bits
i.

Bolotinha disse...

Ora, pois aí está o problema de pensarmos que temos de compensar outros problemas e falhas que metemos , ou nos meteram, na cabeça com uma atitude de "eu sou fixe e porreira e todos gostam de mim". De facto, não gostam nem têm de gostar, ouve os teus próprios conselhos e sê quem tu és. E aprende a dizer não, com urgência antes que as/osd falsos queridos tipo "tu fazes as coisas tão bem"; "tu é que me percebes"; "tu tens tempo e eu não", te transformem numa máquina que nãop tem tempo para mais nada a não ser para o que ELES acham importante, mesmo que para ti não seja.

Guess who I am!!!!

Passionária disse...

Olha quem ela é :)! benvinda aqui ao estaminé. Realmente tens muita razão, e sabes por veres em primeira mão as coisas em que me meto, lol. De qualquer maneira podemos sempre aprender com os erros, e rir deles. Sabem os santinhos que passo a vida a rir das minhas falhas...
Bjokas

i.