sábado, setembro 29, 2007
quinta-feira, setembro 27, 2007
A maldição de Dorian Grey
Estava outro dia a falar com a minha amiga C, que conheço há quase 15 anos, a lembrar as alegrias e as dores passadas, quando surgiu o tema dos ex-namorados. Depois de um ou outro cromo trocado, chegámos as duas à mesma conclusão: os filhos da mãe, os ordinários de marca maior que passaram pela nossa vida e fizeram mossa, continuam, anos depois, com o mesmo bom aspecto que tinham então. E aposto que continuam a usar esse mesmo bom aspecto para atrair vítimas insuspeitas para as suas garras maléficas. Acham justo? Não, claro que não.
Se o universo fosse uma coisa yin e yang de forças equilibradas, os sacanas, filhos da mãe ordinários teriam já, uma vez que estão nos trinta, desenvolvido uma barriguinha de cerveja, umas entradas, um cabelo branco ou, no mínimo umas olheiras de mau aspecto. Mas, fizeram-no? Não. Continuam com o mesmo bom aspecto que tinham quando lhes caímos na esparrela. Se não melhor. Tiveram ao menos a decência de ter pés de galinha à volta dos olhos? Se sim, só lhes aumentou o charme, dando-lhes aquele ar vivido e confortável de quem está bem na sua pele. E o facto de sabermos as peças que ali estão e de nós, entretanto, termos seguido caminho e, com sorte estarmos mais felizes (ou pelo menos mais sábias) não nos ajuda a curar a aguda sensação de injustiça. Porque aquilo que restauraria o balanço kármico era vê-los cheios de filhos birrentos e esposas irritáveis com barrigas de cerveja e camisolas de mau aspecto num sábado de manhã no hipermercado, não vê-los num sábado à noite num bar in, sofisticados e com a namorada tamanho 34 de 22 aninhos pendurada ao braço como um acessório. É de deixar uma pessoa positivamente desmoralizada. É de nos lançar, pelo menos cinco minutos, num abismo de depressão.
Depois desta conversa, lembrei-me logo de um livro o Oscar Wilde, O retrato de Dorian Grey, onde um homem muito bonito faz transferir toda a fealdade da sua alma para o quadro, enquanto permanece eternamente bonito e fresco. Sendo que Oscar Wilde era homossexual, estava em posição privilegiada, conhecendo a natureza dos homens e o ponto de vista das mulheres ao mesmo tempo. O homem sabia das coisas, minhas amigas. Não somos nós, minhas amigas, o retrato da alma dessas criaturas, espelhando-lhes os defeitos enquanto eles não mostram sinais do frios, cobardes, insensíveis ou simplesmente ordinários filhos da mãe que são? Pois. E o nosso conhecimento, porque privado, não restaura o nosso sentimento de termos sido injustiçadas e ninguém saber o que verdadeiramente ali está, qual é a verdadeira natureza daquelas criaturas. A maldição Dorian Grey cai sobre nós, não sobre eles, até porque não costumam ter consciência, para ela lhes pesar. A sério, cada vez mais me convenço que o mundo não é um lugar justo, é que nem de perto, nem de longe.
Se o universo fosse uma coisa yin e yang de forças equilibradas, os sacanas, filhos da mãe ordinários teriam já, uma vez que estão nos trinta, desenvolvido uma barriguinha de cerveja, umas entradas, um cabelo branco ou, no mínimo umas olheiras de mau aspecto. Mas, fizeram-no? Não. Continuam com o mesmo bom aspecto que tinham quando lhes caímos na esparrela. Se não melhor. Tiveram ao menos a decência de ter pés de galinha à volta dos olhos? Se sim, só lhes aumentou o charme, dando-lhes aquele ar vivido e confortável de quem está bem na sua pele. E o facto de sabermos as peças que ali estão e de nós, entretanto, termos seguido caminho e, com sorte estarmos mais felizes (ou pelo menos mais sábias) não nos ajuda a curar a aguda sensação de injustiça. Porque aquilo que restauraria o balanço kármico era vê-los cheios de filhos birrentos e esposas irritáveis com barrigas de cerveja e camisolas de mau aspecto num sábado de manhã no hipermercado, não vê-los num sábado à noite num bar in, sofisticados e com a namorada tamanho 34 de 22 aninhos pendurada ao braço como um acessório. É de deixar uma pessoa positivamente desmoralizada. É de nos lançar, pelo menos cinco minutos, num abismo de depressão.
Depois desta conversa, lembrei-me logo de um livro o Oscar Wilde, O retrato de Dorian Grey, onde um homem muito bonito faz transferir toda a fealdade da sua alma para o quadro, enquanto permanece eternamente bonito e fresco. Sendo que Oscar Wilde era homossexual, estava em posição privilegiada, conhecendo a natureza dos homens e o ponto de vista das mulheres ao mesmo tempo. O homem sabia das coisas, minhas amigas. Não somos nós, minhas amigas, o retrato da alma dessas criaturas, espelhando-lhes os defeitos enquanto eles não mostram sinais do frios, cobardes, insensíveis ou simplesmente ordinários filhos da mãe que são? Pois. E o nosso conhecimento, porque privado, não restaura o nosso sentimento de termos sido injustiçadas e ninguém saber o que verdadeiramente ali está, qual é a verdadeira natureza daquelas criaturas. A maldição Dorian Grey cai sobre nós, não sobre eles, até porque não costumam ter consciência, para ela lhes pesar. A sério, cada vez mais me convenço que o mundo não é um lugar justo, é que nem de perto, nem de longe.
segunda-feira, setembro 24, 2007
Aforismo
quarta-feira, setembro 19, 2007
O dilema do controlo remoto
Nestas coisas do quotidiano é natural haver atritos, e há. Tal como a questão do assento da sanita, desenvolvido antes, a questão do controlo da TV é uma fonte de atritos. Só que em vez de guerra aberta, como a do assento, a guerra pelo controlo do comando é uma guerra furtiva, cheia de silêncios cheios de acrimónia e braços cruzados acomo quem diz, vê o que quiseres a ver se me ralo, mas já a ralar-se.
Claro que a questão do controlo remoto é uma questão psicológica, freudiana mesmo, sendo que este objecto é, claramente, um símbolo fálico. E como símbolo fálico que é todos os homens o querem possuir e controlar, e quanto maior, e mais óbvio, melhor. O facto da nossa sociedade estar cheia de objectos fálicos não deve ser nem ignorado, nem menosprezado. Senão pensem comigo: o sexo masculino é, historicamente o dominante na maioria das culturas, certo? Então porque razão é que os homens sentem a necessidade de objectos que lhe lembrem a virilidade? Sim, porque não há simbolos representativos do sexo feminino por aí, nem sequer existe um nome para os descrever. Será insegurança? É capaz. E nem sequer precisamos de falar da questão do tamanho, que assola tanta cabecinha masculina e da compensação desta questão com mais objectos fálicos como carros velozes e potentes. Pode ser também parte do pissing contest que é a luta pela posição de macho alfa, o macho dominante, que se resume a basicamente a minha é maior que a tua, nah nah nah nah na... Isto aconteceu desde que o mundo é mundo, em sociedades que eram completamente dominadas pelos homens. Agora imaginem o século XX, com as suas ideias de igualdade feminina a pôr em causa o domínio masculino. É um azar, mas o homem moderno, coitado, anda confuso sem saber muito bem no que, ou em quem manda. E manda, graças a todos os santinhos, cada vez menos.
O homem moderno, felizmente, anda na fronteira do oh sou tão bom e olhem como sou másculo/viril/poderoso com os meus brinquedinhos simbólicos e o sou um desgraçado e ninguém quer saber o que penso. O passo seguinte e lógico é tentar encontrar novas formas de se auto-definir sem necessidade de se agarrar à autoridade inquestionada e aos símbolos infantis de poderio. E claro que nós também sabemos que os únicos homens que se comportam de forma lógica e segura da sua masculinidade sem serem intimidantes são os heróis dos livros da Nora Roberts, e olha lá.
Aplicada a psicologia a estas coisas domésticas de controlo remoto, podemos tomar uma de duas atitudes: ou aquiescemos, porque o controlo dos programas e os saltos bruscos para canais como o ESPN ou o Motor TV não nos incomodam assim tanto, ou então lutamos por ele porque, que raio, uma mulher há-de poder ver, uma vez por outra, o What Not To Wear, NÃO? E sem resmungos.
Se o dilema do controlo remoto no homem moderno é, "mando ou não mando, o que faz de mim um homem se nem o que ver na TV posso escolher?", o dilema da mulher moderna é: até que ponto lhe quero ferir o ego para poder ver, digamos, qualquer coisa irritantemente gaja na mais ainda irritante SIC gaja... Afinal, não foram só os homens a perder a noção de quem eram e como eram. Nós mulheres também perdemos um bocado o norte no sentido de hesitarmos entre aquela atitude submissa que, hipocrisias à parte, agrada a algum tipo de homens e sermos liberadas e assertivas e, seguramente, ser consideradas frescas pelo mesmo tipo de homens. É que vêm, muitos homens acham que as opiniões, numa mulher, são uma coisa pouco atractiva ou feminina. E que a luta pelo controlo remoto é só uma prova de que querem competir com eles no pissing contest e serem elas a figura alfa da casa. O que dá asneira, claro. E as confusões não se ficam só pelas opiniões, mas também, por exemplo, com coisas como interesse na intimidade física ou disponibilidade emocional.
No mundo perfeito da Nora Roberts os casais não se chateiam nada com o controlo remoto. No mundo real, algumas de nós acabam por ver todo o grand prix na sua glória radiosa.
Minhas amigas, tal como no caso do assento de sanita, é preciso uma abordagem filosófica clara e pessoal. Perguntem-se a vocês mesmas a quantidade de vezes que querem lutar pelo controlo de um objecto que, a maior parte das vezes, parece soldado à mão dos homens. Se forem poucas, lutem. Se forem muitas, não se aborreçam e comprem uma TV nova para outra divisão e deixem-no ficar com os seus brinquedos. Os homens são crianças, mesmo.
terça-feira, setembro 18, 2007
quinta-feira, setembro 13, 2007
O assunto, minhas caras, é polémico e difícil, cheio de potenciais ratoeiras e atoleiros de dúvidas: deve o assento de sanita ficar para baixo, ou para cima? Aviso desde já que esta é apenas a minha opinião pessoal que aqui expresso com a ideia de poder ajudar a fazer luz sobre o dilema que assola muitas de nós.
O assento de sanita é um daqueles assuntos domésticos, quotidianos, que, reconhecidamente, não matam, mas moem. Passados o primeiros assombros da paixão, vão aparecendo aqueles detalhes irritantes no outro com os quais teremos de lidar seja de que forma for. E o número alarmante de discussões a este respeito por este país, não, por este mundo fora, justifica uma abordagem rigorosa e fiosófica a este assunto. Comecemos, portanto.
Para mim, o assunto do assento da sanita é um bocado irrelevante: se estiver para cima, ponho para baixo e pronto, é um gesto automático e nem penso muito nisso. Mas esta atitude fleumática não é assim tão fácil para muitas de nós. Começam a subir os calores ao nariz e, vai-se a ver, discussão. Façam as contas comigo: se o moço for à casa de banho três vezes, três discussões. Se estiver a beber cerveja, é incomportável. Não lhes parece que seria evitável esta chatice? Claro. Não que seja uma rapariga submissa e evite discussões, até porque acredito vivamente que uma relação em que ninguém discute não é saudável, alguém se está a anular. Mas parece-me que se devem reservar as forças para discussões importantes, que valham a pena, por exemplo projectos de vida, crenças, assuntos verdadeiramente vitais, em vez de arranjar pelo menos três discussões por dia porque o assento da sanita está outra vez para cima, não lhes parece? Aliás, como mau feitio que sou, uso muito parcimoniosamente as discussões, até porque quando se discute os ânimos aquecem e dizemos coisas que não queremos dizer e o estrago está feito. Um acordo entre as partes é sempre preferível.
Depois, temos de ver as coisas do ponto teórico: o que implica a nossa exigência de um assento para baixo em todas as ocasiões? Nós, mulheres, precisamos dele para baixo. Eles precisam dele para cima. Duas necessidades opostas, mas inevitáveis. Porque se há-de então optar por uma posição em vez da outra do malvado objecto? Uma opção de ficar para baixo implica ou a supremacia de uma das partes, nós, ou um favor por parte dos outros, eles. E nós, desculpem que lhes digam, não precisamos de favores especiais, nem de protecção. Ao exigirmos o assento para baixo porque podemos, e desculpem a franqueza, arrefecer ou molhar o rabo, estamos a passar a mensagem que somos tontas ao ponto de não conseguirmos ver a posição do assento antes de nos sentarmos. Perguntem a vocês mesmas se lhes apetece passar por estúpidas para merecerem tratamento especial. O paradoxo da mulher moderna, que toda a questão do tampo de sanita deixa a nu é este: ao mesmo tempo que queremos ser vistas como seres iguais, perfeitamente capazes e independentes, continuamos a esperar e exigir tratamento especial.
Sejamos francas, minhas caras, não podem ter as duas coisas, simplesmente não é possível. Não podem ser feministas e autónomas só na parte que lhes dá jeito. É imoral. Dêm uma folguinha aos desgraçados homens que, com a sua mente linear, ficam confusos com estas mensagens paradoxais. Eles, da maneira deles, não só usam estas pequenas coisas para dizer que somos fúteis e incompreensiveis, como se sentem no direito de continuar a tratar-nos como tontas que não conseguem sequer aferir a posição de um assento de sanita.
Para acabar com o paradoxo da mulher moderna, sejam firmes e consistentes. Não exijam, ou esperem portas abertas, ajuda para vestir casacos, carregar coisas, refeições grátis. Poramordedeus tratem de vocês mesmas para eles perceberem que querem companhia e compreensão, não protecção e paternalismo. E ponham o assento para baixo, já são meninas crescidas...
O assento de sanita é um daqueles assuntos domésticos, quotidianos, que, reconhecidamente, não matam, mas moem. Passados o primeiros assombros da paixão, vão aparecendo aqueles detalhes irritantes no outro com os quais teremos de lidar seja de que forma for. E o número alarmante de discussões a este respeito por este país, não, por este mundo fora, justifica uma abordagem rigorosa e fiosófica a este assunto. Comecemos, portanto.
Para mim, o assunto do assento da sanita é um bocado irrelevante: se estiver para cima, ponho para baixo e pronto, é um gesto automático e nem penso muito nisso. Mas esta atitude fleumática não é assim tão fácil para muitas de nós. Começam a subir os calores ao nariz e, vai-se a ver, discussão. Façam as contas comigo: se o moço for à casa de banho três vezes, três discussões. Se estiver a beber cerveja, é incomportável. Não lhes parece que seria evitável esta chatice? Claro. Não que seja uma rapariga submissa e evite discussões, até porque acredito vivamente que uma relação em que ninguém discute não é saudável, alguém se está a anular. Mas parece-me que se devem reservar as forças para discussões importantes, que valham a pena, por exemplo projectos de vida, crenças, assuntos verdadeiramente vitais, em vez de arranjar pelo menos três discussões por dia porque o assento da sanita está outra vez para cima, não lhes parece? Aliás, como mau feitio que sou, uso muito parcimoniosamente as discussões, até porque quando se discute os ânimos aquecem e dizemos coisas que não queremos dizer e o estrago está feito. Um acordo entre as partes é sempre preferível.
Depois, temos de ver as coisas do ponto teórico: o que implica a nossa exigência de um assento para baixo em todas as ocasiões? Nós, mulheres, precisamos dele para baixo. Eles precisam dele para cima. Duas necessidades opostas, mas inevitáveis. Porque se há-de então optar por uma posição em vez da outra do malvado objecto? Uma opção de ficar para baixo implica ou a supremacia de uma das partes, nós, ou um favor por parte dos outros, eles. E nós, desculpem que lhes digam, não precisamos de favores especiais, nem de protecção. Ao exigirmos o assento para baixo porque podemos, e desculpem a franqueza, arrefecer ou molhar o rabo, estamos a passar a mensagem que somos tontas ao ponto de não conseguirmos ver a posição do assento antes de nos sentarmos. Perguntem a vocês mesmas se lhes apetece passar por estúpidas para merecerem tratamento especial. O paradoxo da mulher moderna, que toda a questão do tampo de sanita deixa a nu é este: ao mesmo tempo que queremos ser vistas como seres iguais, perfeitamente capazes e independentes, continuamos a esperar e exigir tratamento especial.
Sejamos francas, minhas caras, não podem ter as duas coisas, simplesmente não é possível. Não podem ser feministas e autónomas só na parte que lhes dá jeito. É imoral. Dêm uma folguinha aos desgraçados homens que, com a sua mente linear, ficam confusos com estas mensagens paradoxais. Eles, da maneira deles, não só usam estas pequenas coisas para dizer que somos fúteis e incompreensiveis, como se sentem no direito de continuar a tratar-nos como tontas que não conseguem sequer aferir a posição de um assento de sanita.
Para acabar com o paradoxo da mulher moderna, sejam firmes e consistentes. Não exijam, ou esperem portas abertas, ajuda para vestir casacos, carregar coisas, refeições grátis. Poramordedeus tratem de vocês mesmas para eles perceberem que querem companhia e compreensão, não protecção e paternalismo. E ponham o assento para baixo, já são meninas crescidas...
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