Estava outro dia a falar com a minha amiga C, que conheço há quase 15 anos, a lembrar as alegrias e as dores passadas, quando surgiu o tema dos ex-namorados. Depois de um ou outro cromo trocado, chegámos as duas à mesma conclusão: os filhos da mãe, os ordinários de marca maior que passaram pela nossa vida e fizeram mossa, continuam, anos depois, com o mesmo bom aspecto que tinham então. E aposto que continuam a usar esse mesmo bom aspecto para atrair vítimas insuspeitas para as suas garras maléficas. Acham justo? Não, claro que não.
Se o universo fosse uma coisa yin e yang de forças equilibradas, os sacanas, filhos da mãe ordinários teriam já, uma vez que estão nos trinta, desenvolvido uma barriguinha de cerveja, umas entradas, um cabelo branco ou, no mínimo umas olheiras de mau aspecto. Mas, fizeram-no? Não. Continuam com o mesmo bom aspecto que tinham quando lhes caímos na esparrela. Se não melhor. Tiveram ao menos a decência de ter pés de galinha à volta dos olhos? Se sim, só lhes aumentou o charme, dando-lhes aquele ar vivido e confortável de quem está bem na sua pele. E o facto de sabermos as peças que ali estão e de nós, entretanto, termos seguido caminho e, com sorte estarmos mais felizes (ou pelo menos mais sábias) não nos ajuda a curar a aguda sensação de injustiça. Porque aquilo que restauraria o balanço kármico era vê-los cheios de filhos birrentos e esposas irritáveis com barrigas de cerveja e camisolas de mau aspecto num sábado de manhã no hipermercado, não vê-los num sábado à noite num bar in, sofisticados e com a namorada tamanho 34 de 22 aninhos pendurada ao braço como um acessório. É de deixar uma pessoa positivamente desmoralizada. É de nos lançar, pelo menos cinco minutos, num abismo de depressão.
Depois desta conversa, lembrei-me logo de um livro o Oscar Wilde, O retrato de Dorian Grey, onde um homem muito bonito faz transferir toda a fealdade da sua alma para o quadro, enquanto permanece eternamente bonito e fresco. Sendo que Oscar Wilde era homossexual, estava em posição privilegiada, conhecendo a natureza dos homens e o ponto de vista das mulheres ao mesmo tempo. O homem sabia das coisas, minhas amigas. Não somos nós, minhas amigas, o retrato da alma dessas criaturas, espelhando-lhes os defeitos enquanto eles não mostram sinais do frios, cobardes, insensíveis ou simplesmente ordinários filhos da mãe que são? Pois. E o nosso conhecimento, porque privado, não restaura o nosso sentimento de termos sido injustiçadas e ninguém saber o que verdadeiramente ali está, qual é a verdadeira natureza daquelas criaturas. A maldição Dorian Grey cai sobre nós, não sobre eles, até porque não costumam ter consciência, para ela lhes pesar. A sério, cada vez mais me convenço que o mundo não é um lugar justo, é que nem de perto, nem de longe.
Se o universo fosse uma coisa yin e yang de forças equilibradas, os sacanas, filhos da mãe ordinários teriam já, uma vez que estão nos trinta, desenvolvido uma barriguinha de cerveja, umas entradas, um cabelo branco ou, no mínimo umas olheiras de mau aspecto. Mas, fizeram-no? Não. Continuam com o mesmo bom aspecto que tinham quando lhes caímos na esparrela. Se não melhor. Tiveram ao menos a decência de ter pés de galinha à volta dos olhos? Se sim, só lhes aumentou o charme, dando-lhes aquele ar vivido e confortável de quem está bem na sua pele. E o facto de sabermos as peças que ali estão e de nós, entretanto, termos seguido caminho e, com sorte estarmos mais felizes (ou pelo menos mais sábias) não nos ajuda a curar a aguda sensação de injustiça. Porque aquilo que restauraria o balanço kármico era vê-los cheios de filhos birrentos e esposas irritáveis com barrigas de cerveja e camisolas de mau aspecto num sábado de manhã no hipermercado, não vê-los num sábado à noite num bar in, sofisticados e com a namorada tamanho 34 de 22 aninhos pendurada ao braço como um acessório. É de deixar uma pessoa positivamente desmoralizada. É de nos lançar, pelo menos cinco minutos, num abismo de depressão.
Depois desta conversa, lembrei-me logo de um livro o Oscar Wilde, O retrato de Dorian Grey, onde um homem muito bonito faz transferir toda a fealdade da sua alma para o quadro, enquanto permanece eternamente bonito e fresco. Sendo que Oscar Wilde era homossexual, estava em posição privilegiada, conhecendo a natureza dos homens e o ponto de vista das mulheres ao mesmo tempo. O homem sabia das coisas, minhas amigas. Não somos nós, minhas amigas, o retrato da alma dessas criaturas, espelhando-lhes os defeitos enquanto eles não mostram sinais do frios, cobardes, insensíveis ou simplesmente ordinários filhos da mãe que são? Pois. E o nosso conhecimento, porque privado, não restaura o nosso sentimento de termos sido injustiçadas e ninguém saber o que verdadeiramente ali está, qual é a verdadeira natureza daquelas criaturas. A maldição Dorian Grey cai sobre nós, não sobre eles, até porque não costumam ter consciência, para ela lhes pesar. A sério, cada vez mais me convenço que o mundo não é um lugar justo, é que nem de perto, nem de longe.
9 comentários:
Só tu para transpor tão bem para palavras o que penso há anos. Filhos da mãezinha deles...
Uma frota do costume
c.
Ah, minhas senhoras. É pegar nas excepções, nos homens muito queridos, presentes e carinhosos e... a verdade é que não os queremos, achámo-los aborrecidíssimos. Ou não? A maldição é nossa, mas é por não sabermos o que queremos, nem quando o temos à nossa frente. E Dorian Gray era um pobre coitado.
Eileen, este blog NÃO é um blog politicamente correcto. Sou frequentemente desbocada e radical, mas também sou outra coisa: honesta. Digo a verdade, tal como eu a vejo, deixando aos leitores (leitoras) a opção ou não de concordar com a minha visão das coisas. O facto do Dorian Grey ser um pobre coitado não o iliba. Os queridos simpáticos e adoráveis têm tanta capacidade de ser sacanas filhos da mãe ordinários como os sacanas declarados, com a agravante que damos menos por eles e nos conseguimos defender deles muito pior. Pelo menos na minha pessoal, e bastante dolorosa, experiência.
Por isso não vou concordar consigo.O que, evidentemente, é também opção minha.
Volte sempre.
"A sério, cada vez mais me convenço que o mundo não é um lugar justo, é que nem de perto, nem de longe."
Ninguém quer que o mundo seja um lugar justo, só não queremos que seja injusto para nós ;)
E se há alguns sacanas para os quais olhamos e sentimos que eles não mereciam estar ali com o ar fresco e jovem de quem não se deixa afectar por nada, também os haverá que sentem o mesmo em relação a nós.
Não torna as coisas mais justas, mas torna-as equilibradas.
Nenhuma mulher está mais fresca aos trinta que estava aos vinte, não acontece. Pode estar mais arranjada, mais sofisticada, mais madura, mais sábia, mas mais fresca, decididamente, não. O que é bom, diga-se. A idade traz mais coisas, coisas mais valiosas que as rugas, as brancas e os Kgs. Aprendemos as nossas lições e, com mesmo muita sorte, evitamos os erros passados. Eles, os moços Dorian Grey, nem por isso, continuam a parecer ter os mesmos vinte mas também se portam como se tivessem os mesmos vinte. Fora o prazer (mesquinho, é verdade) de os ver foleiros e velhos, queriamos uma espécie de retribuição, de justificação do sofrimento. Saber que a lição de vida aproveitou aos dois, e isso não aconteceu. É por isso que o mundo não é justo. Eles acharão o mesmo, mas cada um diz a verdade da sua própria perspectiva.
Muito, muito bem observado. Nunca tinha pensado nestes moldes, mas tens toda a razão! E parabéns pelo blog, excelente!
Continuo a descobrir o teu blog e este post está uma delícia. Mas, convém não esquecer que, no fim, quando ele esfaqueia o quadro morre completamente desfigurado...como se diz, a vingança deve servir-se fria!
Carla
Na verdade, Carla, não sou especialmente vingativa. Posso ter um ou outro mau pensamento a respeito dos meus falecidos (ex)mas todos podem testemunhar que sou uma ex-namorada exemplar. Não melgo, não escrevo, não telefono, muito seguramente não me vingo. Na verdade, quando as coisas acabam há qualquer coisa que se quebra e nunca mais pode ser arranjado. Morreu. Posso por isso ficar irritada por ver o sacana cheio de bom ar, mas não espero, ou executo vingança nenhuma. E também não acredito que cada qual recebe da vida a paga devida. Como disse, a vida não é justa nem equilibrada, e temos de viver com o facto o melhor que conseguirmos.
Obrigada, Alba :). Escrever os textos deste blog dá-me muito prazer, fico contete por eles agradarem a quem os lê também. Volte sempre
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