terça-feira, abril 29, 2008

Histórias de fadas para meninas más

Deixa cá ver, diz a Branca de Neve contando pelos dedos, Soneca, Dengoso, Dunga, Feliz, Atchim, Mestre e Zangado. És só um, mas juro que tens as características da maioria dos outros sete. Agora faz as contas...

segunda-feira, abril 28, 2008

Balzaquianas, madeixas e chá verde



Tirando todo o assunto das mulheres não terem personalidade legal no casamento (ou fora dele), os cuidados de saúde serem bárbaros e não haver televisão por cabo, até não me importava de viver na época vitoriana. É que, pelo menos em certas coisas, a vida era muito mais fácil. E não estou só a falar das saias até aos pés que evitavam as sessões dolorosas e humilhantes na esteticista, os cremes anti-celulite e todo o assunto constrangedor das tangas fio dental. No século XIX, as mulheres podiam ter a idade que tinham, que não esperavam que tivessem, ou parecessem ter, menos.
Ao ler os grandes clássicos, de Balzac a Proust, as mulheres que encontramos são esplendorosas na sua idade e no seu peso. Era não só esperado, como desejado, que as mulheres fossem roliças, tivessem estrias e brancas, que fossem maduras. As balzaquianas foram, a meu ver, uma das grandes invenções do século. Lembro-me de ler no Teleny (um livro muito pouco recomendável do Oscar Wilde) um homem maravilhado com uma mulher, comparando a sua barriga, com finas estrias de ter filhos, aos veios do mármore precioso. O facto de as ter por ser mãe apenas lhe acrescentava o encanto de um corpo útil, belo na sua maturidade. A sociedade moderna acabou-nos com o privilégio de sermos nós mesmas, de envelhecer com naturalidade.
Num estudo que vi no National Geographic, foi pedido aos homens que avaliassem de 1 a 10 a beleza das companheiras, vissem um portefolio de modelos e depois classificassem as companheiras outra vez, a diferença entre uma pontuação e outra era brutal. Nenhuma mulher pode competir com o airbrush e os retoques, ou, simplesmente, com a frescura famélica de modelos que não têm ainda vinte anos. A bem dizer, nem aos vinte podemos, mas cada um é para o que nasce.
Como o que está na moda é a juventude quase pré-adolescente, perdemos o direito a envelhecer com tranquilidade. No mínimo dos mínimos temos de fazer esforço por travar a máquina do tempo. A Mãe Natal, em vez de uma velha gordinha com óculos e uns seios e barriga ampla, faria botox três vezes por ano, ginástica todos os dias e teria madeixas loiras distintas. Porque uma mulher não envelhece, enlourece. Podem dizer-me quantas mulheres nos quarenta e cinquenta conhecem que tenham brancas naturais? Se sim são poucas e provavelmente, pobres, sem os setenta ou oitenta euros que, em média, as madeixas custam.
Uma coisa é ser saudável, tratar de si, evitar osteoporose, doenças. Outra é ser empurrada a manter-se perpetuamente nos vinte. E sabem o mais triste? É que mesmo com este esforço todo, os homens mais velhos continuam a preferir as mulheres mais novas, a trocar, como dizem jocosamente, uma de quarenta por duas de vinte. Ou seja, o esforço foi para nada. E se nos der a nós para fazermos o mesmo somos umas taradas. Umas predadoras, na idade da loba.
Eu gosto de brancas, mas a verdade é que também gosto do meu corpo e sabe deus que é expansivo que chegue. Gosto da tranquilidade de gostar de mim como sou. O preço que pagamos por isso é que é bastante alto. Ou fazemos as madeixas, o exercício e a hidratação via chá verde, ou bem nos podemos sentar em cima do nosso confortável rabo balzaquiano porque ninguém vai reparar em nós. Gina Pietranera, Anna Karenina, Emma Bovary e Lady Chaterly passariam, hoje em dia, completamente despercebidas. Não é trágico saber que hoje em dia, à dama das camélias, em vez de oferecerem marrons glacés recomendavam depuralina? Parece que nos esquecemos que aos trinta, e depois deles, ainda se vive. E que cada idade tem (deve ter) os seus encantos.

segunda-feira, abril 14, 2008

As duas faces do espelho : Barbara Streisand e Platão com Puccini à mistura


O que todas nós sabemos, e os meus alunos de oitavo ano corroboram de forma esmagadora, é que o amor, o amor-hormona, o amor-paixão nos deixa tontos e irracionais. E se eliminássemos a paixão? O princípio de que este filme , uma das minhas comédias românticas preferidas de sempre, parte, é o: e se eliminassemos o amor-paixão da equação? O que aconteceria?
A permissa básica parece uma ideia estúpida, mas é menos que o que possa saber. Não temos nós a ideia parva de nos apaixonarmos por gente desadequada com a qual não temos nada em comum a não ser a febre temporária da paixão? Além disso, olhem para a mitologia: alguém no seu são juizo confia nas setas de um puto malandro de dois ou três anos? Ou melhor, quem raio entrega setas a um puto pequeno e espera que ele faça um bom trabalho? Para além de exploração infantil é uma falta de senso.
Para além da paixão-Cupido há outras coisas, como o respeito mútuo, a comunhão de ideias e essa miragem que responde pelo nome de amor platónico. Esta ideia data da mesma época do gatinhante das setas. Segundo Platão devemos conhecer (e portanto amar) as coisas e as pessoas não através dos sentidos, que são enganadores (por isso nada de agarrar, trincar ou qualquer outro tipo de contacto físico), mas sim através da razão. O amor perfeito é, assim, uma comunhão de almas e não uma de corpos. Quando o corpo muda, se confiarmos nos sentidos, o amor vai-se, quando a paixão dá lugar à rotina partimos para alguém que nos forneça de novo essa paixão. Este tipo de amor esteve muito em voga durante a época medieval (mas também os cintos de castidade) e aquilo que era o casamento dinástico, e portanto, apessoal, deixava espaço para a realização pessoal através do amor platónico, inofensivo porquanto não dava lugar a filhos indesejados. A paixão tal como a conhecemos agora só teve lugar a partir do século XIX, mas foi um presente perverso: instiga nas pessoas aquele desejo de estar sempre apaixonada, constantemente nos píncaros da emoção. O que, como sabemos é impossível, ou ninguém comia, descansava ou tinha hobbies. E, se fizermos as contas, não duram mais as nossas amizades platónicas que os nossos amores, não são frequentemente mais fáceis, menos dolorosas? São. O pior é que não são tudo. Não chegam, ou então não precisávamos de companheiros para nada, tendo um grupo de amigos fiéis.
Quando o protagonista é deixado pela modelo da semana, que o maltrata e perturba, resolve procurar alguém pelo qual não se sinta minimamente atraído, sexualmente falando, e construir a partir daí o relacionamento perfeito. Acaba por encontrar esse alguém na pessoa de Rose, uma professora universitária patinho-feio, filha e irmã de duas grandes belezas (Lauren Bacall e Mimi Rogers, respectivamente). Casam e mais não sei o quê, mas aquilo que para ele é o casamento perfeito é, para ela, o pior casamento de todos. É que para nós, mulheres, sem a mesma capacidade de compartamentalização dos homens, ou temos tudo, ou não temos nada. E se aceitarmos apenas uma parte, estamos a fazer o pior dos pecados : resignar-nos.
Quererem só uma parte de nós é, no mínimo dos mínimos, insultuoso. A cabeça masculina que é, como já disse, organizada em compartimentos estanques, não encontra defeito nenhum em amar uma mulher de forma platónica e desejar outra de forma sexual. Para nós o amor é a soma das partes. Porque gostarem de nós pelo nosso cérebro é só um pouquinho melhor que pelo nosso corpo: continuamos à venda aos bocados, e se não somos um bife, somos uma enciclopédia, haja deus.
Se é verdade que o amor-paixão é uma coisa fugaz, também é verdade que o amor platónico é uma coisa incompleta. O sexo, a paixão não é eliminável das nossas vidas, não é como a nossa dieta da qual podemos eliminar, por exemplo, as gorduras. A ter equivalente era como eliminar o sal: podia continuar a comer-se, mas que não tinha gracinha nenhuma, não tinha. Mesmo com toda a manipulação cultural da paixão, que vende desde perfumes (e olhem para o eye candy abaixo) a fogões e fornos, mesmo nós esperemos, irracionalmente, ouvir Puccini de cada vez que somos beijados, continua a valer a pena amar.
A vida é para ser vivida de forma intensa, e, por mais confortável que seja eliminar todo um aspecto das relações, por mais seguro que seja, a eliminação de um factor é cobardia e preguiça. Claro que o filme acaba bem, com a miuda a ficar gira e o miudo a repensar as coisas, mas mesmo que, na vida real isso não aconteça (as pessoas são como são, e ou somos aceites por tudo o que somos ou que vão dar uma volta) , temos de continuar a tentar. Sem paixão podemos viver mais seguros, mas que secas brutais não apanhamos! Um dia destes ainda ouço o Nessun Dorma com um chocho... ou vá um un bel'dia vedremo... ou vá, resigno-me com o che gélida manina. Mas é a minha última oferta. Menos que isso, não obrigada.

Aforismo

Women are not inherently passive or peaceful. We're not inherently anything but human.
Robin Morgan

Eye Candy

Jonathan Rhys-Meyers
Eu sei que é um cromo repetido... mas não me importo de ter este cromo em particular repetido...

sexta-feira, abril 11, 2008

O Amor é um campo de batalha

Que os anos oitenta estão na moda torna-se evidente até para a toupeira mais coxa e míope. Aliás, é só entrar numa sapataria e ver sabrinas de verniz amarelo gema de ovo para nos esclarecer as dúvidas. Para nós, que já contribuímos para esse peditório, a década de oitenta é muito mais que fotos que atestam o nosso gosto lamentável em matéria de penteados e acessórios . É a década em que aprendemos coisas sobre sermos mulheres. E sobre o amor.
Já tive oportunidade de o dizer, mas as miúdas de agora têm referências sobre o amor muito diferentes das nossas. A malta, que é da geração Top Gun quer que nos tirem o fôlego. A malta que, efectivamente viu uma versão decente do Dirty Dancing, quer que um homem nos proporcione os melhores momentos das nossas vidas. As miudasdesta geração, em compensação, oferecem-se para partilhar o guarda-chuva e olha lá.
Crescemos com uma perspectiva diferente das coisas. Somos analógicas, pré- SMS e pré-mail e, seguramente, encontramos maneiras diferentes (mais profundas) de viver o amor. Se sabemos que o amor nos põe onde pertencemos (lifts us up where we belong), também sabemos, como diz a Pat Benatar, que o amor é um campo de batalha, em estrangeiro, love is a battlefield. O que a vida e as power ballads dos oitenta nos fizeram ver é que as coisas, longe de serem cor-de-rosa, precisam de ser encaradas como uma espécie de guerra de trincheiras ou um ringue, onde precisamos de beijos tanto quanto luvas de boxe.
We are young, heartache to heartache we stand
No promises, no demands
Love is a battlefield
We are strong, no one can tell us were wrong
Searchin our hearts for so long, both of us knowing
Love is a battlefield
Longe das ideias girlie girl do My humps da Fergie em que se exibe, a malta prefere as coisas de modo não estar numa posição de superioridade, em que se neutralizam os homens pela luxúria até serem uma papa informe de baba, nem de inferioridade, em que estamos a um passo escorregadio de sermos um tapete. O amor é um campo de batalha, mas afinal de conbtas, há regras.
Há escolas de pensamento que defendem que no amor e na guerra vale tudo. Nunca apoiei isso. Até as batalhas sangrentas do amor têm de obedecer à convenção de Genebra: tratar os prisioneiros de guerra com dignidade, respeitar as tréguas e agir com honradez se somos derrotados.
Se o amor tem algum limite, que tem, é o de lidarmos com as pessoas que amamos como pessoas honradas, de nos comportarmos nós mesmos como pessoas sãs. Como no boxe, podemos dar um golpe abaixo da cintura e acabar as coisas de uma vez, mas onde está o desportivismo disso? A partir do momento em que nos servimos de subterfúgios como o golpe da barriga para "capturarmos" um homem, por exemplo, merecemos todo o mal que, potêncialmente vir´sobre nós (que vem de certeza porque nunca nada de bom sobreveio de forçar alguém a estar connosco). O golpe da barriga é o equivalente a um acto terrorista: cobarde e injustificado. Mas lá está, também há gente neste mundo que acha os actos terroristas perfeitamente justificados.
Os limites do amor são, em última análise, aqueles que temos em tudo o resto: o respeito pelos nossos princípios éticos. Jogamos tão sujo quanto os nossos princípios o permitam (os meus obrigam-me a jogar praticamente à Tide: branco mais branco não há), mas há gente para tudo.
O amor é um campo de batalha, lá diz a Pat Benatar. Compete a nós enchê-lo de lama ou não.

segunda-feira, abril 07, 2008

Piadinha infame



Porque é tão difícil encontrar homens gentis, sensíveis e carinhosos?

Porque a maioria já tem namorado.