quarta-feira, setembro 19, 2007

O dilema do controlo remoto





Nestas coisas do quotidiano é natural haver atritos, e há. Tal como a questão do assento da sanita, desenvolvido antes, a questão do controlo da TV é uma fonte de atritos. Só que em vez de guerra aberta, como a do assento, a guerra pelo controlo do comando é uma guerra furtiva, cheia de silêncios cheios de acrimónia e braços cruzados acomo quem diz, vê o que quiseres a ver se me ralo, mas já a ralar-se.
Claro que a questão do controlo remoto é uma questão psicológica, freudiana mesmo, sendo que este objecto é, claramente, um símbolo fálico. E como símbolo fálico que é todos os homens o querem possuir e controlar, e quanto maior, e mais óbvio, melhor. O facto da nossa sociedade estar cheia de objectos fálicos não deve ser nem ignorado, nem menosprezado. Senão pensem comigo: o sexo masculino é, historicamente o dominante na maioria das culturas, certo? Então porque razão é que os homens sentem a necessidade de objectos que lhe lembrem a virilidade? Sim, porque não há simbolos representativos do sexo feminino por aí, nem sequer existe um nome para os descrever. Será insegurança? É capaz. E nem sequer precisamos de falar da questão do tamanho, que assola tanta cabecinha masculina e da compensação desta questão com mais objectos fálicos como carros velozes e potentes. Pode ser também parte do pissing contest que é a luta pela posição de macho alfa, o macho dominante, que se resume a basicamente a minha é maior que a tua, nah nah nah nah na... Isto aconteceu desde que o mundo é mundo, em sociedades que eram completamente dominadas pelos homens. Agora imaginem o século XX, com as suas ideias de igualdade feminina a pôr em causa o domínio masculino. É um azar, mas o homem moderno, coitado, anda confuso sem saber muito bem no que, ou em quem manda. E manda, graças a todos os santinhos, cada vez menos.
O homem moderno, felizmente, anda na fronteira do oh sou tão bom e olhem como sou másculo/viril/poderoso com os meus brinquedinhos simbólicos e o sou um desgraçado e ninguém quer saber o que penso. O passo seguinte e lógico é tentar encontrar novas formas de se auto-definir sem necessidade de se agarrar à autoridade inquestionada e aos símbolos infantis de poderio. E claro que nós também sabemos que os únicos homens que se comportam de forma lógica e segura da sua masculinidade sem serem intimidantes são os heróis dos livros da Nora Roberts, e olha lá.
Aplicada a psicologia a estas coisas domésticas de controlo remoto, podemos tomar uma de duas atitudes: ou aquiescemos, porque o controlo dos programas e os saltos bruscos para canais como o ESPN ou o Motor TV não nos incomodam assim tanto, ou então lutamos por ele porque, que raio, uma mulher há-de poder ver, uma vez por outra, o What Not To Wear, NÃO? E sem resmungos.
Se o dilema do controlo remoto no homem moderno é, "mando ou não mando, o que faz de mim um homem se nem o que ver na TV posso escolher?", o dilema da mulher moderna é: até que ponto lhe quero ferir o ego para poder ver, digamos, qualquer coisa irritantemente gaja na mais ainda irritante SIC gaja... Afinal, não foram só os homens a perder a noção de quem eram e como eram. Nós mulheres também perdemos um bocado o norte no sentido de hesitarmos entre aquela atitude submissa que, hipocrisias à parte, agrada a algum tipo de homens e sermos liberadas e assertivas e, seguramente, ser consideradas frescas pelo mesmo tipo de homens. É que vêm, muitos homens acham que as opiniões, numa mulher, são uma coisa pouco atractiva ou feminina. E que a luta pelo controlo remoto é só uma prova de que querem competir com eles no pissing contest e serem elas a figura alfa da casa. O que dá asneira, claro. E as confusões não se ficam só pelas opiniões, mas também, por exemplo, com coisas como interesse na intimidade física ou disponibilidade emocional.
No mundo perfeito da Nora Roberts os casais não se chateiam nada com o controlo remoto. No mundo real, algumas de nós acabam por ver todo o grand prix na sua glória radiosa.
Minhas amigas, tal como no caso do assento de sanita, é preciso uma abordagem filosófica clara e pessoal. Perguntem-se a vocês mesmas a quantidade de vezes que querem lutar pelo controlo de um objecto que, a maior parte das vezes, parece soldado à mão dos homens. Se forem poucas, lutem. Se forem muitas, não se aborreçam e comprem uma TV nova para outra divisão e deixem-no ficar com os seus brinquedos. Os homens são crianças, mesmo.

3 comentários:

Unknown disse...

Cá em casa não há disputa pelo controlo remoto. Até porque até há poucas semanas existiam duas televisões(uma delas após dois consertos resolveu "reformar-se"). A historia do tampo da sanita é algo que também não me chateia. Se está para cima, o que é raro, põe-se para baixo. Há alguma dificuldade nisso?! Com tanta coisa em que pensar, vou chatear-me por causa do assento ou o tampo da sanita?!
Estupidez!
Luv ya to pieces
Uma frota do costume

Anónimo disse...

Olá. As duas questões anteriores (tampo da sanita e controlo remoto) no meu caso especial poucas ou nenhumas vezes me chateiam. No caso do tampo, nunca tive de o baixar porque o Dave é hiper cuidadoso, no caso do comando da televisão, para o chatear quando ele está a ver aqueles filmes muito maus tipo Jackie Chan e Cia pego no meu livro e desato a comer pipocas de forma mais barulhenta possivel... normalmente resulta... fica logo com sono... e eu fico com toda a liberdade para ver os meus programas favoritos!!!! Fica bem!

inespimentel disse...

Neste mundo que "se pode agarrar", eles levam a melhor, e mandam, continuam a mandar... mas agora que o poder está cada vez mais descredibilizado e associado à corrupção e ao compadrio, outro mundo feito de interioridade, mais espiritual, mais HUMANO, está a germinar! Eles não sabem, mas nós, as mulheres, pensamos, repensamos e questionamos, tudo o que eles contruiram e nos impuseram e já sabemos que este não é o nosso mundo!Quando lá chegarmos vamos impôr a solidariedade e acabar com esta sociedade de merda, consumista, que só resolve, e mal ,os problemas de meia dúzia!