terça-feira, junho 26, 2007

segunda-feira, junho 25, 2007

Uma Questão de bom gosto

O bom gosto, tal como a maior parte das coisas relacionadas com beleza, é uma questão altamente discutível. Apesar de todas nós sabermos se uma coisa é ou não de bom gosto, a definição teórica do que representa bom gosto ou mau gosto é mais complicada que isso. Por exemplo, sapatos de lamé dourados são, em princípio, de mau gosto, mas a colecção de verão deste ano está cheia deles. Assim, e analisadas as coisas, os sapatos de lamé podem ser uma coisa de bom gosto.
Para nós, uma roupa de bom gosto, ou de uma forma mais lata, um estilo pessoal de bom gosto é muito mais que roupas na moda ou que nos assentam bem. Têm de ter uma certa paleta de cores e um certo estilo de corte, ser actual mas não fashion victim, etc.
Aquilo que mais facilmente nos dá o rótulo de mau gosto são roupas mal cortadas ou que não nos assentam, sobretudo se fizerem o impensável: mostrar ou acentuar curvas que não deveriam existir, como as da barriga. Sim, porque se somos muito gordinhas, ou mais ou menos gordinhas, ou coisa que se lhe valha, é esperado de nós que tenhamos a decência de as esconder e disfarçar tanto quanto possível (isto se não nos for humanamente possível permanecer em casa para não perturbar a gente bonita e elegante com a visão da nossa pessoa, lol). Uma blusa demasiado justa que mostre a barriga, e abra na zona do soutien, uma saia curta com pernas gorditas ou umas calças justas que mostrem a celulite do rabo são a morte da artista. É como se estivesse tatuado na testa a letras vermelhas a palavra PERDEDORA. Acabou-se.A verdade é que a maioria de nós se veste à defesa e não ao ataque, apressando-nos a comprar as roupas modernas e/ou adequadas para não sermos rotuladas como bimbas foleiras e sopeiras e, consequentemente, ostracizadas. É uma ditadura. Os homens podem dar-se ao luxo de vestir a mesma t-shirt durante cinco anos que ninguém os acusa de ser desactualizados. É, aliás, suposto, nem sequer ligarem muito a isso. Já nós não. Desgraçadamente, os cortes de saias, blusas e t-shirts mudam com uma velocidade alarmante. Podemos, com um bocado de esforço e imaginação, reciclar e reaproveitar peças, mas é um axioma conhecido que, quanto mais na moda estiver na moda uma peça, mais facilmente passa de moda. Assim como é conhecido e apoiado o axioma de que, quanto maior for o nosso corpo menos na moda poderemos estar. As roupas não foram pensadas para os tamanhos grandes e curvas generosas, esperando-se de nós, gordinhas, um mar de túnicas sem forma que nos dão o look de tendas de beduínos.
Tenho de confessar que, nem eu com o meu feminismo militante, consigo escapar a esta pressão. Não uso cores muito vivas, roupas muito justas ou roupas sem mangas em público, é impensável. O mesmo é verdade para combinações de diferentes padrões no mesmo conjunto, saias curtas ou rodadas, folhos, estampados muito grandes. Branco, só quando o rei faz anos, cores pastel, basicamente nunca, calções curtos também e a lista continua e continua e continua. Mexem demasiado com o meu sentido estético e a minha noção de equilíbrio para o fazer, perturbam demasiado as minhas inseguranças. Não vivemos precisamente num mundo que nos encoraja a aceitar o nosso tamanho sem luta e a mostrar orgulhosamente as nossas curvas, estejam elas onde estiverem. Quando vejo uma mulher na rua que passeia, esplendorosamente, as suas curvas generosas numa coisa justa e sexy, divido-me entre a vontade de a criticar venenosamente (deveria ter tido mais juízo que o de vestir AQUILO) e a vontade de a aplaudir pela coragem de vestir o que lhe apetece e quem não gostar, que não olhe.
A série de tv Betty Feia tem feito milagres pela auto estima das mulheres por esse mundo fora. Mas só até certo ponto. Sim, é verdade que mostra a todas as mulheres (e homens) que a bondade, a inteligência e uma personalidade forte são melhores que ser bonita e vazia. Mas qual de nós seria capaz de sair à rua sem se sentir mal com uma das roupas dela? Qual de nós não fica secretamente feliz por não ser ASSIM? É injusto, mas é assim que o mundo funciona.
Na minha perspectiva, e do alto do meu feminismo, acho que cada uma de nós deve vestir o que quer, independentemente do que os outros dizem. Se nos sentimos bem na roupa que trazemos, devemos mandar as bocas da reacção (nossas e dos outros) para trás das costas e simplesmente, andar de cara erguida e um belo sorriso. Os incomodados que se mudem e o bom gosto que se lixe. A não ser, claro, que estejam a falar de calças de elástico douradas ou verde alface, porque essas, minhas queridas, não têm redenção possível, são mesmo de mau gosto.

terça-feira, junho 19, 2007



Da Opéra Imaginaire, uma animação com o recriar de várias pinturas ao som do La donna é mobile. Dou um doce a quem identificar todas. Enjoy.

Aforismo




Beauty fades, but dumb is forever...

sexta-feira, junho 15, 2007

Aforismo


Porque é que os homens são tão exasperantes? Pelo mesmo motivo que o céu é azul: é mesmo assim, um fenómeno da natureza, que podemos ver e apreciar, mas não podemos mudar.

segunda-feira, junho 11, 2007

Eye Candy




Heath Ledger (rebelde, cavaleiro ou cowboy, é sempre scrumptious)

É como ver um acidente acontecer


Minhas queridas, a não ser que o vosso mais-que-tudo tenha sido criado num mosteiro tibetano por monges budistas octogenários e, do mosteiro, tenha vindo directo para as vossas mãos, é natural que vocês não sejam a primeira mulher da vida deles. Eles, por mais que nos custe, têm uma HISTÓRIA, e não há nada a fazer, tal como vocês têm a vossa.
Costumo achar que, em casal, falar do passado é como viver um acidente de trânsito: por mais leve que seja há sempre horas de chatice depois e as coisas nunca mais serão as mesmas. Saber que aquele(a) que nós amamos já amou antes é um duro golpe. Preferíamos que tivesse vivido na mais abjecta solidão ou num desfiar de relações superficiais umas atrás das outras a ter estado envolvido- apaixonado a sério - por outra que não nós. E claro, como somos seres sensatos e maduros que somos, uma vez que se toca no assunto, queremos saber tudo: datas, nomes, pormenores, toda a verdade escabrosa da traição involuntária do passado. E depois sofrer, amuar, e sentir-nos inferiorizadas. É mesmo assim.
Claro que a verdade, verdadinha, é que não podemos mudar o passado. Não podemos mudar o nosso, como o corte de cabelo desastroso ou as nuances que nos fazem parecer uma zebra, a saia dos saldos que não dá com nada nem nos fica especialmente bem e muito menos as relações de que nos arrependemos com sacanas destrutivos e abusivos, não podemos mudar o deles. Podemos desejar que a(s) gaja(s) anterior(es) tenha(m) uma síndrome rara que as faça ficar com um rabo imenso ou ataques de urticária ou borbulhas inestéticas, mas não podemos apagar a sua presença na vida deles. Tudo o que seja escarafunchar nas relações passadas só nos vai deixar doloridas e irritadas. Em última análise, não vale a pena.
Nós, as mulheres, adoramos falar. Adoramos analisar, teorizar, especular sobre o que nos acontece, aconteceu, acontecerá, explicar e perceber tudo. Os homens, nisto, são muito mais inteligentes que nós, falam menos, perguntam menos, expõem-se menos, poupando assim uma considerável dose de chatices. Nesta questão de amores passados a palavra de ordem é o silêncio. Quanto menos se disser, melhor.
Aceitem, minhas amigas, que se fizerem perguntas, é melhor estarem preparadas para as respostas que podem não gostar. Aceitem que o passado é um país distante onde não podemos regressar, nem eles. E que toda a gente tem uma história até eles, e que é essa história que nos molda até sermos o que somos, como somos.
Se é duro aceitar, quando acaba uma relação, que somos personagens secundárias na vida de quem nos deixa, é igualmente duro aceitar, engolir, as personagens secundárias nas vidas deles, por mais transitórias e passageiras que tenham sido. Não nos conseguimos pôr no lugar delas porque estão perto, demasiado perto daquilo que nos afecta a nós, não há volta a dar-lhe.
Minhas queridas, há muito pouco, quase nada que podemos controlar na vida. As pessoas aproximam-se porque querem, da mesma maneira que se afastam porque querem. A vida prega-nos rasteiras constantemente e nada, lamento dizê-lo, dura para sempre. Tentar controlar o passado de quem está na nossa vida é tão fútil como querer controlar o nosso. Podemos interpretá-lo a uma luz diferente face ao que se passou a seguir mas mudá-lo, objectivamente, não podemos. Não há corrector para a vida, temos de seguir em frente, com rasuras e tudo.
Assim, quando lhes apetecer escarafunchar no passado, ou a eles no vosso, lembrem-se que não é especialmente uma boa ideia, e que o silêncio é, a maioria das vezes a melhor opção. Lembrem-se que, se perguntarem, podem ter respostas que doem e não vos agradam. E que agarrem-se ao que têm no agora e no aqui, o passado é imutável, o futuro incerto, só o presente, o amor sentido no aqui e agora conta. Tudo o resto são questões de pormenor para as quais é melhor ser cego, surdo e mudo. Juro.

terça-feira, junho 05, 2007

A arte perdida do arranjo de flores


A minha noção de arranjo de flores é comprar um molho grande delas, tirar o plástico protector e pôr na jarra com água. Tudo aquilo que seja mais que dois géneros de flores (às vezes perco a cabeça e em vez de, imaginemos, gerberas brancas compro brancas e rosa, brancas e vermelhas, brancas e amarelas...) ultrapassa os meus limites de conhecimento e interesse. Aliás, já a hipótese de ponderar um arranjo, com esquemas de disposição geométrios e harmonias cromáticas me enchem de um tédio indescritível.
A minha mãe, como boa mãe transmontana, mais feminista na prática que na teoria, tratou de dar uma boa e sólida educação feminina às filhas. Se bem que as noções gerais de arrumação e ordem caseira deram jeito, e a culinária faço com prazer e entusiasmo, a outra parte das prendas domésticas sempre me deixou desconfortável. Aprendi a teoria de crochés, bordados, arranjos de mesas e de flores, mas sempre achei essas tarefas por demais entediantes, mais perto da morte cerebral que outra coisa. Apesar da minha educação retro, sempre me dei por muitissimo feliz poder fazer outras coisas, como ler livros, estar com os amigos, filosofar, em vez de me dedicar à ponderação do esquema de cores do bordado.
Quando oiço falar do falhanço do movimento feminista, e como a nossa libertação não foi libertação nenhuma, antes uma ainda maior carga de trabalhos, lembro-me dos arranjos de flores, e ergo as mãos para o céu em agradecimento a todas as sufragistas e queimadoras de soutiens da história.
Antes da libertação feminina, que nos libertou para oito ou mais horas de trabalho diário+ casa+filhos+maridinho, a nossa vida era vivida nesse círculo restrito de repetição e tédio, onde a criatividade era canalizada para coisas como arranjos de flores e pouco mais. É verdade que as mulheres agora podem continuar a cingir-se à esfera doméstica, a não opinar, a criar os filhos e agradar ao marido, mas aquelas de nós que não têm inclinação nenhuma para a felicidade doméstica têm escolha. Neste principio de milénio as raparigas, pelo menos na nossa cultura, podem escolher ser deusas do lar como também podem escolher ser médicas, advogadas, escritoras, tudo o que lhes apetecer, é só preciso tempo e dedicação. Antigamente as mulheres definiam-se como a Sra de, eram uma espécie de entidade subsidiada pelo marido,um ICAAM da esfera doméstica, agora só são subsidiadas se quiserem. E digam o que disserem, há muito a dizer sobre ganhar o seu próprio dinheiro e ser financeiramente dependente de outra pessoa, olá se sim.
Não sei porquê, mas os estereótipos femininos que associavam as mulheres a coisas delicadas e complicadas, como as rendas e os arranjos de flores deram origen a outros: somos mais fortes, mais resistentes, mais capazes. Podemos ser neuróticas com a aparência e os kg e um bocado superficiais com o que é ser mulheres, reduzindo-nos a uma sentimentalidade bacoca e rosa do girl power. Ah, mas antes isso que o tédio arrastado dia após dia da esfera doméstica, a esfera pequena das tarefas e da coscuvilhice com e das vizinhas, as tarefas minuciosas para gastas o tempo e entorpecer a mente. Ainda bem que a arte dos arranjos de flores está a perder-se. É bom sinal para nós.



Eye Candy






Daniel Craig (está calor, não está?)

Representações femininas na arte




Não, não é um tesourinho deprimente, e o acompanhamento musical é Bach, enjoy.