quinta-feira, janeiro 24, 2008

O kitsch irónico da geração X

Somos uma geração de saudosistas. A malta nascida algures nos anos 70 está irremediavelmente ligada a memórias felizes do passado que procuramos replicar e reproduzir, talvez porque enquanto produtos históricos somos uma espécie de anacronismo ambulante, desconfortavelmente enfiado entre a geração disco da malta antes e a geração cibernética depois. E nota-se.

Agora que a malta da geração X está nos 30, e que, basicamente molda o mundo à sua medida, traz a si todos os elementos confortáveis da sua infância. Para a geração MSN, HI5 ou Youtube é apenas uma espécie de chic retro traduzida nas roupas da moda, como franjas, saias de balão ou cintos elásticos para cujo peditório já nós contribuímos na nossa mal guiada adolescência. Para nós engloba muito mais que isso, é um renascer de valores e interesses de uma época muito mais doce e confortável para nós, uma vez que, depois da pressa de crescer e ser independentes chegámos à conclusão que crescer e ser adulto não tem assim tanta piada como isso. Se forem ao Youtube vão encontrar lá todos os desenhos animados míticos da nossa infância, juntamente com dezenas e dezenas de comentários saudosos de que esses é que eram os tempos.

Tendo em conta o contexto histórico português somos uma espécie de anomalia. Uma geração bolha e experimental, entre o 25 de Abril e a sociedade de consumo. Ou seja, crescemos a acreditar que tudo era possível, e, como dizia António Variações, entre Braga e Nova Iorque. Entre o cosmopolita mais cosmopolita de Smiths e Cure e Paco Rabanne e o kitch sem qualquer tipo de ironia possível de José Cid, Cândida Branca Flor e sapatos de verniz pretos com meias de renda (malditas, malditas) até ao joelho. Agora que crescemos e efectivamente sabemos o que é de bom gosto e não, escolhemos deliberadamente aquilo que é da nossa infância e usamo-lo com ironias de t-shirt cão azul. O kitch traz a saudade do que foi (Dartacão, carrinhos de rolamentos, cromos do Toppo Giggio) e o que é (playstations, declarações do IRS, contas de fraldas e prestações de casa) perde por comparação. Antes não tivessemos crescido, e perdido esse tempo de inocência.

Depois, temos de ver que é o primeiro ciclo completo de história a que estamos a assistir. Já percebemos que estamos velhos, quando já temos idade para nos lembrar das modas de vinte anos atrás e ver, de facto, a má figura que fazíamos nessa altura. E isso faz-nos sentir velhos, irremediavelmente velhos de todo.

Mas nem tudo é mau nisto, valhamedeus, nem tudo está perdido. Ao menos sobra-nos a ironia para comprar uma galinha de louça como a das nossas mães ou um daqueles pratos de repolho e usá-lo de uma forma irónica. Ou aquelas camisas, no caso dos homens, de bacalhau psicadélico . Transformámos o kitch num culto irónico dos velhos tempos da nossa infância, sendo assim uma espécie de clube selecto para quem percebe e se ri de si mesmo, onde os putos mais novos tentam entrar mas não têm hipótese nenhuma porque, simplesmente, não cresceram quando nós. O que não é mau de todo e até nos compensa de ter envelhecido.

1 comentário:

Anónimo disse...

A Emma e orgulhosa possuidora de uma box completa da Abelha Maia... presente de Natal. E eu podia passar horas no youtube a ver desenhos animados e a fungar de saudades... Kitsh.. pois sim! :)
Tua

Su