quinta-feira, fevereiro 22, 2007

O tamanho xxl



Com a chegada das semanas de moda por esse mundo fora, o assunto anda nas bocas de toda a gente: criar padrões de moda mais aceitáveis de modo a que as mulheres deste mundo não se deixem morrer à fome para caberem nos tamanhos disponíveis. Em Inglaterra, conta-me a minha amiga Su, o assunto anda nas bocas de todos. Um leitor, nessa maravilhosa instituição que é a carta ao editor de jornal, levou mesmo a questão a um nível mais à frente. Se acabam com o XS para deixar de dar mau exemplo às miúdas, então deveriam de deixar de vender igualmente o XXL. Pois nada dá pior exemplo às meninas que uma matrona XXL.

Eu fiquei desapontada com a falta de visão da proposta. Depois de se deixar de fabricar roupa XXL, deve deixar de se produzir igualmente a XL e a L, reduzindo todas essas badochas desavergonhadas a vestir as tendas de campismo que merecem, ou lençois, ou cortinados e roupa de casa avulsa. Depois desta medida moralizadora dos corpos, que deveria instalar o terror divino nas gordas todas do mundo civilizado, deveriam passar-se leis mais estritas e rigorosas no sentido de lhes proíbir o acesso a todos os sítios giros e na moda de modo a não quebrarem, com o seu corpo deselegante, a harmonia dos sítios e, por conseguinte, estragar o dia a todos os giros e fabulosos que as avistassem. Depois, racionamento estrito de toda a alimentação e ginástica compulsiva. Assim, a perda de peso era garantida e, talvez depois de atingido o grau mínimo de aceitabilidade em termos estéticos se pudessem receber estes freak shows de volta à sociedade civilizada...

Logicamente, e para todos os que possam ainda ter dúvidas, estava a ironizar no parágrafo acima, mas questão é complicada, mais do que parece à primeira vista. Se formos estritos a obesidade é uma doença (doença e não distúrbio, atenção), e de facto deve-se educar as crianças para hábitos de vida saudáveis. Mas comparar anorexia com obesidade é misturar, com toda a elegância, alhos com bugalhos. Se reduzir o tamanho XS me parece uma boa ideia, acabar com o XXL já parece castigo. Sim, porque é precisamente por causa da fortíssima exclusão social de que os obesos são alvo que tantas miudas deixam de comer a pontos de ficarem à morte. Afinal, na perspectiva da sociedade, antes morta que gorda. Chamar uma mulher de gorda é um insulto, e grande.

O inglês tem várias palavras para magro, umas com conotações positivas- willowy, outras negativas- thin, mas as palavras para gordo são todas de conotação negativa: fat, frumpy, bulky, heavy-built... Até nos nosso português amado o "forte" é um eufemismo piedoso. Por detrás de um "forte" amigável estão carradas de desprezo, indiferença, ou o supremo insulto: pena. Como se se fosse leproso ou coisinha pior. E isto são só os condicionantes mentais presentes na língua que falamos, se pensarmos na sociedade obcecada pela imagem vemos que é apenas uma ínfima parte , uma gota de água no oceano que é a pressão da sociedade para as mulheres se manterem magras (e novas e bonitas e desejáveis, mas essa é outra história).

Fiquei chocada quanto li numa revista de fofoca qualquer que Antonio Banderas e Melanie Grifith têm um acordo pré-matrimonial e que uma das cláusulas nele era que ela não poderia ultrapassar o peso pré-determinado sob pena de pedido de divórcio. Como se a tivesse comprado ao kilo. Se isso acontece a uma mulher fabulosa como a Melanie, que esperança tem a mulher comum de viver com kg a mais e ser aceite? Poucas. Os homens são criaturas fúteis, não me canso de o repetir, mas a verdade é que não conseguem ultrapassar o facto puro e simples da falta de desejo. E como nenhuma mulher se quer sentir rejeitada faz tudo e mais alguma coisa para ser desejável- magra- aos olhos dos homens. Inculindo vender a alma ao maligno, ou, simplesmente, matar-se à fome. E olhem que se há alhuma coisa que exija coragem e determinação, desespero mesmo, é matar-se à fome.

Porque é que acabar com o XS é certo e com o XXL é errado? Ora, porque é. Se, os omnipresentes media fossem instrumentos de força para as mulheres em vez de as fazer sentir mal com o corpo que têm e as formas femininas, (desculpem, um 42 ou 44 não é gordo a não ser que se meça 1.40m)se as deixassem simplesmente relaxar não havia tanta mulher infeliz. Se uma mulher se sentisse feliz e sexy na roupa do seu tamanho em vez de uma baleia frustrada ao fim do dia de compras porque nada lhe serve o mundo seria um sítio muito melhor. Se os fabricantes se dedicassem a produzir e a publicitar roupa gira e confortável para todos os corpos em vez de roupas para adolescentes sem seios nem ancas nem rabo nem coisissima nenhuma, vestidos por modelos adolescentes com um índice de massa corporal condizente com a idade, o movimento de libertação teria dado um passo gigantesco. É que ninguém se consegue sentir bem se não se sentir bem na sua pele e feliz com a sua imagem.

Adoro este quadro do colombiano Botero, é tão lindo, tão sereno, tranmite uma aura de satisfação, de contentamento consigo própria que realmente me comovem. Ele diz que gosta de pintar gente gorda por causa do seu ar feliz, sereno, por causa da boa onda que transmitem. E ele tem razão. Não se deve deixar de produxir o XXL. Deve-se é partir de si próprio para se sentir feliz de belo de dentro, independentemente dos kg que se tem. Afinal, está tudo na mente. Ou vão-me dizer que a menina não é linda? Ai não? Mentirosos.

3 comentários:

Unknown disse...

Sociedade magnifica em que vivemos!!!!!
Antigamente gordura era formosura...agora é um sufoco com o excesso de peso em adultos e em crianças. Uns meses depois de ter o teu sobrinho, eram constantes os comentários de que eu estava gordinha. Pudera, tinha parido uma criança de 3kg e 700 uns meses antes e até nem estava muito gorda. Ao longo da gravidez, engordei 11 kg. Já ouvi falar em amigas que engordaram para cima dos 20 kg e sei de algumas que conseguiram chegar aos trinta. O facto de eu ser gulosa e comilona também não ajudaram na recuperação da "linha". Tu conheces-me e sabes que eu prefiro comer do que ficar a pensar "que bem que aquilo me sabia". Fiquei um pouco triste porque alguns comentários vieram de pessoas próximas. Ao fim de 16 meses já me consigo enfiar em alguma roupa pré-gravidez. Tenho uns "pneuzinhos" mas não me importo.
Em relação às crianças, também é uma tirania. O único ralhete da médica em relação ao Gui tem a ver com o peso. "Ele está óptimo, bem desenvolvido, é uma simpatia, MAS tem um pouco de peso a mais para a altura dele. Não quero que deixe engordar este menino que ele é tão lindo!!!". Já disse várias vezes que eu era assim quando era da idade dele e que nem por isso sou gorda agora... Ele como é filho de peixe é um comilão, sempre foi.´è capaz de chorar mais com a fome que com alguma queda.
Pois é, minha querida, o mundo só quer XS ou S, M no máximo(e este não há-de ser muito avantajado, tipo Mango e Zara)... O resto que se dane...
Uma frota do costume
C.
PS - Telefona-me. 'tou com sôdades :(

Rosmaninho disse...

Delicioso. Eu levei anos a escapar da pressão e, agora, finalmente, sinto que tenho os mesmos direitos que outra qualquer com menos quilos, incluindo o direito de amar. O que é triste é o tempo que se perde até perceber isso.

Passionária disse...

Ah, rosmaninho, os anos que demoramos a perceber isso, e toda a dor e ódio por nós próprias que está pelo caminho...